𝟎𝟏𝟗. arrependimento

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Tento ao máximo não lembrar da noite de ontem, mas é inevitável. Seus toques ainda estão no meu corpo, misturados com o frio da sua pele e as chamas do meu corpo. Eu odeio Aiden, com todas as minhas forças e me recuso eternamente a oferecer minha dignidade novamente.

- Quem está te treinando? - Cris perguntou, enquanto caminhava ao meu lado. Esqueci de mencionar que ele era o meu novo guarda-costas. Ele é acima do nível elite, então não foi necessário que outro lobo nos acompanhasse.

- Negraes - Quando eu citei o seu nome, a expressão do lobo mudou, pelo visto Cris conhecia ele.

- Como você conseguiu que ele te aceitasse? - Perguntou novamente, mas dessa vez com mais curiosidade - Para que ele pudesse me treinar, fiz milhões de favores.

- Bom, eu estava bêbada no bar, quase chorando. Eu acho que ele sentiu dó - Eu disse.

- Impossível, Negraes não demonstra piedade por ninguém - Cris parecia saber muito sobre Negraes - Acredito que ele tenha visto potencial em você.

- Talvez.

Potencial? A única coisa que me fazia continuar, era a sede de vingança que sempre circulava no meu sangue, como se fosse uma marca irreversível. Não demorou muito para a gente chegar no local esperado, Cris ficou afastado e eu me aproximei.

- Chegou seis minutos adiantada - Avisou, com a mesma voz assombrosa de sempre.

- Isso é bom?

- Sente-se - Ordenou e eu obedeci - Sinto o cheiro daqueles demônios impregnado na sua pele - Ergui a sobrancelha, sentindo a vergonha atravessar meu corpo - Apesar de não ser um lobo, sou filho de uma e tenho um ótimo olfato.

Me mantive calada, desejando morrer neste exato momento.

- Tome cuidado, Nora - Ele ergueu a cabeça e fitou seus olhos nos meus - Vampiros são traiçoeiros, na primeira oportunidade acabam com a nossa vida.

Engoli seco, tentando diluir a minha vergonha. Maldita hora em que eu deixei Aiden me tocar. Me odeio por isso.

Hoje o tempo estava pior, o frio congelava meus dedos, impedindo que eu segurasse a espada de forma correta

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Hoje o tempo estava pior, o frio congelava meus dedos, impedindo que eu segurasse a espada de forma correta. Negraes tinha uma resistência espetacular, apesar de seus lábios estarem roxos e seus cílios congelados, ele conseguia se manter em pé.

- Ótimo, você já está aprendendo - Murmurou e eu consegui sentir o orgulho na sua voz - Acho melhor pararmos por aqui.

- Não! - Pedi - Eu posso continuar.

Minha respiração estava compassada, cada fungada era uma dor diferente. Negraes olhou para mim e apenas fez um sinal para que eu passasse.

- Eu preciso continuar - Tentei pegar a espada que tinha caído no chão, mas suas mãos ríspidas me pararam - Negraes...

- Se você continuar, amanhã não vai conseguir ficar em pé - Esbravejou - Um soldado sabe reconhecer seu tempo!

Meus lábios tremiam instantaneamente, por conta do frio intenso. Flocos de neve caíam na grama pequena. Já não sinto mais os meus membros e quando noto, estou caída no chão.

Braços quentes me envolvem, aquecendo meu corpo novamente. O cheiro de terra molhada atingiu meu nariz e isso me acalmou.

- Está tudo bem? - Cris perguntou.

Assenti, enterrando meu rosto no seu peito. Me pergunto como deve ser bom ter um corpo tão quente, neste clima intenso. A cada dia que passa, eu odeio o frio cada vez mais e o que eu mais desejo neste momento, é uma gota de álcool para aquecer meu corpo gélido.

A vibração começa a surgir por conta dos passos rápidos e largos, meu corpo balançava de um lado para o outro. Normalmente o tempo para percorrer este caminho era de 15 minutos, porém o tempo parecia ter sido reduzido para 3 minutos. Não demorou muito para chegarmos na vila.

- Nora? - Ouço a voz de preocupação e rapidamente reconheço Dylan. Ele se aproximou cada vez mais - O que aconteceu?

- Cris! - Gill se juntou e colocou suas mãos quentes no meu pescoço - Eu pedi para que você cuidasse dela!

- Perdão, pai. - Cris Murmurou. Seus braços me apertaram com mais força e eu agradeci por isso.

Seus passos se chocaram novamente contra a neve espessa, provavelmente deixando pegadas. Um ápice de felicidade atingia meu corpo, por conta do aquecimento natural, eu poderia ficar horas agarrada em seu corpo.

Ele entrou dentro de uma cabana pequena, que cheirava a lavanda e me deitou sobre a cama feita de pelagem de urso.

- Não se preocupe - Disse, se afastando - Seu corpo vai estar ótimo daqui algumas horas.

Cris pegou duas ervas que estavam alojadas em um ponto transparente e colocou dentro da boca. Seus dentes amassaram a planta deixando em uma consistência pastosa. Logo ele jogou dentro de uma cumbuca e misturou com um pó fino.

Suas mãos quentes se apossaram do meu corpo, espalhando a pasta verde. O cheiro inundou a pequena cabana, deixando um pouco enjoativo.

- Como você consegue viver entre vampiros? Eles são tão egocêntricos - Cris disse, começando uma conversa. Ele se sentou ao meu lado e compartilhou um pouco do calor que emanava da sua pele bronzeada.

- Eu não tenho escolha - Admiti - Eles são meus aliados e querendo ou não, já me salvaram diversas vezes. Sou grata.

Apesar de nunca dizer isso aos dois irmãos, eu sentia um pouco de gratidão por eles e até um sentimento a mais por um deles.

- Para uma humana, deve ser difícil aturar esse frio - comentou.

- Antes eu gostava quando ficava frio, eu podia usar meus vestidos longos, cheio de babados - Desabei e o sorriso fugiu dos meus lábios - Mas hoje em dia, já não sinto toda essa emoção.

- Quando o tempo tende a piorar, temos que cuidar dos mais frágeis. Mulheres, crianças e senhores de idade, esse é o nosso dever, precisamos protegê-los.

- Você não se sente sobrecarregado?

- Não tenho muito tempo para pensar nisso, na maioria das vezes estou completamente ocupado, por eu ser filho do comandante, tenho que dar bons exemplos.

- Pelo visto, malvolia não pensa do mesmo jeito - Aquelas palavras saíram da minha boca, antes que eu pudesse contê-las.

Cris crispou as sobrancelhas volumosas e desviou o olhar entristecido.

- Malvolia tem suas próprias batalhas, ela já passou por muitas situações severas, por isso é mais fechada e mandona.

- Desculpe... - Ele se aproximou e cobriu meu corpo com um lençol quente, logo se levantou e foi até a saída.

- Esqueça isso.

𝐈𝐦𝐩é𝐫𝐢𝐨 𝐒𝐚𝐧𝐠𝐫𝐞𝐧𝐭𝐨Where stories live. Discover now