Semana decisiva

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Iniciei a semana com a certeza de que está seria a última que passaria aqui em casa de Rodolffo.
Não tenho passado muito bem por conta de não estar me alimentando como deve ser.
Pedi a Clara para comprar umas frutas e basicamente tem sido a minha alimentação mesmo ela estando sempre a ralhar comigo.

Saí de casa por volta de 9 horas, Rodolffo ainda dormia.
Pedi um carro de aplicativo e dei o endereço. O meu destino seria o colégio das madres franciscanas que havia mesmo à saída da cidade.
Eu conhecia muito bem a madre superiora por conta de algumas acções de voluntariado. Ficamos amigas e sempre ajudávamos uma à outra.
No colégio eram acolhidas crianças, meninas apenas, de todas as raças e com idades até 18 anos. Geralmente eram orfãs dos dois pais ou só de um mas com um passado familiar não muito recomendável.

Chegando lá fui logo recebida pela madre superiora e ao vê-la desatei a chorar.
Vem filha  conta-me o que te aflige.
Eu contei e pedi para ela me acolher durante um tempo. Claro que eu pagaria pela hospedagem e ainda ajudaria no que fosse preciso.

Ficou combinado que eu iria no sábado seguinte e pedi que ela não comentasse com ninguém já que eu tinha várias amigas que faziam voluntariado também.

Regressei a casa e quando o carro de aplicativo chegou vi Rodolffo na àrea externa. Ele se dirigiu a mim.
Porque não saíste com o teu carro?
O carro é teu  foste tu que compraste.
Mas eu dei-to. É teu.
Não respondi e segui para o meu quarto.

Mais uma noite sem dormir.  Desde a data do término era assim. As noites eram passadas sentada no sofá da varanda contemplando a lua.
Por vezes cochilava mas era raro.

Na manhã seguinte depois de ter feito a minha higiene ia a descer para ir à cozinha e escuto ele conversando com Clara sobre os shows. Do alto da escada tinha uma visão completa da cozinha.  Era uma àrea aberta. Clara olhou para mim.

Vou dar uma de doida pensei. Quero ver até onde ele se importa comigo.

Fui descendo a escada e já no penúltimo degrau fingi um mal estar e fui deslizando agarrada ao corrimão,  me ajoelhei no último degrau e deixei meu corpo cair como num desmaio.

Juliette! Ouvi Clara chamar.
Num instante os dois estavam ao pé de mim.
Rodolffo dava palmadinhas na minha cara, Clara estava em pânico.
Amor, volta. Ju reage.
Amooorr!!!
Clara traz àgua pediu ele pegando em mim e levando-me para o sofá.
Clara trouxe a àgua e ele molhou minha testa e face.
Aos poucos comecei a reagir antes que eles inventassem de me levar ao hospital.

A seguir ouvi uma bronca de Clara sobre não me alimentar. Ele ouvia tudo e tentava assimilar.

Já estou melhor, posso ir para o meu quarto?
Não sem antes comer disse Clara.
Só café e mamão por favor.
Estás a ver Rodolffo... é isto todos os dias e por vezes só come de manhã.

Acabei de comer e subi para o meu quarto. Não passou 5 minutos ele bateu na porta.
- Posso?
- Entra.
- Flor, não é porque terminámos que vais prejudicar a tua saúde.  Não comer e ficar enclausurada neste quarto não faz bem para a saúde física e mental.
- Quando descobrimos que durante 5 anos vivemos uma mentira isto acaba por ser o menor dos nossos pesadelos.
- Mas não foram 5 anos de mentira, não.  Houve muito amor.
- Que acabou de um dia para o outro.
Ele ficou calado olhando para o chão.
- Podes sair por favor?
Ele fez menção de me dar um beijo na face mas eu desviei.
- Sem hipocrisia. O que eu menos preciso é que tenham pena de mim.
Ele saiu e eu desabei no choro.

Eu fiquei realmente preocupado com o desmaio dela e também por saber que ela não está se alimentando.
Queria que ela ficasse bem. Não queria um término com tanta mágoa mas ela fechou-se e não conversa.
Está semana temos shows até sábado.  O de sábado termina cedo então quando chegar vou tentar conversar.
Já faz mais de 15 dias que ela não me acompanha nos shows. E porra, eu sinto a falta dela.
Ela sempre me parabenizava no final de cada espectáculo mesmo quando alguma coisa não corria bem ela sempre estava lá para me incentivar a continuar. Mas eu decidi assim, não me posso queixar.
Por enquanto vou continuar sem acessora. Não vejo outra no lugar dela.

ClausuraOnde histórias criam vida. Descubra agora