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A grande tela digital mostrava em detalhes a sala de interrogatório através da câmera; até mesmo os batimentos cardíacos, pressão e temperatura do suspeito dourado eram exibidos no canto da tela. Em pé, analisando a situação, dois agentes orzinianos — seres semelhantes a crocodilos, porém esguios, bípedes e nada agressivos, pelo contrário, a raça orz pregava a paz — discutiam a situação de Mazu juntamente com o general.

Quando Alpha chegou, o general se dirigiu a ele, com um meio sorriso estampado no rosto. Assim como tudo nos andares subterrâneos da base central, o cômodo onde estavam era cinza, beirando ao aspecto cavernoso, porém toda a tecnologia e decoração faziam dali um lugar um pouco mais civilizado — apesar de abrigar os criminosos mais perigosos e poderosos da galáxia.

— Alpha, quanto tempo não o vejo — deu tapinhas no ombro do agente em sua frente —, vejo que mais uma vez você está no caminho para solucionar mais um mistério.

O general chamado Varod era um dakiliano. Como todos de sua raça, ele era alto, musculoso naturalmente, escamas revestiam sua pele e seu corpo apoiado por duas pernas e quatro braços demarcavam a característica presente em todo dakiliano: dominador. 

— Ainda há muito o que resolver, Varod. O estelar está inteiramente envolvido, mas não sabe de nada que possa ajudar na investigação.

— Você já fez muito até aqui, trouxe para nós uma peça importante.

— O que quer dizer? — Mesmo em entrelinhas, Alpha conseguiu sentir insegurança nas palavras do general.

— Sabe que sempre apoiei todas as suas missões, sempre estive em inúmeras reuniões com os maiores representantes da galáxia dizendo para cada um deles o quanto você é competente no que faz — o general apoiou a mão no ombro do agente e o guiou até estarem diante da tela onde estava sendo exibido em tempo real a imagem de Mazu. — Space Hunter, o maior agente da galáxia. O detetive implacável — o general Varod continuou. — Mas agora, por ordens do próprio líder da cúpula, outros encarregados do governo irão tomar rédeas da investigação.

— O quê? — Alpha o olhou, incrédulo.

— Eu sei, eu sei, é injusto. Mas esta decisão não cabe a mim, Alpha. Veio diretamente da cúpula da união. Você sabe, depois de tantos anos, um estelar surgir repentinamente em meio a esta onda de suspeitas sobre uma arma poderosa.

— Por isso a cúpula deve deixar eu fazer meu trabalho.

— E se tudo faz parte de um plano tão bem arquitetado que até mesmo agentes brilhantes como você não conseguiram detectar a ameaça diante de nós? — O meio sorriso no rosto do general se desfez. — Caramba, olhe para seu histórico. Não dá para contar nos dedos quantos membros daquele maldito culto você deteve… — Varod então o encarou de forma mais sombria ao continuar — Ou matou.

Alpha permaneceu em silêncio. Sabia que, não importava a circunstância, não adiantaria discutir com Varod. Alpha o conhecia desde quando era um garoto, o general, antes um professor da academia da Liga Defensora de Aurora, lhe ensinara artes marciais de diversas culturas. Após a morte de seu pai, Varod se tornou uma imagem paterna para Alpha. Enquanto os estelares, Alpha passou a vê-los como demônios espaciais. Um deles matara seu pai, afinal de contas.

— Eu entendo a importância dessa missão para você, aqueles desgraçados mataram seu pai! — Então, Varod direcionou seu olhar para a tela. — Mas, não se esqueça nem por um segundo quem são os verdadeiros inimigos.

O verdadeiro inimigo. Quem eram? O que faziam? Estariam eles lá fora, ou ao nosso lado? Alpha sempre se questionava sobre tudo, principalmente sobre isso.

Sua vida sempre foi formada por inúmeras tragédias. Todas elas moldaram o homem que ele se tornou. Além da morte de seu pai, outro fator foi responsável por fazer Alpha questionar sua própria conduta.

Bola.

Uma criança, seres armados e prontos para matar e uma granada. Aquela maldita granada. Essa lembrança atormentava Alpha constantemente.

A ligação sentimental com Varod não impedia Alpha de notar inconsistências em toda a situação. Algo estava errado, ele sentia isso, sempre confiou em sua intuição de detetive.

Quando garoto, seu pai lhe dissera para nunca confiar em ninguém em uma investigação. Todos podem ser suspeitos. Por isso, longe dos olhos de Varod e de qualquer outro funcionário da L.D.A, Alpha começou a investigar a morte de seu pai. E naquele momento, as coisas pareciam estar tomando um outro rumo; um rumo que o levaria para a resposta que tanto procurou.

STARBOY ✩ O ChamadoOnde histórias criam vida. Descubra agora