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Satélites de vigilância circulavam o planeta conhecido por ser coberto por uma tempestade eterna. Em Shan, sempre chovia. Se não fosse pelos sistemas de drenagem instalados pelos melhores arquitetos trompoxianos, o oceano teria varrido qualquer resquício de terra firme do planeta. Eles podiam controlar o nível da água, mas não podiam apaziguar os oceanos. Sempre fervorosos, ondas gigantescas se formavam a todo momento pelo planeta, por isso a base de operações de armas trompoxiano fora construída em uma ilha, no topo de uma alta montanha. Lá em cima, a fúria das águas não atingia aqueles que ali viviam trinta e quatro horas por dia (um dia completo no planeta Shan). Tudo o que os cientistas trompoxianos podiam sentir era o chão tremer de leve, como se um titã estivesse se aproximando e seus passos fossem como explosões no chão. Eram apenas as ondas, lá em baixo na escuridão, esperando o dia em que aquela ilha sucumbisse ao oceano.

Atravessando as nuvens escuras iluminadas temporariamente por raios que cortavam o céu da noite com sua luminosidade azul, a Shadow-989 se aproximava da base. Com seu modo de invisibilidade ativado, nenhum satélite ou sensor da base conseguira detectar a chegada dos invasores. Alpha pilotava a nave em silêncio absoluto, concentrado em alcançar a ilha em segurança.

— Noticias frescas — Qui-va apareceu na cabine de piloto; Mazu, que estava sentado no assento de co-piloto, notou a chegada da mesma —, Kondrak está na base. Ele veio assistir o teste da Armageddon. Consegui acompanhar uma conversa de rádio dos guardas.

— Já sabem onde irão testar a Armageddon? — Alpha indagou.

— Nada, ainda. Meu pai tentou entrar em contato novamente com a líder Korroa. Ela está fora de sinal desde a última reunião.

Alpha não falou, mas a expressão em sua face eram como palavras não ditas: ‘’isso não é bom’’.

— Vou preparar o pessoal. Enquanto mais rápidos agirmos, mais rápido iremos impedir que seres inocentes morram.

Qui-va deixou a cabine.

Distante em seus próprios pensamentos, Mazu agora fitava o show de raios iluminar o céu à frente. Depois de cada explosão luminosa, trovões amedrontadores. Entre os ruídos que pareciam abalar as estruturas do céu chuvoso, o príncipe conseguia escutar elas, suas velhas amigas: as vozes distantes.

Mazu… 

Ele escutou. Estava cada vez mais próximas. Quando pequeno, elas eram como um eco distante. Agora, pareciam estar bem próximas de seus ouvidos.

A ilha onde se encontrava a base trompoxiana surgiu quando a Shadow-989 emergiu das nuvens. Era inteiramente formada por rochas. Ondas de aproximadamente dez metros de altura atingiam as costas da ilha, despejando espuma branca e água para o alto; mas não alto suficiente para atingir a base (que mais parecia uma prisão) no topo da montanha, no centro da ilha. O cume da montanha (também formada por rochas) era como a pata de uma fera petrificada; as rochas afiadas ao redor, como as garras da fera, envolviam a base em um aperto. Construída para suportar os impactos constantes das ondas e tsunamis do oceano.

A Shadow-989 pousou em um ponto alto e inclinado da montanha, abaixo da base. Os guardas que estavam vigiando o perímetro em volta dos muros que circulavam a base jamais poderiam notar a chegada da nave. Quando Alpha desativou o modo de invisibilidade, as cores pretas da lataria da nave encaixaram perfeitamente com as sombras formadas pelas rochas, a camuflando de olhos exteriores, como um camaleão.

A rampa foi abaixada e Alpha, Qui-va e os outros cinco norinianos desceram até as rochas.

— Mandarei um sinal — Alpha fitou o estelar parado acima da rampa da nave. — Eu prometo.

— Vá logo. O tempo é precioso.

Alpha concordou com a cabeça e seguiu em direção à base acompanhado dos outros. Ainda chovia intensamente e a escalada seria arriscada (também escorregadia). Diante do bando de invasores, o agente apoiava seu pé em uma rocha e se segurava em outra. Seu rosto estava totalmente molhado. A situação não era diferente com Qui-va e os outros norinianos. No ambiente escuro de Shan, a pele deles não brilhava mais como no ambiente desértico de onde vieram; sob a luz dos raios, Qui-va parecia azul. Ela escalava agilmente, como uma aranha. Os escolhidos por ela repetiam os mesmos passos. Todos podiam sentir o tremor do choque das ondas ao atingirem a ilha.

No lado norte do muro que circulava a base, dois guardas caminhavam lado a lado sob a forte chuva. Seguravam armas e comentavam sobre a vida. Para seres que tinham como missão garantir a segurança do local, ambos estavam muito distraídos; tão distráidos que não notaram mãos agarrarem a beirada do muro. Segundos depois, um corpo se ergueu da escuridão e alcançou o muro. Era Alpha. Antes que os dois guardas trompoxianos pudessem ao menos saberem o que os atingiu, o agente golpeou as cabeças dos dois com o coldre de sua arma, desmaiando-os. Qui-va e os outros norinianos subiram logo em seguida.

Enquanto isso, ainda parado acima da rampa da nave, Mazu observava a chuva cair, esperando ansiosamente pelo sinal de Alpha. Ele queria agir. Ficar parado enquanto seres inocentes corriam o risco de morrerem por uma arma destruidora o deixava inquieto. Mazu não era bobo, ele sabia se cuidar sozinho, então porque Alpha o subestimava tanto? Como se ele fosse um príncipe indefeso.

De repente, as vozes surgiram novamente…

Mazu…

E desta vez, com companhia.

Observando de longe, escondida entre duas rochas, um ser encapuzado. Morgana. A pele dourada a denunciava. Mazu desceu a rampa e correu até Morgana. A estelar girou os calcanhares e escalou apressadamente a montanha em direção à base. Mazu a perseguiu.

— Ei, pare! — Mazu gritou.
Mazu inclinou seus ombros e um par de asas douradas se formou através da armadura. Ele avançou até Morgana, que agora não estava mais escalando a montanha, estava pulando em direção ao topo. Ela concentrava seu estímulo nos pés e pulava, conseguindo alcançar alturas incríveis. O príncipe se manteve estável no ar e seguiu cada passo da estelar até o topo.

Quando Morgana e Mazu aterrissaram no lado sul do muro, Alpha e Qui-va já haviam entrado na base. Os três guardas que estavam cuidando daquela área foram surpreendidos pela aparição surpresa de dois estelares em conflito. Um deles apontou a arma para Morgana. Ainda com o estímulo concentrado nos pés, Morgana desferiu um chute no guarda, o lançando em direção ao oceano. Os dois guardas restantes atiraram. Mazu se defendeu usando sua starshine. Morgana se esgueirou pelo chão e golpeou ambos os guardas com socos e chutes, quebrando os ossos vitais de seus corpos. Os dois guardas caíram no chão, mortos.

— O que está fazendo aqui? — Os fios molhados de cabelo branco do príncipe estavam espalhados por sua testa.

Morgana não o respondeu. Ela pulou no interior da base, caindo perfeitamente dentro de um dos tubos de ventilação no teto da base e desaparecendo na escuridão. Você não vai escapar tão fácil, pensou Mazu. O que o príncipe não sabia era que Morgana não estava fugindo. Ela estava o atraindo.

⭐ STARBOY ✩ O ChamadoOpowieści tętniące życiem. Odkryj je teraz