Capitulo 23 - Matteo

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Matteo observava pelo espelho do retrovisor a interação de Beatrice e a Aurora, sentia o coração aquecido em saber que estaria sobre o mesmo teto que a mulher que amava, ele iria cuidar de tudo para que ela tivesse a melhor recuperação possível, mesmo sabendo que ela partiria assim que estivesse completamente curada. Matteo usaria sua estadia para reconquistá-la e não desistiria fácil. O choque de quase tê-la perdido fez com que tivesse mais foco em trazê-la para perto, em protegê-la.
Nos últimos dias tudo que importava era a recuperação de sua Luce, agora com ela fora de perigo encontraria o infeliz que havia planejado aquele ataque e faria com que sangrasse. Ele olhou pelo retrovisor e viu Aurora apertar as mãos de Beatrice com força enquanto a mulher de olhos verdes olhava para a janela, perdida em seus próprios pensamentos.
Suas mãos apertaram o volante com força.
— Ei, está tudo bem? — Sua irmã perguntou tocando seu braço.
— Está sim, chegamos. — Olhou para trás vendo o rosto de Aurora se iluminar, ela estava feliz por ter Bea de novo em casa.
Matteo esperou sua irmã auxiliar a amiga descer do carro para se aproximar, a pegando no colo em seguida.
— Me solte Matteo, eu posso andar! — Falou sobre protesto.
— Lembra que o médico disse repouso absoluto? Você pode andar, mas não vai. — Ele pôde ver de soslaio um sorriso brotar notários de Giovanna.
— Me solte por favor, não tem necessidade disso.
— Meu papai é muito forte eeeeeh. — Aurora gritou eufórica com a cena, dando pulinhos que acabou fazendo todos rirem.
Matteo caminhou segurando Beatrice, que ainda resmungava irritada. Ele não iria de forma alguma perder a oportunidade de tê-la em seus braços.
Assim que entrou pela porta da sala, ouviu o latido daquela bola de pêlos minúscula.
Quando era criança, adorava cachorros, mas após ver seu tio usar os animais como se fossem arma de tortura, passou a se manter afastado.
"— Veja Matteo que beleza — Seu tio surgiu no galpão segurando pela coleira um cachorro da raça rotwiller da cor preta, em seguida, viu um dos homens entrar com mais dois. Os animais latiam furiosos.
— O que fará com eles? — Questionou assustado.
— Eles farão companhia para os nossos amiguinhos garoto! — Apontou em direção a sala onde havia dois homens que tinham sido pegos roubando mercadoria.
Seu coração bateu acelerado e um arrepio subiu pela sua espinha tentando não pensar no que aconteceria quando o tio trancasse os animais naquela sala."
— Orion, eu senti saudades — Aurora o pegou no colo levando lambidas que lhe arrancaram risadas fofas.
— Me coloca no chão — Cochichou entredentes, balançando que pernas como uma menina teimosa.
Matteo ignorou a fala de Beatrice indo em direção às escadas, sendo seguido por Aurora que segurava Orion no colo.
Matteo esperou que Aurora abrisse a porta do quarto para que ele entrasse. Sei desejo era te-laao seu lado, em seu quarto, mas a opção mais acertada e manos assustadora para ela seria em seu antigo quarto. Foi por isso que ele a levou até lá. Quando ele percebeu que que a havia perdido realmente, o desespero foi latente e aquele quarto havia se tornado seu. Na medida que o tempo passava e ele não não encontrava, percebia também que o cheiro dela aos poucos ia apagando e seu pavor em um dia imaginar não se lembrar mais daquele aroma o assombrava.
Tudo que ele queria era dividir o seu quarto com sua Luce, passar as noites a amando e acordar com seu sorriso iluminado, mas por hora se contentaria em tê-la perto. Faria de tudo para que  não fosse embora.
— Pode me colocar no chão por favor? — Beatrice se mexeu tentando descer.
— Vou colocá-la na cama.
— Eu não estou inválida Matteo, eu posso andar! — Bufou, mas viu o momento que ela fez uma careta e levou a mão inconscientemente no local da cirurgia.
— Nada disso, nós dois sabemos que você precisa de repouso e você tem dor!— Falou enquanto a colocava sobre a cama.
— O médico não disse nada sobre não andar e os remédios tem me ajudado.— O fuzilou com o olhar, e ele ignorou sua fala.
