A Majestade

24. Inverno

Christian

Eu tinha um exército. Na verdade, tinha a metade de um exército.

A viagem para Hézeq parecia ser mais longa, já que estávamos em número muito superior.

Confiar em Deus. Confiar em Deus. Eu repetia essas palavras na minha mente há horas para não voltar atrás em minha decisão. Eu olhava para trás e para o lado como se fosse encontrá-la com seu olhar determinado, mas só havia meus amigos e os soldados de Mishpaha.

-Ela vai ficar bem. -Ícaro tentou me tranquilizar.

Eu assenti. Eu iria me reunir com o Conselho e debater estratégias para utilizar o Exército. Ao meu ver uma tática defensiva seria o ideal.

Quando avistei o Castelo pude respirar com mais tranquilidade.

Já era quase noite e os últimos raios solares se despediam no horizonte.

Haviam servos na entrada do Castelo e o ruído de vozes foram aumentando conforme nos aproximávamos. Todos estavam com expressões curiosas em seus rostos.

Descemos dos cavalos e ainda no meio da multidão, encontrei Kiara ao lado de sua mãe com um olhar cheio de expectativa. Ela acenou para mim e esticava o pescoço procurando a irmã.

Senti um aperto na garganta.

-O rei Christian conseguiu um Exército! -O povo dizia animado.

-O rei irá nos proteger! -Outros comentavam.

Kiara se aproximava cada vez mais e sua expressão mudou de expectativa para medo. Ela me olhou com olhos questionadores.

-Zadoque e Ícaro, cuidem do Exército. Eu preciso falar com a família dela.

-Sim, Christian. -Zadoque respondeu.

-Aonde está a Pérola? -Kiara perguntou depressa.

-Venham, por favor. -Eu disse abrindo caminho para ela e a mãe no meio das pessoas que começavam a se aglomerar ali.

Assim que entramos no Palácio, Kiara fincou os pés no chão.

-Cadê a minha filha, rei Christian? -A mãe dela perguntou com um olhar indescritível.

-Diga de uma vez! -Kiara exclamou.

-A Pérola não voltou conosco. Ela ficou em Mishpaha.

-O quê? Por quê? -Kiara perguntou incrédula.

-Porque foi feito um acordo no qual ela trabalhará para o rei de Mishpaha até o fim do inverno e em troca ele nos concedeu um Exército. -Expliquei.

-Eu não acredito que você deixou ela sozinha em Mishpaha, Christian! Nós confiamos em você! -Ela gritou desesperada. -E se algo acontecer com ela? A culpa será sua!-Ela disse berrando.

-Kiara, eu não queria deixá-la, mas...-Tentei explicar.

-Você é o rei! Você poderia ter obrigado ela a voltar! Poderia ter ordenado! VOCÊ É UM COVARDE! -Kiara bateu no meu peito com raiva.

-Kiara, acalme-se! -A mãe dela disse.

-Não, mãe! Não vou me acalmar! Nós perdemos o papai e agora perdemos a Pérola também! -Ela abraçou a mãe chorando.

-Rei Christian, por quê não conversou com ela? -A mãe de Pérola perguntou quase em um sussurro. -Não acha que nossa família já sofreu demais? -Ela perguntou com uma tristeza profunda no olhar.

-Eu...-Falei desorientado.-Ela pediu para entregar isso. -Entreguei o papel na mão dela. -Me perdoem. -Foi a única coisa que consegui dizer.

-Venha, minha filha.