Capítulo 21 - Matteo

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Matteo queria chorar enquanto via Beatrice correr pela porta afora. Nada do que fizesse, nada do que dissesse, poderia mudar o fato de que havia destruído tudo. Seu coração parecia querer sufocá-lo e sua cabeça latejava. Ele viu seu reflexo desgrenhado no espelho, seus olhos vermelhos e desesperados demonstravam a ele o maldito idiota que era e o cheiro impregnado de sexo pairava no ambiente pequeno.
- Argh! Ele gritou, pegando a saboneteira e acertando o espelho, vendo-o se estilhaçar em diminutos pedaços, deformando seu rosto no reflexo. Respirando fundo, saiu atras de Beatrice. Ele não desistiria, não ainda! Não enquanto ela demonstrasse sentimentos por ele, não enquanto seu corpo correspondesse ao seu toque, seus olhos demonstrassem saudades e seu coração pulsasse debaixo das suas mãos.
Matteo correu porta afora e a cena a qual se deparou parecia como se o inferno houvesse descido sobre a terra e o estivesse engolindo.
Diante dele havia uma Giovanna que empurrara Beatrice que estava com a cabeça na mira de um revólver. Tudo foi rápido demais, Matteo viu apenas quando sua irmã ao tentar salvar Beatrice, foi acertada no braço por um projetil e Ivo havia sacado a arma, acertando o homem que havia acabado de atirar. Com desespero, ele procurou Beatrice até encontrá-la no chão. Seu vestido bordô no cimento, se misturava ao sangue que começava a escorrer e jorrar.
- Beatrice! Ele gritou enquanto sentia os disparos o envolverem, pouco se importando se algum lhe acertaria.
- Matteo foi a última coisa que ela disse, antes que os seus olhos se fechassem.
- Matteo, ajuda a Bea! Giovanna gritou enquanto era acolhida por um Ivo desesperado e muito, muito diferente do que apresentava diariamente.
Matteo se jogou de joelhos até o asfalto que começou a ser tingido de vermelho e não era pelo seu vestido que a enfeitava como uma deusa grega sensual e sim pelo sangue que escorria insistentemente da sua barriga.
- Beatrice, acorda! Pelo amor de Deus, acorda... ACORDA! Ele começou a sacudi-la, desesperado, enquanto via a cor da sua pele sumir e dar lugar a um branco pouco comum. - Mia Luce, não faça isso, vamos! Por favor, por favor! BEATRICE!
- Matteo, como Bea... Giovanna continuou dizendo algo, mas um zumbido começou a tomar seus ouvidos na mesma proporção que suas mãos tremiam e suavam - Matteo, MATTEO! Giovanna gritou e ele só conseguiu ouvi-la, depois de sentir o tapa em seu rosto, o trazendo de volta daquela escuridão que começou a dominá-lo a sentir o corpo inerte de Beatrice em suas mãos. Até aquele momento, Matteo não havia percebido que os disparos tinham terminado, ou as lagrimas que escorriam do seu rosto e molhava a pele translucida de Beatrice que respirava com dificuldade, enquanto o sangue empapava sua mão que segurava, como se dependesse disso sua sobrevivência, a ferida aberta no corpo da mulher que ele amava.
Matteo sentiu seu corpo ser puxado de cima do de Beatrice e viu com impotência paramédicos a socorrerem, rasgando seu belo vestido até a cintura, tendo o cuidado de tampar seus seios com um pano verde enquanto sondavam a ferida que já não sangrava tanto. Ele não sabia se era porque havia conseguido estancar o sangramento ou se porque não havia muito mais sangue a escorrer, devido ao tamanho da poça que se formou debaixo do corpo pequeno e frágil dela.
- Meu Deus, meu Deus! Giovanna dizia ao seu lado enquanto caminhava de um lado para o outro, nervosa. Sua irmã havia sido atendida e seu braço enfaixado, mas ele não se importou, porque sabia que ela estava bem. Seus olhos focavam Beatrice que começava a ser colocada sob a maca e levada as pressas para a ambulância de emergência. Seus pés, por mais que parecessem pesar uma tonelada, conseguiram se mover em direção a ela e ele se interpôs entre o socorro e a porta da ambulância.
- O senhor é o que da paciente? Uma mulher perguntou e Matteo por um momento não soube o que dizer. Seus olhos focaram na figura pequena de Beatrice e com autoridade respondeu.
- Ela é minha noiva! Disse, empurrando a porta e entrando, segurando a mão minúscula que estava gelada, entre as suas mãos que estavam vermelhas.
