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Mazu

A voz sussurrou.
O chamado.

As pálpebras de Mazu se abriram no mesmo instante.

Em seus primeiros segundos com consciência, Mazu não sentiu nada. Bastou ter clareza de onde estava e quem eram as pessoas em sua volta que a dor de horas atrás retornou bruscamente. O príncipe tentou se mover, mas seus braços e pernas estavam presos a correntes revestidas de rislar. Mazu estava no topo do que parecia ser um altar localizado no centro de uma sala esférica com paredes e chão metálicos. O teto, abobadado, era atravessado por uma linha, como se tivesse sido projetado para se partir em dois. Em volta do altar, haviam painéis com vários botões os quais Mazu não fazia ideia o que faziam, mas sabiam a quem pertenciam. Armageddon.

— É bom ter você como convidado, príncipe —  Kondrak surgiu do canto mais escuro da sala.

Mazu tentou derreter as correntes usando seu estímulo. A falha tentativa fez Kondrak sorrir cinicamente.

— Mesmo abatido, a oferenda continua a lutar. Incrível, não? A cultura dos estelares é fascinante.

— Como pôde explodir um planeta inteiro? — Mazu indagou; as marcas das lágrimas de mais cedo ainda estavam evidentes na bochecha dourada do príncipe.

— Ninguém disse que ser um líder é fácil. Às vezes precisamos fazer sacrifícios, assim como fizeram com meu povo há muito tempo.

— E você acha que isso o torna superior a eles? Agiu exatamente igual aqueles que aniquilaram sua raça — mesmo aos soluços, a voz de Mazu continuava firme.

— De qualquer maneira, enganei a todos e me infiltrei em um governo corrupto e fraco. Isso é superioridade. Tenebris me escolheu por um motivo.

— Ele está morto — Mazu rosnou.

Enquanto falava, Kondrak andava em volta do altar onde estava Mazu. Como um tubarão cercando sua presa.

— É dito na sua cultura que, após a morte, nós renascemos em outros corpos e vivemos outras vidas pelo universo. Yebek e Lux certamente morreram após a Grande Guerra, e devem ter renascido, na melhor das hipóteses. Porém, Tenebris, não. Ele se recusou a morrer.

— Lux o matou antes de morrer. Está nas escrituras.

— As escrituras mentem. Tenebris me revelou. Ele não está vivo apenas em nossos corações. Neste universo, em outra dimensão, ele continua vivo, porém sem forças para retornar. Uma dimensão feita através de seu poder sombrio, onde ele criou seu próprio exército, para quando um dia ele retornasse para nosso universo, ele governasse tudo e iniciasse a nova era. E para que isso fosse possível, ele precisaria de seu próprio exército pessoal e fiel fora da dimensão das trevas. Nós. O culto de Tenebris. Ele sussurra em nossos corações.

— Não faço parte de nada disso! — Mazu tentou se livrar das correntes mais uma vez. — Não entendo como posso ser necessário para vocês e para Tenebris. Eu jamais seria um seguidor deste culto nojento!

— Você faz parte disto, Mazu. Sempre fez.

Após tanto usar seu estímulo contra as correntes, Mazu se cansou. Todo seu corpo se amoleceu, sem forças.

— Como? — Indagou, sem fôlego.

— Bom…

‘’Nos primórdios do universo, quando os três criadores eram unidos, Tenebris, o lorde da escuridão, Yebek, a rainha arquiteta do universo, e Lux, o senhor das estrelas, criaram o primeiro protótipo do que seria um ser-vivo baseado nos criadores. Eles abençoaram este ser-vivo com cada uma de suas habilidades. Porém, Yebek e Lux se maravilharam com algo diferente: eles notaram que novos tipos de vida estavam surgindo em diversas galáxias. Um tipo de vida que não precisou ser desenvolvida pelos criadores. Sendo o líder entre os três, Lux decidiu que não iriam seguir com a ideia de povoar o universo com seres vivos semelhantes aos que eles criaram. Não há registros sobre o primeiro estelar do universo nas escrituras de seu povo, não? Pois bem, quando a Grande Guerra despontou e Tenebris se revoltou contra Yebek e Lux, o senhor das estrelas decidiu reutilizar a ideia, criando milhões de estelares através das estrelas mais poderosas do universo; seres poderosos o suficiente para combaterem o exército de monstros de Tenebris. Esta é a parte da história que lhe contaram por toda sua vida, mas ocultam a parte mais importante: no final da guerra, quando os criadores morreram e a maioria dos estelares decidiram se exilar em um planeta arquitetado por Yebek, Lux, antes de morrer, reutilizou o primeiro estelar já criado. O mais poderoso entre todos. O único que tinha em suas veias os poderes dos três criadores circulando em suas veias. Ainda um bebê, Lux entregou o estelar para a rainha Stellae e ao rei Kazon e fez os dois jurarem que cuidariam da criança como um filho, e também o ensinariam as virtudes dos estelares e o transformariam no maior guerreiro estelar vivo da história. Lux sabia que Tenebris não havia morrido, ele sabia que um dia Tenebris retornaria para tomar o controle do universo, por isso deixou o estelar mais poderoso de todos sob os cuidados do rei e da rainha dos estelares. Esta é a sua história, Mazu.’’

A cada palavra dita por Kondrak, os olhos de Mazu se arregalaram, em choque. Seu corpo tremia enquanto sua mente processava cada informação dita. As vozes. O chamado. Tudo fazia sentido.

— Além de ter os poderes de Lux e de Yebek correndo por suas veias, você também tem a escuridão de Tenebris dentro de si. E isto é o suficiente para abrir um portal que conectará nosso universo com a dimensão onde Tenebris está aprisionado. Este é o propósito real da Armageddon — Kondrak subiu os degraus do altar e se aproximou de Mazu. — Suas forças serão drenadas de você. Lux te criou para ser o protetor da herança deixada pelos criadores, e agora olhe para onde isso te levou. Até nós. Até Tenebris. Você respondeu ao chamado. Aguarde pela resposta.

Kondrak desceu os degraus e se retirou da sala, deixando Mazu sozinho.

Mazu chorou. E muito. Antes de escapar covardemente de Volair-C, sua mãe tentara o alertar. Ele iria lhe contar toda a verdade para o prevenir de eventuais perigos. Perigos como aquele no qual ele se envolveu.

Seria este seu destino, ser o responsável pelo retorno de Tenebris?

⭐ STARBOY ✩ O ChamadoOnde histórias criam vida. Descubra agora