Sábado

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Acordei com uma sensação boa.
Não sei bem porquê mas acho que a minha vida está prestes a mudar radicalmente, então vamos dar um empurrão.
- Pedro, corte radical.
- Estás doida? Corte radical nesse cabelão. 
- Rodolffo aprova?
- Rodolffo não tem voto na matéria.
- Santíssima Trindade, vamos lá.

Cortei o cabelo curtinho mesmo  tipo rapaz, fiz as unhas naturais sem aquele negócio de gel pois ia ficar muito tempo sem acesso a estes luxos.
Passei no meu apartamento, peguei em alguns livros e voltei para casa.

Quando Clara me viu ia tendo um treco.
- Menina tu não fizeste isso?
- Fiz, Clara, e estou me sentindo muito bem.
- Clarinha,  tu sempre foste minha amiga desde que eu vim morar aqui.
Hoje é o último dia em que nos vemos. Amanhã quando chegares já não estarei cá. Não te preocupes, eu ficarei bem. Preciso de recomeçar e não pode ser aqui.
Quando tudo passar talvez volte mas, sempre te levarei na lembrança e se eu precisar é a ti que vou pedir ajuda. Se tu precisares deixa uma mensagem no meu direct. Não vou usar as redes sociais mas uma vez por outra vou ver.
Clara chorava. A abracei durante um tempo, dei um beijo na sua bochecha e subi para o quarto.

Peguei a mala mais pequena, separei algumas peças de roupa mais desportivas, roupa interior, 3 vestidos básicos, 2 casacos de frio, pijamas, 2 ténis, 1 par de sapatos e 1 sandália. Itens de higiene e 2 perfumes.

Eu tinha um bom pé de meia, muito pelo bom salário que tinha na multinacional e também pelo salário de acessora. Rodolffo fazia questão de pagar todas as minhas despesas pois dizia que era obrigação do marido. O meu salário era todo investido.
Em face disto tudo o que eu tinha havia sido comprado com o dinheiro dele.
Só iria levar o básico e algumas coisas que já eram minhas.
Os vestidos e sapatos de griffe iriam ficar assim como o carro.

Recolhi algumas fotos nossas que havia pela casa. Elas só tinham significado para mim então as levaria. Dei uma volta geral pela casa e constatei que precisamos de tão pouco para sermos felizes. Temos muitos bens materiais mas os que nos aquecem o coração por vezes cabem na palma da mão.

Eram 16 horas, faltava uma hora para o show de Rodolffo terminar. Chegaria em casa por volta das 19 horas já que o espectáculo era numa cidade bem perto.

Fui ao escritório e comecei a escrever uma mensagem. Ainda gosto de papel e caneta para certas coisas.

Rodolffo

Quando chegares já não estarei aqui.
Hoje termina verdadeiramente esta parceria de 5 anos. Parceria sim porquê neste momento não lhe consigo chamar relação.

Foi linda e muito verdadeira (da minha parte). Se pudesse escolher faria tudo igual.

Levo uma mala com pouca coisa. Levo outra mala invisível com alguma mágoa, raiva mas muita saudade.

Levo um dos teus moletons e o teu perfume Valentino. Preciso deles para me sentir abraçada à noite.

Deixo nesta casa uma parte de mim.
Na decoração,  no jardim, enfim.

Deixo os meus vestidos chiques, os sapatos, as bolsas, os óculos  a bicicleta, o carro pois foi tudo comprado por ti. São teus.

Deixo todas as joías que me ofereceste. Não conseguiria olhar para elas sem lembrar dos momentos especiais que vivemos.
Quem sabe possas oferecê-las à dona do teu coração.

Deixo um beijo à tua família quando ela perguntar por mim.

Hoje sinto que parto leve, despojada de tudo

Continua fazendo o que te faz bem. Cantar.
Sê feliz
Lá mais para a frente que os nossos momentos sejam para ti uma feliz lembrança pois para mim serão com certeza uma eterna saudade.

Amo-te

ClausuraWhere stories live. Discover now