𝟎𝟏𝟔. Provocação

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Por favor, não seja um leitor fantasma.

Estou cambaleando de um lado para o outro, sentindo minha cabeça ferver. Esse era o resultado, depois de passar a noite toda bebendo. De qualquer forma, eu tinha algo importante para fazer.

Depois de passar a noite inteira insistindo para que Negraes me treinasse, ele aceitou, mas não parecia estar feliz com a ideia. Eu me identifiquei com ele. Estamos em volta de seres superiores e maiores que nós, então tínhamos que aprender a estar no mesmo nível, mesmo que isso seja quase impossível.

Sem os meus poderes despertados, eu era apenas uma humana comum, envolvida com coisas maiores, minha vida estava em risco e eu não poderia depender de Aiden e Dylan pelo resto da minha vida.

Antes de sair do quarto que estou hospedada, lavei meu rosto com água gelada, para tentar afastar a ressaca, mas ela insistiu em grudar no meu corpo.

Negraes me mandou aparecer em um local específico, mas como eu não sabia como chegar até lá, pedi diversas informações.

Me aproximei do lugar que ele havia marcado nosso encontro e me deparei com ele sentando em uma rocha, amolando uma espada brilhante.

- 3 minutos atrasada - Seu timbre era ríspido, como se ele estivesse me dando uma bronca - Como pretende se tornar uma mulher forte, se nem consegue chegar no tempo certo?

- Desculpa - Murmurei.

Ele ergueu a cabeça e olhou em meus olhos, Negraes se levantou e deixou sua espada de lado.

- Eu espero que esteja pronta.

- Segure essa espada direito! - A voz de Negraes era firme e impaciente - sua pegada tem que ser firme - insistiu ele, pela terceira vez - Suas mãos ainda estão tremendo

Estou nervosa, é verdade, e o frio da ansiedade percorre minha espinha. A espada em minha mão, grande e pesada, parece ganhar vida própria, sua ponta fina capturando a luz e brilhando como um aviso.

- Postura! - Negraes se aproximou, suas mãos pesadas como chumbo no meu ombro, forçando-me a endireitar. - Já falei pela décima vez, não curve os ombros!

- Mas essa é minha primeira vez! - A irritação borbulhou dentro de mim, e minhas palavras saíram como um sussurro furioso. - Será que tem como você pegar leve?!

- Eu avisei que seria intenso - a voz dele era um trovão, inabalável. - Você insistiu. Então agora, ouça e execute, sem reclamar.

Engoli seco e executei a posição que ele havia exigido, não estava da forma como ele tinha pedido, percebi isso por conta da sua expressão de decepção. Negraes pegou sua espada e deu um exemplo de como deveria ser. Observei atenta e tentei refazer a postura.

- Coloque a mão direita na parte superior do cabo e a esquerda na parte inferior, próximo do pomo - orientou ele.

- Ok - Eu disse, seguindo suas dicas.

Negraes observou a forma como eu segurava a espada, dessa vez sua cara não era de decepção, mas também não carregava uma aprovação.

- Mantenha a espada na frente do corpo, com as duas mãos, e a lâmina perpendicular ao chão. Isso permite reagir rapidamente aos ataques ou defesas - Negraes ergueu a cabeça, me analisando - Ótimo.

Uma onda de satisfação atingiu meu corpo.

- Fique com o pé esquerdo à frente do direito, em um ângulo de 45°. Isso cria uma base firme e oferece apoio para movimentos ofensivos ou defensivos.

Eu estava convencida de que, após dominar aquela posição desafiadora, Negraes finalmente me permitiria enfrentá-lo em combate. No entanto, ele tinha outros planos. Horas se passaram, e nós estávamos imersos na mesma rotina exaustiva de treinamento. A cada movimento repetido, eu me perguntava se ele já não estava satisfeito com meu progresso. "É essencial", ele insistia, "repetir até que cada técnica se torne uma extensão do seu ser, até que a memória muscular se solidifique."

Finalmente, ele declarou o fim da sessão.

Meu corpo clamava por descanso, mas minha mente se recusava a ceder. Eu ainda ansiava por mais, por melhor. Com um suspiro pesado, deixei-me cair, as costas encontrando o tronco áspero da árvore.

Negraes, imperturbável, ergueu-se e, com movimentos precisos, prendeu as duas espadas à cintura.

