Impermanência (PT-BR) PARTE II

Capítulo 221

Uma rajada de vento sombrio, de repente, soprou na cidade de Fengdu. O sol ainda não havia se posto completamente no oeste. Durante a temporada de verão, deveria ser extremamente quente, mas todos sentiram um frio que escorria de seus ossos naquele momento, como fantasmas ferozes invisíveis passando por seus corpos. O vento girava na natureza, e tudo estava quieto. Todos sentiam como se enfrentassem um grande inimigo. Eles colocaram as mãos na espada e reuniram seu Qi, apenas com medo de algo sujo pegá-los desprevenidos. Afinal, esta era a cidade fantasma de Fengdu.

O sol estava se pondo e a estrada estava terminando. O sol poente cor de sangue tingia metade do céu, oprimindo constantemente o horizonte. A única luz que restava no céu era como um espadachim ferido lutando para brilhar, mas ele foi drenado da última gota de sangue e a escuridão surgiu.

As rajadas de vento eram incessantes, varrendo as folhas e entulhos da rua ao acaso. O som do farfalhar era como uma faca cega moendo carne. As grades e portas das janelas fechadas tremiam e balançavam com o vento, uma a uma. Aqueles escombros instáveis também faziam um som de trituração, como se algo fosse abrir a barreira da casa, quebrando as cascas dos seres humanos, rasgando e mordendo a tenra e deliciosa carne e sangue.

A escuridão desceu completamente, mas o Fengdu daquele dia tinha uma luz que não poderia ser extinta. No momento em que o sol se pôs no oeste, as lâmpadas brilhantes na cidade de Fengdu iluminaram uma casa após a outra, uma lâmpada após a outra, como se fossem tochas seguradas por seres celestiais iluminando a Via Láctea.

Elas eram as lâmpadas guiadoras da alma que os vivos deixaram para os mortos. O pavio da lamparina precisava ser embebido em sangue de vaca por 49 dias. O óleo da lâmpada era feito de óleo de cadáveres de animais. Não acendia durante o dia e, no momento em que caia a noite, queimava por conta própria e se apagava ao nascer do sol. Enquanto esta lâmpada estivesse pendurada na frente da porta, os entes queridos do falecido poderiam encontrar o caminho de casa. Sua chama era laranja e vermelha como sangue, e a estranha luz vermelha transformaria Fengdu vazia em uma cidade fantasma sombria durante a noite.

Todos já ouviram a história do Festival do Fantasma Faminto de Fengdu, mas ninguém o viu antes, exceto Xie Bi An e Fan Wu She, porque era um dia em que os vivos não deveriam sair, tanto para sua própria proteção, quanto em reverência aos os fantasmas.

Muitas das armas e tesouros mágicos com espíritos presos em suas mãos começaram a tremer levemente. Isso era um aviso para a energia Yin cada vez mais poderosa.

"A barreira de Fengdu está prestes a abrir." Xie Bi An murmurou preocupado.

Fan Wu She apertou o ombro de Xie Bi An: "Leve-me para dentro."

Xie Bi An se virou e olhou para Fan Wu She. Seus olhos brilhantes refletiam a luz vermelha da lâmpada orientadora da alma e coagulavam em uma gota de sangue no centro de sua pupila, o que adicionava um pouco de uma aura maligna. De repente, ele segurou aquela mão e disse suavemente: "Xiao Jiu, o irmão mais velho vai te levar para casa."

O corpo de Fan Wu She tremeu todo, seus olhos de repente se arregalaram.

Neste instante, uma enorme força "chocou" ferozmente no corpo de Fan Wu She!

O estado de espírito de Fan Wu She foi levado ao caos por aquele "Xiao Jiu". Seu estado de alerta estava um passo atrás. Seu corpo imediatamente endureceu e entorpeceu. Obviamente, os cinco sentidos ainda estavam ativos, mas não estavam sob seu próprio controle. Essa sensação era muito estranha, mas ele sabia muito bem o que está acontecendo. Xie Bi An deu a ele uma dose de seu próprio remédio. Ele estava possuído.

Aquele que foi capaz de possuí-lo não era um espírito maligno comum. Com certeza era a Patrulheira Noturna! A Patrulheira Noturna era muito boa nessa técnica. Ela usou esse truque quando os ajudou a escapar da cidade de Chidi. Controlar o cultivo decente do ancião da Seita Cangyu parecia ser fácil.