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O sonho não quer dizer nada. 

Ella

Quase real, foi perto demais para sentir que tudo podia acabar comigo, como o meu outro afogamento. As ondas de desespero por perder o que ainda eu não havia conquistado, carregava as partes que mais doía em mim, para o meu túmulo de sofrimento. Restando outra parte, que faltava menos de dois por cento para ficar danificado.

Eu desistia da luta, a medida que meus olhos começaram a desistir de continuar vivos. Eu me via em linha de frente da guerra, exposta ridiculamente com poucos armamentos que pudessem me ajudar na batalha, tentando evitar que alguma parte de mim não se machucasse tanto. Eu joguei fora tudo o que me protegia, o sentimento de dentro era a minha proteção, o que me salvava na hora.

Por pouco, por muito pouco, eu não deixei de continuar vivendo o romance que eu criei na minha cabeça. Eu tinha improvisado alguma coisa que deu certo no momento, como achar que ainda tinha esperança nós dois, e isso fortaleceu o que morria profundamente em mim. E se eu tivesse perdido a esperança, naquele instante a minha vida não faria sentido.

Ainda estou superando este sonho enigmático, que mesmo depois da maior parte da manhã e um chá não foram suficientes pra ajudar a dilatar o meu raciocínio, e me fazer entender o que significa. Se eu soubesse que um sonho fosse me deixar em choque, ao ponto de minhas pernas formigarem em uma posição cruzada e sem se mover nunca, eu não teria misturado livro de romance com filme de terror antes de dormir.

A superfície, desse desentendimento entre eu e o meu lado que ficou confuso, me atormenta de uma forma estranha que... Eu acabei criando uma desculpa pra não ir a Carolina do Norte com meus pais. Mas eu também não queria ir, marquei com Ben a minha aula já que há cinco dias ele pediu um tempo sozinho, e nesses dias só tive uma mensagem sobre escola dele e mais nada. E esse fim de semana é nosso, a retomada oficial das aulas. 

Calar mentalmente, bloqueando qualquer indícios de imagens do que vevi durante meu sono, é uma ótima estratégia para esquecer e levar este dia como um dos melhores. Eu preciso de algo que encha minha cabeça, que não seja o pavoroso e sem sentido sonho. A minha mensagem enviada, já respondida por Ben, há quase trinta minutos, é a minha fugidinha que fará esquecer o meu pesadelo.

Coloco uma roupa comum, me animando pra aula e descendo a escada com meu tênis rangendo o piso. Paro, imediatamente, vendo Ben na minha sala, segurando um porta retrato, distraído na foto. Faço um barulho desnecessário assim que piso o chão, depois do último degrau. Ele se vira, sorrindo enquanto me olha e põe de volta a foto no lugar. A minha foto com três anos.

— Você chegou rápido — falo, de frente a ele.

— Estava ansioso pra te ver. — Sua nuca é tocada por sua mão e suas pernas se movem, inquietas. Ele sorrir outra vez, sem me olhar. — Ansioso pra te ver, Ella. Não pra te ajudar a bater, quem sabe em um poste hoje.

— Se você deseja isso. — Soco seu ombro direito e ele me olha.

— Não fala mais isso, por favor. — Ele passa seus braços na minha coluna, apertando em um abraço. Uma mão sobe ao meio das costas, e aqui aperta um pouco mais. Sua cabeça se mexe, ficando em meu pescoço, próximo ao meu ouvido. — Você é doida. — Seu sussurro, com a respiração saindo por entre as palavras, parecem chorar internamente.

Afasto ele de mim, e encaro seu rosto branco, que se desmancha em uma expressão desanimada. Faço me olhar, erguendo seu queixo com meus dedos. Ben sorrir, mesmo com as pontas querendo se soltar e revelar uma ferida.

— O que você tem? Você não é assim. — Acaricio sua bochecha. Ben está estranho. Conheço o meu amigo, tem algo errado. — Quer conversar?

— Não é nada. — Ele olha pra trás e coça rápido a testa. Coloca uma mão no bolso e a outra segurando a minha. — Vamos? Ou já desistiu de me deixar preocupado?

Uma Única VerdadeWhere stories live. Discover now