De repente alguma luz

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Coloquei a correntinha no seu pescoço e ela segurou nas figurinhas. -  São tão lindas.   Gosto muito.

- É tua. Estava aí há muito tempo.  Comprei depois de um sonho que eu tive, numa época em que estávamos separados.  Era uma altura triste para os dois.

- Era como agora? Perguntou ela olhando nos meus olhos.

- Não.  Agora estamos juntos e com os nossos filhos.  Não está tudo bem mas não somos infelizes.  - Tu estás triste?

- Sim.  Eu queria-me lembrar das coisas, mas eu não lembro.  Eu não lembro de nós.  Só me lembro do teu cheiro gostoso.  Mas eu queria lembrar mais coisas.

As lágrimas teimavam em surgir nos olhos dela.  Puxei-a para o meu peito e abracei-a forte. - Amo-te tanto, digo dando um selinho demorado.

- Eu gosto quando dizes isso.  Sinto uma coisa gostosa no meu coração.  

Abri a caixa, tirei as flores secas, uma a uma,  com cuidado e comecei a ler as mensagens.   De vez em quando um flash vinha na minha cabeça.
Eu já tinha visto aquelas flores e mensagens nalgum lugar.

- Eu já vi isto, só não lembro onde.  Diz ela a cada mensagem que lia.

Houve duas mensagens em que ela ficou a olhar para elas mais demoradamente.
A primeira dizia, "hoje estaríamos de parabéns" e a outra " hoje senti o teu cheiro".

- Tu és cantor?  Pergunta ela de repente como se se tivesse feito luz.

- Sim. Sou cantor. Tenho uma dupla com o meu amigo Miguel.

- Eu lembrei de um show.   - Eu já fui nos teus shows?

- Sim.  Muitas vezes.

- Mas eu não me lembro de ir contigo.   Eu fui com umas meninas e elas gostaram muito.  Eu também lembro de ter gostado e ter ficado feliz na hora.  Mas, à noite eu chorei muito.

Fiquei muito feliz por ela ter estas lembranças.  Como disse a médica,  com paciência vamos lá.  Hoje já foi uma grande vitória.

- E estas flores estão aqui porquê?

- Porque nessa altura em que estávamos separados,  por causa da minha idiotice,  eu oferecia-te uma flor todos os dias mesmo que não fosse pessoalmente.  Era para me sentir mais perto de ti e para te dizer que nunca deixei de te amar.

- Tu és muito romântico.

Ela colocou a mão na minha face, aproximou o rosto ao meu e deu-me um beijo.  Era o primeiro gesto de carinho espontâneo da parte dela.
Se ela soubesse o significado que isso tem para mim.   Neste momento este gesto foi melhor que a melhor noite de sexo que porventura já tivemos.
Tem um significado para mim que não sei descrever.

- Amor,  já chega de emoções.  Vamos guardar tudo.  Depois continuamos a ver outras coisas.   Logo hás-de lembrar-te desta casa, das nossas coisas, dos nossos filhos e amigos.

- Agora eu quero descansar.  Mas eu quero tu, Gabriel e Violeta tudo na cama comigo.

- Tudo?  Mas assim não descansas.

- Mas eu hoje sinto-me bem.  Eu quero só um pouquinho por favor.

Fui buscar as crianças e lá fomos todos para a cama.  Logo estavam os três a dormir.  Fiquei durante algum tempo observando a minha família.
Se não fosse este contratempo estaríamos completamente felizes.

Haviam passado quinze dias. A conexão de Ju com o filho era perfeita.  Com Violeta então nem se fala.  Estava a faltar nós dois.  Nos momentos a sós havia alguma intimidade mas da parte dela ainda havia um bloqueio.
Sentia tanto a falta dela mas não podia forçar, por ela estar de resguardo, e, pela condição da amnésia.   Eu sou paciente.

Hoje,  Violeta foi para os avós.  Eles adoravam a menina.  Era mais neta do que se fosse de sangue.

Clara já tinha ido embora e Gabriel como sempre,  depois de alimentado e fralda limpa, dormia o seu sono de  beleza.

Enchi a banheira com àgua quentinha,  coloquei uns sais com aroma de alfazema e convidei-a para um banho a dois.
Sentei-a na minha frente,  entre as minhas pernas e fiz uma massagem nos seus ombros.   Ao mesmo tempo dava beijinhos no seu pescoço e sussurrava coisas lindas ao seu ouvido.
Senti-a totalmente relaxada.  Virou-se de frente para mim e entre muitos beijos e carícias nos amámos com as restrições que tínhamos.

- Amo-te,  disse ela. - um amo-te dela depois deste tempo todo soube muito bem.

- E eu a ti. Amo-te muito.

Fomos dormir abraçados.
Juliette teve uma noite muito agitada.  Dizia coisas imperceptíveis   gesticulava muito e por vezes gemia.  Não gemidos de prazer mas de dor.
Eu abraçava-a e ela acalmava mas pouco tempo depois voltava ao mesmo.

De manhã quando acordei ela já estava levantada e a tomar banho.

Quando chegou ao quarto perguntei como se sentia.

- Acordei muito cansada.   Parece que me passou um tractor por cima.

- Tiveste pesadelos.  Estavas agitada.

- Mas apesar de cansaço sinto a cabeça mais leve.  Acho que hoje o dia vai ser bom.

- Vamos sair os três?   Vamos à pracinha apanhar um pouco de sol.  Podemos almoçar fora, há tanto tempo que não fazemos.

- Vamos sim, diz ela com entusiasmo.   Vou preparar a mamadeira do Gabriel.  Vai tomar banho enquanto.

Levantei-me,  dei um selinho nela e fui fazer a minha higiene.

Depois de prontos,  café da manhã tomado lá fomos os três.   Queria ter aqui a minha filhota mas hoje iria aproveitar  muito a minha mulher e o meu filho.
Muitos outros dias viriam para aproveitar-mos os quatro




 

ClausuraWhere stories live. Discover now