Aurora subiu na cama e se sentou ao lado de Beatrice, que agora pegava a pequena bola de pêlos no colo e lhe fazia carinho.
— Que saudades meu Órion! — Ela disse com a voz fina e mansa, como se falasse com um bebê. 
Matteo  Coçou a fronte e sorriu ao pensar que aquele animalzinho não poderia ter escolhido dona melhor.
— Bea, sabia que Órion adora ficar no quarto do meu papai? — Aurora questionou, surpreendendo a ambos.
— E você deixa filha?
— É claro! Órion gosta de deitar na sua cama do lado que fica a blusa da Bea.
Matteo sentiu suas bochechas queimarem ao perceber o que sua filha havia acabado de falar. Os olhos de Beatrice foram até ele e a ruga surgiu em sua testa.
— Que blusa?
— Uma que...
Matteo foi salvo ao ver Giovanna e o namorado entrarem no quarto.  Ivo carregava um buquê de orquídeas e o ofereceu para Beatrice que aceitou um pouco constrangida.
— Desejo melhoras.
— Obrigada e... Quero agradecer também por ter me ajudado naquele lugar.
— Sempre. Não há nada a agradecer. Ele sorriu, abraçando ainda mais Giovanna e depositando um beijo em sua testa.
— Bea, Ana está preparando uma sopa para você e já irá subir, quero saber se há mais alguma coisa que precise.
— Está tudo bem Gio. Eu... Só preciso descansar um pouco.
— Titia, tem que trazer brigadeiro também! — Aurora disse, fazendo ela sorrir. — Eu prometi que ela teria brigadeiro todo dia!
— Ana vai trazer meu amor!
— Tá bom. Ela concordou seria, dando o dedo para Beatrice que fez o mesmo para a filha.
O primeiro a ligar foi Lucca, inicialmente ele gritou com Matteo, porque ele havia confiado Beatrice a ele e ela havia quase morrido. Matteo percebeu que o homem estava no seu limite e ignorou seu estresse e explicou a ele que Beatrice estava se recuperando. Logo em seguida, veio a comitiva liderada por Alex e o maldito Alejandro que trouxe flores e ficou horas com Beatrice que sorria diante das asneiras que lhe contavam. Já se passavam das nove da noite quando Matteo finalmente conseguiu ficar a sós com ela.
— Boa noite. — Ele cumprimentou, enquanto carregava a bandeja com a xícara de chá. Ela sentia dor,  mas assim que o viu, tentou se recompor e não mostrar sua fragilidade.
— Boa noite.
— Trouxe um chá de camomila para ajudar a te relaxar e você dormir melhor.
— Não precisava. Mas obrigada.
Matteo a entregou o Pires e a xícara e se sentou ao lado da sua cama, na cadeira.
— Como esta se sentindo? O dia foi intenso hoje.
— Estou bem. Só um pouco cansada.
— Aos poucos você vai melhorar.
— Matteo. — Ela o chamou enquanto bebericava o chá. — Você sabe quem fez isso?
— Ainda não sei. Mas vou descobrir.
— Tem a ver com os Grecco, será?
— Não se preocupe com isso agora mia Luce.  — Ele respondeu enquanto acariciava sua bochecha. — Quem quer que seja, irá pagar. Agora descanse. — Sussurrou vendo os olhos dela pensarem. Ele se levantou e afofou o travesseiro, a cobrindo com o edredom. Matteo continuou no quarto, vendo a respiração dela aos poucos ir se acalmando enquanto o sono a dominava. Matteo não sabe quanto tempo ficou ali parado,  observando Beatrice dormir.
A respiração dela, a forma como ela se movimentava enquanto o ar entrava e saia de seu corpo o acalmava. Quando ele pensou que a perderia para sempre,  Matteo sentiu que o seu mundo estava acabando naquele momento. Imaginar um mundo sem Beatrice era infinitamente pior do que aqueles meses em que ele não sabia onde ela estava, mas sabia que sua luz continuava nesse mundo.
Matteo só saiu do quarto dela quando viu o sol se levantar, anunciando o novo dia que surgia. Ele foi até seu quarto tomar um banho e ao abrir sua gaveta do criado mudo, viu ali o bolo de papel.
Matteo os pegou e sentiu o peso deles em suas mãos.  Aqueles papéis haviam sido sua companhia enquanto Beatrice estava ausente e ele se perguntava se deveria entregar a ela aquilo que seu coração se expressou através da sua escrita.
— Senhor. — Leonel o chamou. — Há uma visita para senhorita Beatrice.
— Mais uma? Quem é?
— Os Greccos senhor. – O homem disse, enquanto abaixava os olhos. 

