Diurno - Entre A Luz E A Escuridão

Capítulo 10 - Beatrice

Beatrice olhava para aquela imensidão negra que tanto a havia feito falta. Ela se sentia totalmente e completamente vazia enquanto dizia aquelas palavras a Matteo. Ele repetiu aquilo que ele havia dito e se quebrou ao pronunciar cada ofensa.
Suas mãos ainda estavam sujas de sangue, por mais que ela soubesse que não havia uma gota daquele líquido carmesim em seu corpo,  mas ela se sentia suja e se perguntava se era assim que Matteo se sentiu quando matou alguém pela primeira vez. Ela queria perguntar, queria expor seus sentimentos ao homem que há pouco tempo atrás era seu amigo, confidente e amante... Mas tudo era diferente naquele momento.
— Beatrice, você não pode me expulsar assim da sua vida! Ele disse.
— Não estou te expulsando de nada. Não há como ser expulso de um lugar em que você não está! E o senhor, não está na minha vida.
— Beatrice... Ele ergueu a mão com o intuito de tocá-la,  mas ela desviou. Foi então que um médico de aproximou deles.
— Vocês são a família de Adam Harris?
— Sim! Eu sou.
— Senhor Adam teve uma perfuração no pulmão e precisou passar por uma cirurgia complicada para retirada do projétil.  Nesse momento ele foi enviado para o centro de tratamento intensivo e as próximas quarenta e oito horas são essenciais para saber como ele ficará.
— Eu posso vê-lo? Por favor.
— Apenas do lado de fora. Não é permitido a entrada no quarto, mas há um vidro ao qual poderá vê-lo. O médico disse e caminhou com ela. Beatrice tentava ignorar a presença de Matteo ao seu lado que se mantinha calado, mas seu maldito corpo respondia aquela intensidade que dele emanava. Os meses podiam ter passado e as palavras sido jogadas ao vento, mas aquela conexão era impossível ignorar. Assim que Beatrice chegou ate a janela,  viu Lucca ligado a vários aparelhos, conectado a diversos fios e tubos. Sua garganta se fechou e sua respiração ficou ofegante enquanto via o que havia causado ao seu amigo.
— Luce... Matteo sussurrou enquanto se aproximava dela. — Ele vai ficar bem.
— Me deixe sozinha!
— Não farei isso Beatrice, por mais que me peça. Eu estarei aqui sempre.
— Vá embora Moretti! Ela disse enquanto o encarava. Sua garganta estava fechada, sua vontade de desmoronar era imensa e ela sabia que não aguentaria muito antes de se entregar àquilo que estava segurando. Seus olhos começaram a pinicar e sua garganta se fechou. Ela sabia que não suportaria mais e por isso correu.
Beatrice correu em direção ao banheiro e ao entrar, sentiu um corpo junto ao seu, que a puxou em um abraço. Ela não queria, não podia ceder, mas ao sentir o calor que tanto lhe era familiar e o cheiro que tanto lhe fez falta, cedeu e se entregou a dor daquele momento, soluçando. Toda vez que fechava os olhos, via o sangue inundar a sua frente e as palavras desnortearem seus pensamentos.
— Eu estou aqui Beatrice, estou aqui. Matteo dizia enquanto acariciava suas costas.  Passados alguns minutos, enquanto ela se acalmava, percebeu o que estava fazendo e com um empurrão o afastou.
— Me deixe  paz! Ela exigiu, enquanto enxugava suas lágrimas.
— Mia Luce, precisamos conversar.
— Não há mais nada a ser dito. Ela respondeu enquanto tentava passar por ele.
— Beatrice. Matteo insistiu a pressionando. Foi então que sua mão encontrou o rosto dele e ela sentiu sua palma queimar.
— Você me destruiu Matteo! Não vê? Eu não tinha mais sonhos em ter uma família, você me deu isso, você trouxe de volta esses sonhos. E foi você quem os queimou, me queimando nesse processo.
— Eu... Eu sinto muito. Você não sabe...
— Não! Eu realmente não sei.
— Eu te amo Beatrice.
— Eu não quero seu amor! Ela disse, enquanto sentia qur o que havia sobrado de seu coração acabara de quebrar. — Eu não quero ser amada por você dessa forma! Isso não é amor. Ela disse o empurrando, vendo as íris negras vazias enquanto sentia que Matteo, assim como ela, estavam se despedaçando em milhares de pedaços. Ele ficou inerte e Beatrice conseguiu abrir a porta e passar.