- Não se acomode, Garota - ele advertiu, sua voz tão firme quanto sua determinação - Amanhã, no mesmo horário. Se chegar atrasada, prepare-se para reviver cada segundo deste treinamento.

Negraes se retirou do local me deixando sozinha. Está quase anoitecendo, as nuvens estão alaranjadas, passando um sentimento melancólico. Me levanto, apoiando-me na árvore. Eu preciso de um banho.

Após seguir o som da água caindo, me deparo com uma cachoeira deslumbrante. Sem hesitar, retiro minhas roupas e mergulho nas águas cristalinas. Apesar do frio, o calor do meu corpo é suficiente para me proteger do choque térmico, e não sinto desconforto.

Submerjo minha cabeça sob a queda d'água e lavo meus cabelos com uma erva aromática que boiava na superfície. Meus dedos deslizam pelo couro cabeludo, massageando-o suavemente, trazendo uma sensação de conforto e tranquilidade.

Quando percebo, já estou quase adormecendo na água, o que é um perigo extremo. Saiu da cachoeira, antes que eu pudesse dormir. Recolhi minhas roupas e comecei a me vestir.

Ergo a cabeça quando noto o moreno se aproximando.

- Está me seguindo? - Minha voz saiu mais fraca do que pretendia, traída pela súbita proximidade dele.

- Só queria ter certeza de que você está bem - Aiden se aproxima, e há uma suavidade inesperada em sua voz, um contraste com seu olhar intenso - Porque ficou o dia inteiro fora?

- Isso realmente te importa? - Perguntei desafiadoramente, apesar do tremor em meu coração - Você sequer gosta da minha presença, deve ter ficado muito feliz ao saber que eu não estava atrás de vocês.

A luz da lua iluminava o rosto dele, deixando seus traços mais atraentes. Observei seu pomo de Adão subir e descer, um sinal revelador da sua própria luta interna.

Eu poderia ignorá-lo pelo resto do dia e mesmo assim, quando ele aparecesse na minha frente, os sentimentos iriam retornar.

- Eu estava treinando, com Negraes - A confissão escapa dos meus lábios antes que eu possa contê-lá

- Porque você está treinando? sabe muito bem que Dylan e eu iremos protegê-la - Aiden avança, suas mãos alcançam meus cabelos molhados, e sinto um arrepio percorrer minha pele.

- Não quero depender de vocês - Minha voz é firme, mas meu corpo traí a determinação das minhas palavras - Quando eu conseguir meu reino de volta, vamos seguir caminhos diferentes.

- Faça o que bem entender - Aiden recua, mas há uma tempestade se formando em seus olhos.

Tentei me afastar, mas suas mãos agarram meu pulso com uma força que me surpreendeu, seu toque é frio, quase congelando meus ossos.

- Você pelo menos tem consideração - Sua voz é um rosnado baixo, e há uma ameaça em suas palavras - Você não sabe quantas pessoas eu matei, para te manter em segurança!

- Não me importo com isso - tentei me desvencilhar, mas era quase impossível. Meus músculos estão dormentes por conta do treinamento severo - Vai me punir por isso?

Aiden ergueu a sobrancelha, fitando meus olhos.

- Talvez eu devesse invadir seus sonhos novamente e fazer com que você implore para eu parar - Aiden sussurra, eu consigo identificar a ameaça sedutora em sua voz e não consigo conter as chamas que me invadem.

Empurrei seu corpo, me soltando da prisão de seus braços.

- Faça isso - Minha provocação é um sopro, mas carrega toda a minha vontade férrea - E eu prometo enfiar um punhal em seu peito.

- Eu adoraria ver você tentando - Seu sorriso é desafiador, e algo dentro de mim se acende com a promessa de um confronto

Seus lábios foram umedecidos pela sua língua afiada, que sempre me insultava. Engoli seco por conta do seu sarcasmo, ele sempre conseguia me deixar nervosa, com seu humor ácido.

- Isso é uma promessa - Praguejei, antes de me retirar do local.

O que vocês acharam deste capítulo?
E qual vocês preferem, Aiden, Dylan ou Cris?

𝐈𝐦𝐩é𝐫𝐢𝐨 𝐒𝐚𝐧𝐠𝐫𝐞𝐧𝐭𝐨Where stories live. Discover now