***

Matteo via aquelas crianças correrem entre o quarto e o corredor e se perguntava o que diabos havia acontecido. O Grecco estava em sua casa -SUA CASA- Acompanhado de uma mulher simpática e duas crianças e uma adolescente que imediatamente se tornaram amigos da sua filha.
Sua cabeça doía e nem era pelo barulho que eles faziam, mas sim por pensar onde foi que pecou para pagar por todos os seus pecados assim. Ele sabia onde havia pecado, inúmeras vezes... Mas não deixava de se questionar.
— Quem diria Moretti. — Ângelo disse, se posicionando ao seu lado, olhando as crianças correrem enquanto Beatrice e a esposa, junto a Giovanna se divertiam dentro do quarto. — Um Grecco e um Moretti, lado a lado, observando os filhos brincarem juntos. — O Grecco disse, sorrindo irônico enquanto os olhos azuis brilhavam de divertimento.
Matteo se manteve calado enquanto tentava controlar seu gênio.
— Eu levaria Beatrice comigo. Ela estaria segura e protegida sob meus cuidados.  — Ângelo falou, enquanto esperava sua reação, que não tardou em vir.
— Ela está segura comigo! Eu posso protege-la.
— Exceto quando não é você que a machuca. — Ele respondeu fazendo Matteo se por na defensiva.
— Já aprendi minha lição. Nunca irei feri-la novamente.
— Eu imagino que a dor de quase perder seu grande amor, o faça repensar em suas atitudes. Talvez eu lhe dê o benefício da dúvida. — Grecco respondeu lhe dando as costas e foi até o menino que havia acabado de cair. — A propósito, sei que está em busca do mandante do atentado, pois saiba que eu também. Ninguém toca a minha família e fica impune. —Completou, alcançando o menino que berrava.
As crianças de Ângelo nutriam um carinho impressionante com Beatrice e pelo desconcerto dela, estava tão surpresa quanto ele com a demonstração de afeto.
— Você sabe que Bea é quase minha mamãe? — Aurora perguntou ao menino menor que corria desesperadamente.
— Ela é minha prima. Papai disse que quando eu crescer, tenho que proteger ela igual tenho que proteger meus irmãos. Se ela é sua mamãe, então eu devo proteger você também né?
— Papai, ele também deve me proteger?
— Aurora, agora ninguém precisa proteger ninguém meu amor. — Beatrice respondeu indo a favor de um Matteo que estava horrorizado com a situação.
— Com licença. — Ângelo pediu enquanto ia atender o telefone. Ao retornar para o quarto, o homem estava diferente e ele percebeu que havia acontecido algo.
— Crianças, precisamos ir agora. Voltaremos depois para ver sua prima. Despeçam dela. Ele ordenou sério. 
Enquanto eles saiam, Matteo fez questão de acompanha-los até a porta e ao ver a esposa e as crianças de Ângelo entrarem no carro, sentiu quando o homem exitou e retornou até onde ele estava.
— Temos uma pista de quem provocou esse atentado. Estou indo atrás da pessoa daqui duas horas. Caso queira, e eu acho que quer, se envolver, me encontr no porto as 16 horas. Ele disse, entregando a Matteo um papel com um endereço e saindo.
Matteo leu aquele bilhete e percebeu que havia coisas que Ângelo ainda não o havia dito e que ele precisaria descobrir ao ir até aquele lugar.
Ao subir, viu Beatrice sozinha, tentando se levantar. Ele correu até ela e a ajudou , antes que pudesse se machucar.
— Eu consigo sozinha.
— Eu sei que consegue. Isso não significa que precise.  — Ele sussurrou, enquanto o olhar dela o enredava em sua imensidão verde. Suas respirações estavam tão próximas que ele já não sabia mais qual era a sua e qual era a dela. O calor do corpo dela o queimava na mesma proporção que ele se sentia gelado de expectativa. Sem que pudessem explicar, seus corpos foram se aproximando um do outro, cada vez mais, como dois irmãs que se atraiam. Os seus narizes se encostaram um no outro e suas respirações ficaram ofegantes enquanto sentiam o sabor doa lábios um do outro e a umidade de suas bocas ao se entregarem ao desejo e amor que seus corações ansiavam.

Continua...

Diurno - Entre A Luz E A EscuridãoWhere stories live. Discover now