Capítulo XV

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3 de Setembro de 1993 - Início do Outono em Derry, Maine.

Mais uma tarde tediosa se encerrava em Derry. O clima frio causava arrepios nos corpos desprotegidos pelas ruas, as folhagens variadas entre tons alaranjados, amarelados e até mesmo alguns tons de verde, perdidos naquela imensidão de tons quentes, espalhados por cada árvore ou arbusto, teimavam em cair, passeando pelas ruas em pequenos redemoinhos de vento, indicando a chegada do Outono, certamente deixando a senhora Bardom irritada pela bagunça em seu quintal, perfeitamente limpo.

A brisa gelada atingiu em cheio o rosto do garoto agasalhado, fazendo com que segurasse o cigarro entre os dedos e segurasse os braços, em uma tentativa falha para parar de tremer. Encolheu as pernas contra o corpo e voltou a tragar a pequena toxina que lhe esquentava os pulmões, os olhos fixos no fluir do riacho há sua frente, este que estava mais movimentado que o normal, tendo uma certa velocidade em decorrer.

O nariz vermelho, assim como as maçãs do rosto, repletos de sardas, indicavam um possível resfriado se aproximando, mas não é como se o rapaz se importasse. Havia saído de casa, após uma briga feia com seus pais sobre seu vocabulário e sua crença, discutiu de forma horrível com sua mãe sobre não querer seguir a religião judia e acabou por apanhar de seu pai pela "falta de respeito", sua irmã mais velha apenas assistia, sem saber o que fazer, de cabeça baixa, nunca teve coragem para enfrentar seus pais.

Saiu de casa bufando de ódio, ainda teve que suportar seu pai o xingando de "bicha virgem" e ainda suporta-lo dizendo ter sugerido um aborto na época, bem, talvez ele fosse mesmo uma bicha, mas não era virgem e mal seu pai sabia que ele havia fodido com um amigo no galpão do quintal.

Caminhou até seu porto seguro, com as mãos surradas no bolso de sua calça, xingando alguns palavrões no caminho, apenas para descobrir que o fliperama estava fechado naquele dia. Richard se lembrava de xingar até mesmo a pobre mãe do rabino, ou melhor, a coitada da avó paterna de Stanley, quando chegou e atirou uma pedra na vidraça, causando uma rachadura leve.

Agora estava ali, sentado debaixo de uma árvore no Barrens, observando o riacho um pouco mais a frente, refletindo sobre a vida e sobre si mesmo. Os dedos magros da mão esquerda, se concentravam em segurar o cigarro já curto, vez ou outra o levando até os lábios, os olhos vazios observavam a paisagem, sem prestar atenção ao certo, alheio ao seu próprio pensamento. Quem ele era?

Um adolescente de dezessete anos, viciado em cigarros e na amarguez do álcool, com um estúdio fajuto na garagem e piadas ruins para oferecer. Apaixonado por seu melhor amigo hipocondríaco, um péssimo filho que gasta seu tempo com fliperamas e um trabalho de meio período furreco no mercado de peças. Se perguntava se ele era apenas isso mesmo.

Inerte em seus desvaneios, ao menos notou a chegada dos dois amigos. O judeu silencioso apenas escutava a tagarelice do de menor estatura, algo sobre acharem as melhores flores perto do rio, não prestava atenção ao certo no que o melhor amigo falava.

A mente de Stan se encontrava perdida com a intensa memória da garota que havia trombado consigo na escola, uma magrela dos olhos azuis, cabelos dourados e armações ovais no rosto. Se lembrava de vê-la pedindo desculpas enquanto fugia de Victoria e seu triozinho de amigas, pegando rapidamente suas coisas enquanto procurava seus óculos pelo chão.

Uris prontamente a ajudou a se levantar e lhe entregou os óculos, como um verdadeiro cavalheiro que sempre fora. A menina, Patrícia Blum, essa que descobriu o nome mais tarde na lista de chamadas, agradeceu sem jeito, com um pequeno sorriso.

Stanley jamais imaginou que cada pecinha prateada nos dentes de alguém o chamariam tanto a atenção, murmurou um "de nada" meio sonso e observou a menina ir embora.

All Together Again - ReddieWhere stories live. Discover now