💫 Capítulo 6: Círculo da Revolução

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Quando chegou ao local onde estava a nave, se deparou com entulhos jogados em cima da Shadow-989. Parecia-lhe como um pássaro caído no chão, morto. A parte frontal da nave, que se assemelhava com um bico, estava cravada no solo.

— Zya, na escuta? — Chamou Alpha.

Nada.

— Zya, na escuta?! — Chamou outra vez; preocupação podia ser notada na voz do homem.

Ainda com o estelar em seus braços, o agente aproximou-se do compartimento de carga da Shadow-989 e abriu a rampa de entrada traseira da nave através de seu bracelete tecnológico. A rampa desceu, lenta e trêmula, revelando o interior da nave. Luzes piscantes iluminavam parcialmente; um alarme ecoava, alertando ao piloto sérios danos na nave.

Alpha entrou, deitou o príncipe em um banco (deixou a cabeça do príncipe reclinada em uma mochila) e se dirigiu até a cabine de piloto. Todos os controles do painel piscavam descontroladamente.

— Droga! — Tentou consertar o que pôde, mas os danos eram muitos. — Zya?!

— A... - Uma voz falha se revelou. — Al...pha.

— Zya... — Sabia que era idiotice, e também sabia que ela era apenas uma inteligência artificial, mas perguntou mesmo assim: — Você está bem?

— Os sistemas estão 80% danificados — a voz de Zya produzia ecos e falhava constantemente. — E frotas da L.D.A estão se aproximando.

— Droga... Tenho que nos tirar daqui. Ainda dá para voar?

— Não muito longe.

— Há uma oficina em uma das luas deste planeta — lembrou Alpha. — Eu posso nos levar até lá.

— As probabilidades de falhar com esta ação são altas — revelou a I.A.

— Tenho que tentar.

Sentou-se no assento de piloto e ativou todos os controles da nave. As turbinas nas duas asas se acenderam em chamas e fizeram a nave levitar alguns metros do chão, porém isto causou tremores, fazendo a nave perder o controle. Como um homem domando uma fera descontrolada, Alpha apertou as mãos no volante e tomou controle da nave. Após alguns minutos, conseguiu decolar em direção ao céu escuro da noite.

— M-mensagem detect-ada.

Antes que Alpha pudesse reagir, o holograma de Varod surgiu acima do painel.

— Alpha — falou ele —, está ciente das proporções que seus atos estão causando? A L.D.A emitiu um mandado de busca para você e o estelar. Porque está o ajudando? Mal o conhece! Não entende o perigo de ajudar um ser que pode estar diretamente ligado ao culto? - Alpha olhou para trás, onde lá estava o estelar, deitado e inconsciente. — Espero que repense suas ações, Alpha. Todo o seu legado e o de seu pai estão em jogo. Não desperdice isso com um estelar. Não cometa o mesmo erro de seu pai.

O holograma se desfez.

Alpha arqueou as sobrancelhas. O que ele quisera dizer com "não cometa o mesmo erro de seu pai"?

A questão pairou na cabeça do agente, deixando-o nervoso. O que Varod não tinha contado?

Talvez todo o legado de seu pai estivesse manchado por sua culpa. Talvez toda a sua carreira na L.D.A estivesse eternamente acabada. A única certeza que Alpha tinha era que, apesar de tudo, ele confiava estar perto de solucionar o maior caso de sua vida. O caso que custou a vida de seu pai. Não se importava com legados ou auros. Queria um ponto final para essa história.

E o estelar fazia parte disso. Alpha sabia que o príncipe queria dar um fim ao culto. Ele era bom, e carregava no peito uma culpa a qual o agente não conseguia entender, mas sabia que era exatamente como a sua culpa. A bola, a criança, a explosão. O abraço consolador. Aquele estelar, tão ingênuo, estava diante do perigo e mesmo assim o abraçou, acolhedor. Exatamente como seu pai fizera quando encontrou um bebê em uma nave onde toda a tripulação estava morta. Não sabia de qual raça aquele bebê era, nem mesmo de onde tinha vindo. Isso não o impediu de adotá-lo e nomear aquela misteriosa criança de Alpha.

Não, não estava manchando o legado de seu pai. Pela primeira vez, Alpha teve certeza disso.

Saíram do planeta Twinor sem grandes problemas. Através da rádio, Alpha pôde acompanhar o andamento das buscas da L.D.A pelos dois fugitivos. O líder da raça Twi, Laval, foi declarado assassinado por Alpha e Mazu. A explosão que Mazu causara fora sentido por todo o planeta, no entanto as autoridades definiram isto como um ''problema de fábrica''. Não fizeram mais citações sobre a grande cratera na zona abandonada de Twinor.

''Corruptos de merda'', Alpha pensou.

O agente aumentou a potência dos motores da Shadow-989 (o que causou leves tremores) e seguiu espaço adiante. A viagem foi silenciosa. Apenas Alpha e as estrelas. E um ser vindo das estrelas. Olhou-o enquanto pilotava. Mazu continuava inconsciente. O que quer que tenha acontecido, foi muito poder para Mazu aguentar. No entanto, a situação mostrou que aquele príncipe não era apenas um ser indefeso e perdido. Ele era poderoso. As intenções do culto para Alpha continuavam incertas, mas de uma coisa ele tinha certeza: o poder de Mazu fazia parte dos planos do culto.

Após uma viagem espacial de horas, Alpha chegou ao seu destino. Logo à frente, havia um cometa vagando pela escuridão, sozinho. Na superfície escura, uma grande entrada quadricular dava acesso ao núcleo do cometa. Lá dentro era onde se localizava uma das milhares de oficinas e postos de abastecimento de naves da Aurora. Na parte inferior do cometa com formato irregular, quatro motores (de nível superior) guiavam o corpo celeste pelo vácuo, traçando uma rota invisível até outros sistemas da galáxia.

O agente guiou a nave até o interior do cometa e aterrissou próximo de outras naves que estavam em manutenção. A rampa da Shadow-989 abaixou e Alpha desceu. Em seu encontro, veio um ser nanico trajado em um macacão cinza. Ele tinha apenas um olho e sua pele era coberta por pêlos marrons.

— Em que posso ajudar? — Sua boca era cheia de dentes afiados.

— Problemas em minha nave. Preciso que a conserte — explicou o agente, com o capacete ocultando seu rosto.

— Hm... — O ser aproximou-se da nave e deu batidinhas na lataria. — Ela parece muito desgastada. Posso fazer um concerto geral, mas vou ter que cobrar muitos auros.

— Sem problemas.

O ser caminhou até estar próximo da rampa e observou de relance o interior da nave.

— E só mais uma coisa — ele falou, chamando a atenção de Alpha —, vou pedir para que leve com você quem está lá dentro. Gosto de trabalhar com a nave vazia.

Alpha balançou a cabeça e se dirigiu até o interior de sua nave. O príncipe ainda estava desacordado, mas não por muito tempo. Alpha pousou suas mãos no braço do estelar e o balançou delicadamente para que ele acordasse.

⭐ STARBOY ✩ O ChamadoDonde viven las historias. Descúbrelo ahora