Diurno - Entre A Luz E A Escuridão

Capitulo 11- Matteo

Deixar Beatrice foi com certeza uma das decisões mais difíceis que ele já havia tomado. Mas as palavras de Giovanna sobre a situação da sua filha e as palavras de Lucca se misturavam em sua mente.

"Matteo abriu a porta do quarto e entrou. Ele queria saber se Lucca estava recuperado, mas não esperava que ele quisesse vê-lo.
— Moretti! Falou com a voz mais fraca do que ele se lembrava.
— Como se sente? Perguntou se aproximando, tentando manter a cordialidade.
— Vou sobreviver. 
Um silêncio tomou conta do ambiente, Matteo não sabia o que dizer, ele nunca gostou daquele homem que estava ali.
— Por que você me salvou? Perguntou Lucca quebrando o silêncio
— Eu não o salvei. 
— Você sabe que isso não é verdade, se não tivesse atirado naquele homem, eu estaria morto nesse momento. Disse  fazendo uma careta. 
— Está tudo bem? Matteo perguntou 
— Sim, acredito que o efeito dos remédios está passando. 
— Acho que já demorei demais aqui. Te desejo melhoras. Falou seco.
— Eu não gosto de você Moretti. Lucca disse sério e Matteo o encarou. — Não gosto nada de você.
— O sentimento é mútuo. 
— Você não respondeu minha pergunta. Por que não deixou que aquele homem me matasse? Insistiu.
— Tive meus motivos. Ele não queria que Beatrice tivesse outra perda, mesmo aquele cara sendo um idiota, ele era importante para ela. 
Matteo caminhou até a porta disposto a sair dali. 
— Quando soube que Beatrice estava dentro da casa de um Moretti, eu fiquei louco. Lucca disse, fazendo Matteo parar com a mão na maçaneta. — Eu sabia que ela era uma Grecco. Ele disse e Matteo se virou. — Eu soube pouco antes da morte de Giovanni ou Salvatore, que seja. Ele me fez prometer que eu nunca diria a Bea sobre sua origem. Giovanni era meu mestre, meu professor e meu amigo. Ele me ensinou grande parte do que sei hoje. Eu o prometi que não contaria e o prometi que cuidaria da sua menina, como ele chamava Bea. Matteo sem dizer nada, se sentou em uma poltrona próxima a porta. — Beatrice sempre foi super protegida pelo pai. Giovanni a amava com loucura e dedicação. Ele se portava estranho as vezes, indo acampar com a família enquanto Bea tinha aula a fazendo perder vários dias de estudo, sumia por dias. Ele era incrível... E sombrio. Giovanni tinha marcas que seus olhos azuis denunciavam, mas poucos conseguiam ver. Quando Beatrice me disse que estava em sua casa, eu fiquei encurralado.  Eu sabia da sua fama pelos olhos de um Grecco desertor que viveu a vida fugindo da própria família e temendo o filho Moretti que buscava por vingança. Lucca parou e tossiu, pegando um copo de água e retomando o fôlego. Matteo se mantinha inerte e quieto.  Seu coração acelerado e suas mãos suadas contrastavam com sua feição calma. — Giovanni tinha apenas um apoio ao seu lado. Enquanto Beatrice tinha os pais, Giovanni tinha o sobrinho: Ângelo.  Quando então vi que ela corria perigo, eu não tinha como recorrer ao pai dela, então recorri a Angelo. Pietro sempre esteve ao lado de Giovanni, mesmo que não se mostrasse. Ele não podia ficar muito perto do tio por causa de Lucciano. Tanto que... Bom. Podemos dizer que a única forma de conseguir alguma ajuda, foi recorrer a quem conhecia toda a história. Beatrice é terrivelmente teimosa e eu sabia que sem um motivo forte, eu não poderia persuadi-la a sair da sua casa. Principalmente depois que vi o apego dela a sua filha. Eu não poderia contar a Bea sobre suas origens, era uma promessa, porém eu podia pedir ajuda a Angelo para que revelasse. Foi o que fiz. Aquele dossiê era para Beatrice e não para você.  Os dados sobre seu pai, sobre seu passado era para mostrar a Bea o porque de não poder ficar com você! Do porque ela estaria correndo perigo ao insistir nesse relacionamento.  Tivemos que apressar um pouco as coisas porque a relação entre vocês dois ficou séria demais. Pietro queria que ela o conhecesse antes de revelar a verdade... Mas deu tudo errado.
— Porque está me contando tudo isso? Matteo perguntou com a voz falha.
— Porque quero que entenda que Beatrice não traiu sua confiança. A forma que as coisas foram feitas foi errada. Mas a partir do momento que ela quis vir embora, eu a trouxe. Porém... Ela não esqueceu você. Lucca se esforçou para falar mais alto.
Matteo o encarou e pôde notar os olhos daquele homem marejados. — Você a ama o suficiente? O suficiente para ignorar o sangue que corre nas suas veias? Perguntou.
— Sim, eu amo. Isso não significa nada para mim. Falou, desarmando sua postura fria.
— Eu sempre a amei! Amo Beatrice com todo o meu ser. Mas não fui capaz de protege-la. Eu sou o culpado por tudo que ela passou. Lucca disse baixo, olhando para suas mãos. — Eu sei que ela nunca vai me amar, não dá forma como ela o ama. E na verdade eu não mereço o seu amor. 
Matteo sabia que ele a amava, sempre soube. Desde o primeiro momento que o viu perto dela. Ouvir aquilo o fez  fechar o punho tentando conter sua raiva. 
— Não, eu não terminei de falar. Disse Lucca levantando a mão quando Matteo fez menção de dizer algo. — Beatrice merece a chance de ter uma família. Ela merece ter um homem que pode passar por cima dos seus traumas e ódio simplesmente porque a ama e ela merece ter uma filha. Beatrice ama sua menina com loucura e eu sei que o que você sente por ela é verdadeiro, sei que você faria qualquer coisa por ela. Talvez até salvar a vida de alguém que você não suporta não é mesmo? Levantou a sobrancelha e deu sorriso de canto.
— Sim, eu amo mais que a mim mesmo. Beatrice... Abaixou o olhar. — Ela é a minha luz. 
— Então não a perca. Beatrice está ferida, magoada e perdida. Seja paciente e não desista desse amor. 
— O que está dizendo? Perguntou incrédulo.
— Quero que me prometa uma coisa. 
Matteo ainda tentava assimilar cada uma daquelas palavras. 
— Me prometa que nunca mais irá machucá-la, que irá protegê-la a qualquer custo.
Matteo permaneceu imóvel, em completo silêncio. Ele não esperava ouvir algo assim vindo daquele homem.
 — Prometa! Eu quero que prometa. 
— Sim, eu prometo.
— Não a pressione, Beatrice reage mal quando pressionada. Deixe-a ter seu tempo. E quando ela estiver pronta, leva-a para o seu verdadeiro lar. Disse Lucca levando a mão no rosto e secando a lágrima solitária que teimou em escorrer."