A senhora das armas (livro 2)

Capítulo 20 - Talvez

Giuliano

Eu sabia que Letizia estava preparando os homens para acompanhá-la na Sicília, onde o plano era ganhar a votação, eliminar os opositores e prender a mim e a meu pai.  Ela assumiria o comando, para depois passar o título de Don para seu irmão.

Assim, seria responsável pela união dos russos e italianos, conforme a promessa feita à Andrey.

Nikolai deixou claro que ela não havia descartado a possibilidade de eliminar meu pai, apesar das orientações de Domenico para que fôssemos preservados.

Ela estava em treinamento pela manhã, enquanto eu fazia reunião com as famílias, resolvendo alguns problemas relacionados às cargas e distribuição de drogas.

Yula veio me avisar que Letizia já estava no quarto, conforme havia solicitado. Deveríamos comparecer a um evento à noite.

A segui até o chuveiro. Por um descuido, deixou a porta aberta e quando tentou fechá-la, a empurrei, fazendo com que se inclinasse no balcão.

Eu tinha decidido deixá-la em paz, mas ao saber que ela pensava em matar meu pai se fosse necessário, fui tomado pelo ódio, e quando vi estava puxando seus cabelos enquanto a forçava contra a pia. Não esboçou nenhuma reação, só esperou que eu terminasse.

Fui para o meu quarto, esfriar a cabeça embaixo da água fria.

Pensava nos meses em que ficaria escondido, até que o plano de Manoela funcionasse. Eu voltaria para assumir a minha posição, deixando Letizia isolada. Me separaria assim que possível, exigindo que me desse o monopólio da vendas de armas na Itália.

Desci para a copa e Yula estava sentada à mesa. Perguntei:

- Letizia não vai almoçar?

Me olhou, desconfiada:

- Ela pediu que levassem a refeição no quarto.

Comecei a me servir:

- Ela vai me acompanhar no jantar das famílias russas?

- Sim. Vai ser bom para ela ir acompanhada do marido.

- Por que?

- As mulheres russas não veem Tizia com bons olhos. Por ela comandar, ter se relacionado com Sergei, não usar roupas convencionais. Sempre foi alvo de comentários maldosos.

Achei estranho, pois Letizia não parecia ser o tipo de pessoa que se incomodaria com isso:

- E ela se preocupa?

- Não gosta de ser desrespeitada. Há pouco tempo atrás, deu uma surra na esposa de um dos pakhans, que a chamou de vadia.

Fiquei surpreso por ela não ter colocado uma bala na cabeça da mulher.

Após o almoço, continuei a trabalhar e no horário combinado, fui esperá-la na entrada.

Letizia desceu as escadas, com um vestido vermelho e curto, um pouco acima do joelho, que mostrava suas pernas firmes e delineadas. Seu cabelo estava solto, olhos brilhantes e boca vermelha. Segurava um par de sapatos de salto nas mãos, que jogou no chão ao descer o último degrau, calçando-os em seguida.

Me perdi, olhando para ela, até que acordei com sua voz:

- Está muito curto. Talvez seja melhor trocar.

Era engraçado vê-la insegura com algo tão banal:

- Está ótimo, vamos.

Entramos no carro, seguidos pelos seguranças.