39

571 41 58
                                    

Estou certa das minhas incertezas.

Ella

Seu olhar caído, com as pálpebras inferiores tremendo enquanto desce o meu corpo e sobe, sorrindo e mordendo os lábios. A sensação de repulsa não impede os meus dois passos de se recuarem. Seguro o braço de Ben, apertando meus dedos em volta dele, como se eu estivesse me prendendo.

Lembro da última experiência horrorosa que tive com ele. Um pesadelo real onde me sentir humilhada, traída, enganada, por duas pessoas que eu amava. Abro meus olhos, depois de recriar a noite, a cena dele me traindo. Quase me derrubo no chão com minhas pernas fracas e dormentes.

— Oi, Ella. Nossa, quanto tempo. — Seus passos a mim me estremece. Afundo meus dedos na pele de Ben. — Quantos meses da última vez? — ele quer saber de uma data que ele mesmo estragou.

— Eu não sei. Mas foram os melhores pra mim, sem você neles. — Um frio congelante sobe meus pêlos, deixando frenético meus dentes. Não sei se é mesmo o frio ou o fato da presença dele me incomoda.

— Finalmente pude te encontrar. — Seu sorriso por baixo dos lábios finos, me deixa enjoada.

— Não entendo a sua animação. Se eu soubesse que estaria aqui, com certeza eu teria pulado do carro na estrada. — Ele caminha um passo a frente. — Pare!

— Calma, eu não vou fazer nada. — Sua voz é grossa, mais do que eu lembrava. — Você não retornou minhas mensagens.

— Eu não tenho que retornar. — Ergo minhas sobrancelhas, balanço a cabeça em descrença. — Olha, eu não tenho que estar aqui falando com você, Caian. Faz uma coisa pra mim... — Suspiro. — Nunca chegue perto.

— Separei de Petra, estou só.

— Esse é um problema seu — penso na gravidez dela, que foi abandonada por ele, mas isso não me interessa mais. — Vocês se merecem.

Algumas pessoas passam por nós, exibindo seus olhos curiosos e de sufoco por pouco espaço, percebo que estamos atrapalhando o caminho. Entrelaço meus dedos nos de Ben, me sentindo segura. Damos lugar para uma mulher de cabelo cacheado limpar a bagunça que fiz. Subo para o rosto de Caian, que não deixa de me encarar.

— Eu espero nunca mais te ver.

— Que isso? Não me trate assim.

— O que você esperava? Que eu guardasse um lugarzinho especial no meu coração pra você? — Arrisco meus passos. Olhando, diretamente, nos olhos dele. — Eu tenho nojo de você! Se você se aproximar outra vez, eu chamo a polícia.

— Você não faria isso.

— Não teste sua sorte.

Puxo Ben para dentro do cinema, ficando longe dele. Os degraus com carpete vermelho, chamativo junto com as poltronas escuras macias de veludo. Meus pés nervosos, descontando em cada passo que dou, tirando do lugar o que com certeza foi difícil de colocar, não ligo. Me sufocando com o ar que estava preso, consigo eliminá-lo agora, lentamente.

Nos sentamos na terceira fileira, quase vazia. Ainda meus pulsos queimam, meus lábios desgrudam a todo momento com minha respiração acelerada. Eu não queria vê-lo, isso causou e causa uma série de aborrecimentos, me esfolando debaixo de uma coberta. Tento me controlar. Ben segura minha mão, apertando a sua por cima, passando calor.

— Ei, você está bem?

Eu não sei se é capaz uma voz ter algum poder sobrenatural, se ela pode fazer o coração retroceder as batidas, cessando e acalmando em questão de segundos. Inesperadamente, sem ter alguma idéia de como surgiu essa coisa louca, de como me dei conta de que isso acaba de existir, eu acho que houve uma metamorfose gutural.

Uma Única VerdadeWhere stories live. Discover now