💫 Capítulo 5: Culto de Tenebris

106 20 20
                                    

O estelar chegou à cabine de piloto da Shadow-989 e se sentou no assento de co-piloto, próximo ao de Alpha, que manteve suas mãos firmes no volante manual da nave. As estrelas exibiam-se no vácuo lá fora. Toda vez que se deparava com aquele maravilhoso céu, o príncipe se impressionava - não estava acostumado a vislumbrar uma paisagem tão vasta e bela.

— Vamos passar por um daqueles portais outra vez? — Perguntou, curioso.

— Se passássemos, seríamos identificados e presos. — O agente respondeu em um tom duro, no entanto sua voz amansou ao continuar: — teremos que seguir a viagem à moda antiga.

— À moda antiga?

— Sem portais, apenas vagando pelo espaço.

Na verdade, Alpha sabia que a opção que escolhera para prosseguir era tola. Demorariam meses, ou até mesmo anos, para chegarem de um sistema a outro sem usar os portais. Porém, seu orgulho falara mais alto; não queria pedir ajuda para o estelar.

— Eu posso resolver isso — falou Mazu.

— Nem pensar.

— Você sabe que posso. Com meu estímulo, posso turbinar essa nave e chegaremos lá em minutos.

— Pode ser perigoso.

Mazu olhou para Alpha, com as sobrancelhas arqueadas.

— Da primeira vez não foi perigoso.

— Primeira e última. Daremos um jeito, têm chances de surgir alguma carona no caminho.

— Se me permite — Zya surgiu no assunto —, devo dizer que a opção de Mazu é completamente viável e estratégica. A Shadow-989 está completamente apta para suportar a energia do príncipe.

— Zya, você é adorável — Mazu sorriu. — Por acaso você tem uma forma física ou você está em todo lugar?

— Estou presente em cada peça desta nave, príncipe — ela respondeu.

— Você a criou? — Dirigiu sua pergunta a Alpha.

— Há muito tempo. Meu pai desenvolveu Zya para ajudá-lo nas missões; ela é minha herança de família — enquanto falava, seu olhar parecia perdido em tempos passados, relembrando uma época boa. — Diferente dos outros sistemas de inteligência artificial, Zya foi criada livre para desenvolver sua própria personalidade. Deve ser por isso que ela age como uma figura materna às vezes, sempre cuidando de meus passos.

— Se eu não cuidar, você tropeça — mesmo a voz não entonando nenhuma emoção, Mazu notou um ar sarcástico em Zya.

— E um humor desnecessário — Alpha continuou focado em pilotar a nave manualmente.

— Seu pai... — Parou, temendo estar tocando em um assunto proibido; a face de Alpha não demonstrou nenhuma emoção. — Seu pai parecia ser uma boa alma.

— Ele era — comentou. — Nunca fui filho biológico de Ankor, porém ele me teve como filho. Era uma alma boa, até demais.

Agora tudo fazia sentido. Ankor, aquele ser tão diferente de Alpha na fotografia, na verdade, era seu pai adotivo. Pela primeira vez, se identificou com o agente.

— Sei como é, também sou adotado.

— Vocês, estelares, não nasceram das estrelas? — Indagou.

— A primeira geração, sim. Há várias crianças estelares em meu planeta que nasceram de forma natural, como eu.

— Então você foi adotado pelos reis de seu povo?

— Como sabia que eu era um príncipe? — Arqueou as sobrancelhas.

Alpha abriu a boca, mas segurou as palavras por alguns instantes.

— Enquanto investigava a morte de meu pai, encontrei arquivos sobre estelares no escritório dele. Algo sobre... — O agente tentou relembrar. — Os guardiões das estrelas.

— Os guardiões das estrelas eram como heróis para meu povo. Os próprios criadores se comunicavam com eles. Por isso, meus pais se tornaram reis, foram os únicos a sobreviverem da equipe depois da Grande Guerra. Foi quando eles acharam um bebê estelar nos destroços de uma nave à deriva no espaço - falou, enquanto olhava para as estrelas, pensativo. — Não me lembro do rosto de meus pais. Na verdade, nunca os vi.

Alpha fitou Mazu. Tudo o que ele identificava era um príncipe novo demais para estar enfrentando perigos tão grandes e mortais. Ele sabia como era estar perdido. Sabia como ninguém a sensação de não conhecer a si mesmo. Apesar das diferenças, o agente estava começando a se identificar com o estelar.

— O estímulo — falou por fim. — Será necessário.

Mazu sorriu.

E a viagem seguiu silenciosa, sem mais assuntos pessoais entre os dois seres tão distintos, mas com tantas similaridades.

⭐⭐⭐

Quando chegou ao local do crime, a boate estava aos pedaços, totalmente destruída. Milhares de seres curiosos estavam detrás das divisórias de isolamento postas por defensores da L.D.A. Alguns deles tentavam encontrar algo entre os destroços, outros checavam as câmeras de segurança que restaram. Apenas Varod estava interrogando a única sobrevivente do ''acidente".

— O estelar e aquele agente maldito destruíram meu ganha pão e mataram meus homens, foi isso que aconteceu — falou Syella, fingindo estar magoada; na verdade, ela não sentia nem um pouco de pesar pela boate, muito menos pelos seus capangas mortos.

— Alguma ideia para onde eles foram? — Varod a analisava com atenção.

— Nenhuma. Eles só chegaram e acabaram com tudo. Sabe, essa boate era um dos principais pontos de diversão da cidade.

— O que eles queriam com você?

— Auro. Eles queriam auro. Você sabe como são aqueles que fazem parte do culto de Tenebris, são todos ladrãozinhos malditos — ela o olhou, mantendo sua pose inocente.

— Não sou tolo, Syella. Conheço o agente que passou por aqui, e conheço você... Syella, filha do falecido Dakari, um dos maiores criminosos de Aurora — as marcas de expressão na testa de Varod demonstravam desconfiança.

— Os demônios que o senhor procura estavam bem diante de seus olhos, deve ser frustrante — ela sorriu, sarcástica.

— Todos somos — Varod chamou um defensor com um aceno. — Leve-a para a prisão de segurança máxima.

— A lei desta galáxia é falha, senhor general — Syella gargalhou enquanto falava; o defensor guiou Syella até uma nave-viatura e deixou Varod para trás, pensativo.

Todos somos demônios. Varod sabia, ele fazia parte disso. Retornou para sua nave e se retirou da cena do crime. Deixou que a inteligência artificial pilotasse enquanto checava algumas imagens gravadas pelas câmeras de segurança antes da explosão. No camarote, Alpha e o estelar. Varod ainda via Alpha como um garoto perdido e assustado. Fora assim que ele o conhecera: um garoto órfão e revoltado. Uma máquina de vingança.

Varod sabia que, como um cão, Alpha estava escavando o solo até encontrar o verdadeiro tesouro: a verdade. Mas a verdade pode ser destrutiva, e ele não queria que Alpha se auto-destruísse. Não quando ele precisava dele. Todo seu futuro dependia disso.

''Sistema Norgah, planeta Twinor'', escutou a golpista falar nas gravações.

— Twinor, sistema Norgah - ordenou Varod para a inteligência artificial, que prontificou-se em mudar a rota de viagem.

Varod não tinha ideia do que havia em Norgah, mas temia por Alpha.

⭐ STARBOY ✩ O ChamadoWhere stories live. Discover now