Eles chegaram ao hospital em questão de minutos, mas para ele, pareciam horas enquanto segundo a segundo via a respiração dela mais lenta e mais difícil. Beatrice foi encaminhada diretamente a sala de cirurgia e ele foi deixado de fora, caminhando de um lado para o outro, sentindo um gosto amargo na boca, uma sensação de impotência que poucas vezes havia sentido em sua vida. Giovanna e Ivo chegaram pouco depois que eles e a sua irmã já foi disparando mil perguntas que ele não sabia responder, enquanto Ivo se mantinha com uma ruga na testa e um olhar que Matteo conhecia bem, um olhar que ele também teria, assim que soubesse que sua Luce estaria bem.
- Eu não sei Porra! Ele gritou, para ver se a irmã calava a boca. - Eu não sei de nada Giovanna! NADA!
- Matteo, você é um idiota! Ela gritou e começou a chorar, sendo amparada por Ivo que se mantinha calado.
Depois de horas, com ele azucrinando cada maldito funcionário em busca de notícias, o médico saiu, sendo abordado por um Matteo transtornado e uma Giovanna desesperada.
"Como ela está? O que aconteceu? Por que demorou?" Perguntas atrás de perguntas dos irmãos Morettis não pareciam intimidar o médico que mantinha a expressão neutra e o olhar apático.
- A senhorita Beatrice Grecco teve uma perfuração no fígado. A bala ficou alojada e precisamos remover uma pequena parte do órgão e fazer a extração completa do baço que foi afetado pelo trauma. Nossa maior dificuldade, sem dúvidas foi a contenção da hemorragia, que no momento está sob observação. As próximas 48 horas são cruciais para sabermos como a paciente irá reagir ao tratamento. Nesse momento ela foi colocada em coma induzido para que seu corpo possa descansar.
- Mas ela vai fica bem, certo? Ela só esta descansando, né? Giovanna perguntou com os olhos arregalados e assustados.
- Eu quero vê-la.
- Sinto muito, mas nesse momento ela esta no Centro de Tratamento Intensivo e apenas a família tem direito a vê-la.
- E-u s-o-u noivo dela!
- Mas não são casados. Sinto muito senhor Moretti, mas não pode vê-la no momento. O médico disse e virou as costas, como se Matteo fosse ninguém na vida da mulher que estava sozinha em uma cama de hospital. Assim que Matteo começou a caminhar em direção ao médico com a intenção de mostrar que ninguém o impediria de vê-la, Ivo o segurou e o empurrou para a parede, segurando seu tronco.
- Que porra você pensa estar fazendo moleque? Matteo gritou, tirando as mãos dele sobre seu corpo.
- Você não pode se descontrolar! Não agora. Ele disse, o pressionando novamente na parede.
Matteo e Ivo tinham praticamente o mesmo porte físico e altura, o russo ganhando alguns centímetros dele.
- Me solta seu merda! Ele gritou e empurrou Ivo, assim que ele ia partir para cima do moleque insolente, Giovanna se interpôs o impedindo de acertar a cara do maldito namorado.
- Parem! Agora! Ela gritou. Matteo sentia os olhos das pessoas neles, mas não se importou. Ele só queria ver Beatrice, ver o ar entrar e sair do seu corpo, sentir sua pele quente debaixo de suas mãos.
-O que diabos faz aqui? Ele praticamente gritou ao ver Ângelo caminhar em direção a porta que levava até a sua mulher. O maldito Grecco teve a capacidade de olhar para Matteo com o que parecia piedade e antes que ele pudesse questionar novamente, Ângelo respondeu sua pergunta.
- Beatrice é minha família e como tal, estou aqui para vê-la.
- Você não é nada para ela! Saia daqui!
- Matteo, por favor! Giovanna suplicou, vendo o irmão perder completamente o controle.
- Por favor senhor Grecco, me acompanhe. A enfermeira teve a audácia de chamar aquele maldito e levá-lo até onde o amor da sua vida estava lutando.
