Prólogo

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Nick

— Cadê a merda da minha moto? — pergunto, com a voz mais alterada possível, entrando no escritório.

— Está se exibindo lá na concessionária — responde com o tom baixo, balbuciando algo no teclado do computador.

Entreabro a boca várias vezes, incrédulo.

Ele respondeu isso como se fosse a coisa mais fácil de se dizer. É a minha moto. O meu bebê.

— Eu não acredito que você fez isso.

Ele se levanta, abre uma gaveta de sua mesa, e retira de lá alguns papéis e um jornal.

— Eu que não acredito que você fez isso. — Joga as folhas na mesa. — Racha clandestina  de motos?! Não tinha algo melhor pra fazer?

Passo os olhos pelos papéis, e é bem nítido o meu retrato no jornal.

— Até semana passada, você era flagrado saindo de motéis. Mas agora a história muda, agora você escolheu algo inovador, algo que chamasse mais a atenção do público — continua. — Você não tem ideia do esforço que fiz pra você não ir preso. Enquanto você dormia, eu estava lá com o advogado cuidando de sua vida. — inspirou — E eu não sei porque isso me espanta. De você espero qualquer coisa.

— Olha quer saber, eu não vim aqui pra ficar ouvindo os seus sermões. Eu só quero que você entrega a droga da minha moto! — minhas palavras saem num tom agressivo.

— Não, eu não terminei ainda. E você vai ficar e me ouvir, seu garoto prematuro e inconsequente! — Seu punho choca contra a mesa. — Você tem que seguir os exemplos dos filhos dos outros jornalistas da redação — Outra vez pisando nesse mesmo assunto idiota. —, que são formados. Uns tem namoradas e outros já estão praticamente se casando. E você? — Ele apoia os punhos cerrados na mesa e franze a testa, me fitando. — Me diz, Nickolas? — esbraveja. — O que você faz, além de ficar por aí feito um bandido, pilotando aquela coisa que você chama de moto. Hum? Não faz nada da vida, não trabalha, não estuda, e o que mais você quer?

Não sei porquê ele sempre toca na porra desse assunto, de querer tentar de todas as formas me mudar, para ser o seu próprio fantoche. Não vai adiantar, e eu já cansei de repetir isso a ele. Ele já devia se contentar que eu sou a droga da maçã podre da cesta.

— Foda-se! — Dou as costas e deixo ele falando sozinho.

— Te dou cinco dias para você arrumar uma namorada!

Freio os passos no mesmo momento. De novo com este assunto. Eu já disse, eu não namoro! Eu só fodo somente uma vez e depois saio fora.

E também, só vim aqui pela minha moto.

— E o que a minha moto tem a ver com eu namorar? — Suspendo as mãos.

— Cinco dias! — Mantém uma expressão de exigência e depois se senta novamente, organizando os papéis.

Bato com força na mesa.

— Acontece que você escolheu o pior dia pra querer me dar ordens. Não é a primeira vez que você fala nisso, e eu espero que seja o último. Pode dar um mês, dois... e a droga toda! Mas eu não vou fazer o que você pede. Eu não namoro. Eu sou assim! — exclamo.

Fernando meteu em sua cabeça, que se eu tiver uma namorada, eu vou mudar o meu comportamento. Ele acha que vou começar a me interessar em seus negócios. E desde quando uma mulher manda em mim? Está pra nascer uma que terá este autocontrole sobre mim.

— Ou é isso, ou pode ir esquecendo de sua vida de luxo. Já pode dar adeus às suas viagens, suas festas, os seus cartões de crédito, sua mesada semanal, seu carro, e principalmente a sua moto. — Sorriu vencido.

Suspendo meus braços sobre a mesa, e aproximo meu rosto do dele.

— Isso se chama chantagem.

— Isso se chama um pai que quer cuidar do futuro do filho e, principalmente, manter a boa conduta de minha carreira.

Sempre a carreira grandiosa dele em primeiro lugar. Sempre esse mesmo assunto, já estou cansado em ouvir isso. Mas uma coisa que ele mudou nesse discurso idiota, é que agora, está vindo acompanhado de ações. Pegou tudo o que eu tinha.

— E o que eu ganho com isso? — Falo, com tom de raiva em minha voz.

Ele se levanta, e coloca as mãos no bolso.

— Você terá suas coisas de volta. — Arqueia a sobrancelha esquerda.

— Eu quero o dobro da minha mesada.

— Está feito — continua encarando — Cinco dias para arranjar uma namorada. Mas não quero que seja aquelas que você trazem aqui. Você e elas já me envergonharam o bastante. Quero que arrume uma moça de família, uma que não terei vergonha de apresentar como minha nora.

Quem ele pensa que é? Além de querer que eu namore, ainda quer escolher. Vai a merda.

— Vai se ferrar! Eu não vou fazer o que você pede — berro.

Ele se levanta com fúria em seu semblante.

— Ou isso ou nada! Seu playboy!

Vejo que não tenho outra alternativa. Posso arrumar qualquer uma, ficar com ela até ter de volta as minhas coisas. Depois que conseguir, invento qualquer coisa e finjo que nada aconteceu.

Entrego meu olhar de raiva e dou as costas.

— Ei! Mais uma coisa. — Ainda tem mais, isso está me deixando com mais raiva. Me viro. — Na sexta terá um jantar importante. Quero você e sua namorada presentes.

Estou tentando engolir isso a seco. Esse negócio de me dar ordens, está me matando. Mas se eu não fazer isso, nunca mais verei minha moto. E como ficará minhas rachas? As minhas disputas de melhor piloto. Não posso entregar isso tudo ao Rúben.

Não será tão difícil arrumar uma namorada. Afinal, qualquer uma quer ter o prazer de namorar comigo.

Mas agora, se ele pensa que, com isso, irá fazer eu mudar a maneira como sou, está muito enganado. Nem uma mulher no mundo, por mais gostosa que seja, vai conseguir me colocar na linha que eu mesmo faço questão de não seguir reta.

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Espero que tenham gostado deste capítulo. Deus abençoe sempre vocês. Beijos. 🙏😘❤️

Uma Única VerdadeWhere stories live. Discover now