Capítulo 25 - Matteo

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Alívio!
Era essa palavra que traduzia tudo que Matteo sentia naquele momento. Beatrice dormia ao seu lado, onde ela pertencia, onde ele poderia protegê-la. Os últimos dias haviam sido terrivelmente assustadores. Sentir a vida querendo se esvair dela o havia apavorado e feito ver que aquela luz o mudou de uma forma irreversível. Ele nunca sentiu esse pavor e esse medo antes.
Quando seus pais morreram, eles simplesmente foram. Não deram aviso, não ficaram entre a vida e a morte. Com seu irmão, o mesmo aconteceu. Marcus estava bem, feliz e saudável e de repente a vida lhe fora arrancada sem a chance de um último suspiro.
Beatrice não. Ela estava ali todos aqueles dias, palpável, respirando com dificuldade, mas ali. Saber que a qualquer momento ela poderia simplesmente não estar mais o havia destruído. Saber que a qualquer momento ele poderia perder a mulher que havia roubado seu coração e  feito ele encarar um tão frágil e perdido Matteo que havia ignorado por anos e que agora não sabia viver mais naquela escuridão de antes, o havia desesperado.
Sempre foi fácil recorrer a sua escuridão, àquele caminho frio, sem luz e deserto. Aquele havia sido seu refúgio por anos, ele mal se lembrava do Matteo antes daquela imensidão que o havia engolido. Porém, quando Beatrice veio, ela trouxe uma luz que nunca havia conhecido e ao tê-la perdido uma vez, por mais que tentasse, Matteo havia percebido que nunca mais conseguiria entrar naquele limbo de tristeza e solidão de antes. E agora, ele tendo a quase perdido definitivamente, com certeza seria sua ruína e ele não saberia se conseguiria respirar sem ter a ela.
Matteo havia mudado muito e ao mesmo tempo que se sentia fraco por ter esses sentimentos tão aflorados, se sentia forte por ter, apesar de tudo, conseguido sentir algo depois de tudo que já viu, fez e passou.
— Ao mesmo tempo, Matteo sentia o ódio o dominar. Ele precisava saber quem era o maldito que havia feito aquilo e ameaçado uma das pessoas que mais amava em sua vida e o faria pagar. Ele não confiava em Ângelo, mas precisou dar uma baixa em sua guarda, pois ele não estava focado o suficiente para pensar em como lidar com as pistas que foram aparecendo e o Grecco havia tomado conta dessa parte enquanto ele, como um homem fragilizado devido ao seu grande amor por uma mulher, foi incapacitado de pensar em qualquer outra coisa que não fosse no ar entrando e saindo do corpo dela.
Enquanto olhava para baixo em seu peito e a via entrelaçada em seu corpo, com a respiração suave e compassada, as lembranças do ocorrido o fazia sentir um amargor em sua boca, a imagem de Beatrice caída no chão e coberta de sangue, invadia a sua mente lhe causando calafrios. Matteo sabia que não dormiria tranquilo enquanto não soubesse quem era o verdadeiro culpado e acabar com a existência do maldito e fazê-lo sofrer até implorar pela morte.
Ele olhava o teto que refletia pequenas luzes vindas da janela e Beatrice se mexeu o fazendo voltar sua atenção para ela, que ainda dormia. Ele sempre gostou de vê-la dormir, sua expressão serena lhe transmitia paz, só ele sabia o quanto sentiu falta de momentos assim quando ela não estava ali. Ele olhava Beatrice dormir ao seu lado admirado e aliviado. Os cabelos sedosos dela invadiam seu peito e o seu cheiro inconfundível as suas narinas. O calor do corpo da sua Luce o aquecia enquanto ela se enredava a ele. Finalmente, depois de meses, ele a tinha em seus braços e prometia a si mesmo naquela noite escura que não a deixaria ir... Nunca mais.