Matteo saiu porta afora, precisando respirar, já que sentia que o ar não entrava em seus pulmões. Ao sair para o pátio do hospital, caminhou até algumas arvores e então gritou, expondo pela primeira vez sua dor. Ele nunca a havia exposto assim antes, não quando seu pai e mãe morreram, não quando seu irmão morreu, mas agora a dor era intensa demais para conseguir conte-la. Era dilacerante e infinitamente pior do que ele se lembrava. Seus joelhos cederam enquanto seu corpo sucumbia ao gramado e suas mãos que ainda continham o sangue dela, repousava sobre a grama bem aparada. Matteo sentiu naquele momento toda e qualquer defesa que ainda possuía, se quebrar e virar cinzas. Pela primeira vez em horas, talvez em meses, ele se permitiu ser levado para um mundo em que Beatrice não existiria, um mundo em que seu sorriso não fosse mais visível, ou que seus olhos esmeraldas não brilhassem mais como milhares de estrelas da Noruega. Imaginar esse mundo escuro, em que ela não existia, em que ela não embelezava o seu entorno o sufocou e o jogou em uma espiral de pânico que nunca havia sentido antes.
- Acalme-se... Por favor, acalme-se! Matteo ouviu ao longe uma voz dizer, enquanto ele tentava se concentrar na sua respiração que lhe faltava. - Ela precisa de você, precisa que esteja aqui! Ouviu a voz mais forte e foi então que ele levantou os olhos para o homem que estava a sua frente, acima do seu corpo prostrado no chão.
Ângelo o olhava de cima, de onde sempre esteve, de onde os malditos Greccos sempre estiveram na sua vida. Os olhos azuis do homem eram complacentes e com assombro, Matteo o viu estender a mão para que ele se levantasse. Sem dizer uma só palavra, ele se apoiou no chão e se levantou sozinho, esbarrando na mão estendida do homem que sorriu ao ver seu gesto de revolta. Ele caminhou para dentro do hospital e foi até o banheiro, evitando se olhar no espelho, sabendo que sua aparência era de um homem fraco. Ele tentou lavar as mãos que continham o sangue dela e passou a mão no cabelo que estava desgrenhado, nunca realmente olhando em seus olhos refletidos.
Assim que saiu do banheiro, encontrou Ângelo encostado na parede o aguardando.
- Entre, Beatrice te espera, mesmo que ela ainda não possa vê-lo.
Matteo passou por ele e ignorou a multidão de pessoas que aguardavam na sala de espera. Alex, Alejandro e até mesmo Eda estavam ali. Passando por entre as portas brancas e sem um pingo de vida, ele se deparou com a cena que nunca, em toda sua vida, esqueceria. Beatrice estava deitada, imóvel, sob uma cama de hospital, com vários fios saindo do seu corpo e com o respirador que a fazia ter o oxigênio suficiente para ficar no mundo. Hesitante e com muito medo, ele caminhou e se sentou na cadeira ao seu lado, pegando delicadamente sua mão, com medo de machucá-la. Ele viu as veias azuis se destacarem sob a pele extremamente branca e contornou uma que ia da sua palma até seu pulso.
- Eu sei que você me ouve mia luce... Ele disse, enquanto se forçava a pronunciar palavras que explodiam em seu interior. - Você me ouve, assim como eu também consigo ouvi-la nesse momento. Nós... Nós estamos no mesmo ambiente nesse instante, seu corpo toca o meu corpo e sua pele sente a minha pele. Eu... Eu sei que tudo ficará bem e que os nossos desencontros serão finalmente superados. Temos muito o que viver mia Luce... Temos muito o que amar nesse mundo que foi tão cruel com nós dois. Você sabia? Era um segredo, ou talvez uma arma que eu usaria em um momento mais oportuno... Mas estou compondo uma música para você. Eu... Ele respirou fundo. - Eu irei apresentá-la quando estiver perfeita para que você possa ouvi-la.
Matteo disse, engolindo em seco e a olhando com os olhos marejados.
- Não faça que essa música seja outra coisa Beatrice. Não deixe que ela seja modificada... Eu imploro que essa música seja a que vai nos embalar em nosso casamento e não... Ele se impediu de continuar as palavras e para onde elas estavam levando seus pensamentos. - Eu a amo. Amo tanto que não me importo com nenhum nome, passado ou circunstância. Eu a amo sabendo que sem você, eu não consigo viver. Eu só preciso de um sinal mia luce, um pequeno sinal de que você me escuta. Ele implorou, abaixando a cabeça e deixando a lagrima solitária correr pelo seu rosto e repousar na mão de Beatrice que era amparada por sua mão tremula. Como se ela o tivesse escutado, um tremor sacudiu sua palma e ao observar de perto, Matteo percebeu que a mão delicada dela tentava apertar a sua, dando o sinal de que sim, tudo ficaria bem.