*

O dia chegou e com ele, os olhos verdes brilhantes e um sorriso doce na boca da mulher a quem em breve Matteo chamaria de esposa. Beatrice acordou sonolenta e ao contrário do que Matteo temia, ela não o afastou, apenas se aconchegou mais a ele, o abraçando em sua cintura e cheirando seu pescoço. Enquanto em silêncio, eles curtiam a presença um do outro, Matteo ouviu um burburinho, seguido de alguns gritos agudos.
Assustado e temendo que Beatrice, que havia adormecido novamente, acordasse, se desvencilhou dos braços aconchegantes dela e saiu apressado pela escada ainda descalço e descabelado, se deparando com uma Lúcia descompensada e um Ângelo extremamente sério.
— Mas que diabos está acontecendo aqui? — Perguntou atônito olhando a cena.
— Como você pôde aceitar esse homem dentro da sua casa Matteo? — Havia um certo temor na voz de Lúcia.
— O fazem aqui a está hora?
— Tenho algo para te dizer a respeito do que aconteceu a minha prima — Ângelo falou voltando olhar na direção de Lúcia que parecia desesperada por algum motivo.
— Matteo...
— Calada Lúcia! O que descobriu?
— Estamos ainda investigando a respeito dos homens que foram mortos durante o ataque, porém descobrimos que um deles é um antigo funcionário da família Russo e eu estava questionando a sua cunhada a respeito disso, afinal, é sobre a família dela que estamos falando — Ao terminar de falar, Ângelo deu olhar fuzilante na direção de Lúcia que estava branca como um papel.
— Matteo você não pode permitir que esse sujeito...
— Eu disse para você calar a boca Lúcia, não me faça perder a paciência.
- Mas...
— Ângelo me acompanhe por favor — Falou, olhando para Lúcia que se mantinha pálida.
Matteo foi em direção ao escritório acompanhado de Ângelo, não se preocupando com seus trajes.
— Diga o que conseguiu? — Perguntou ao fechar a porta dando o olhar duro para Lúcia que vinha em direção ao escritório.
— Você confia nessa mulher? — Grecco questionou, se sentando no sofá antes que Matteo o convidasse a se sentar.
Matteo não entendeu o questionamento.
— Lúcia? — Buscou uma afirmação.
— Sim Moretti, Lúcia. Você realmente confia nela?
— Eu não tenho o porquê de não confiar, pois diferente da irmã, ela sempre foi leal a mim e minha família.
— E você já se questionou o porquê de toda essa lealdade?
— Podemos ir direto ao ponto? Não estou com paciência para rodeios — Recostou na mesa e cruzou os braços.
Matteo observou o homem endurecer as feições.
— Um dos meus homens achou que era uma boa ideia saber um pouco mais sobre os homens que foram mortos na troca de tiros, e imagine o quão surpreso fiquei ao saber que um deles era Alessandro Bonelli, um dos ex-chefes de segurança da família Russo. Pietro falou com ironia na voz e tirou um charuto, cortando a ponta com o dente e acendendo.
— Onde está querendo chegar? — Fechou o punho tentando conter seu nervosismo — Está me dizendo que os Russos que comandaram o ataque?
— Você ouviu bem o que eu disse? Ele não fazia mais parte dos funcionários da família Russo, mas até onde sabemos ele continuou a fazer alguns serviços por fora para a filha do velho Russo. E você sabe muito bem que a única filha é a sua cunhada, já que a outra filha está morta — Matteo sentiu um gosto amargo em sua boca, Lúcia não faria algo assim.
Ele sabia que a cunhada não gostava de Beatrice, imaginava que fosse um tipo de proteção, algo relacionado a memória da irmã e claro, ciúmes. Sempre confiara nela de olhos fechados, mesmo ela tendo algumas atitudes mesquinhas, era excelente a frente dos negócios e por mais que nos últimos tempos ela tenha se declarado, Matteo a conhecia o suficiente para saber que aquilo era carência e vontade de poder. Lúcia sempre havia deixado claro que não compactuava com as atitudes da sua família. Não, ele não conseguia imaginar uma atitude tão baixa vinda de uma pessoa que ele sempre confiou, não era passível. Porém... Também não era impossível, afinal, ela era uma Russo e como tal, era capaz de tudo.

Diurno - Entre A Luz E A EscuridãoWhere stories live. Discover now