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Lúcia

- Maldiçãaaaaaao! Lúcia Berrou jogando o celular sobre a cama.
Ela estava furiosa em saber que os homens que ela havia contratado não passavam de uns incompetentes, além de não conseguirem matar a infeliz, ainda acabaram mortos pelo namorado daquela insuportável da Giovanna. Saber que agora que a maldita estava aos cuidados de Matteo, fazia com ela ficasse com mais ódio. Ela havia planejado aquilo logo que soube do baile de inauguração, sabia que a culpa nunca cairia sobre si, pois Matteo tinha muitos inimigos e graças a ela, estava conquistando mais sem que sequer ele soubesse. Lúcia estava disposta a fazê-lo perder tudo, até chegar o momento que seria a única coisa que sobrasse na sua vida.
- Eu vou acabar com você, nem que para isso eu tenha que descer até o inferno! Rangeu os dentes enquanto afundava as unhas pintadas com um vermelho vivo na carne de sua mão.
A porta se abriu de forma abrupta a assustando, ela olhou na direção e viu Filipo fechar a porta atrás de si e caminhar em sua direção com um sorriso sarcástico. O homem nunca havia saído do lugar onde sempre se encontravam. Ele nunca havia posado os pés no apart hotel que Lúcia ocupava e saber que ele estava ali, lhe enviou um arrepio pelo corpo. O seu cheiro mentolado misturado a tabaco invadiu o ambiente.
- Lúcia, Lúcia! Tsc tsc. Você andou aprontando não é linda? Segurou o seu rosto.
- Me solte! Não sei do que está falando! Ela sabia, e sabia que ele havia dito para não fazer nada parecido com aquilo. No entanto, ela nunca obedeceu nenhum homem que não fosse Matteo e não seria com o paspalho de Filipo que iria começar.
- Você acabou mandando minha priminha para hospital. Tão amadora.
- Se veio aqui apenas para dizer isso pode se retirar! Não estou com paciência para seu sarcasmo.
Lúcia sentiu seu corpo ser puxado e jogado na parede, sua espinha gelou ao sentir a mão forte de Filipo apertando seu pescoço, a mantendo pressionada no cimento frio.
- Não brinque comigo sua vadia! Eu te disse que cuidaria de Beatrice. Eu disse para não fazer nada! Gritou em seu rosto.
Lúcia se debatia tentando se soltar, a expressão de Filipo era demoníaca, ele deu um sorriso e passou a língua pelos lábios de uma maneira que parecia sentir prazer em vê-la lutar pelo ar.
- Nunca mais faça nada sobre minhas costas. Soltou-a fazendo com que ela caísse sentada no chão levando as mãos até o pescoço enquanto tossia. - Estamos entendidos, linda? Se abaixou segurando o seu queixo obrigando-a encará-lo. - Qualquer atitude sobre minha família, será EU a dar as cartas, não você! Ele disse, beijando sua boca e se levantando e saindo.

Continua...

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O

brigada pela música Debby ❤🤏

Diurno - Entre A Luz E A EscuridãoWhere stories live. Discover now