Êxtase

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Francisca beijava os lábios de Raquel com fome, fome da sua pele, fome do seu sabor, sede do doce suco dos seus lábios, conduziu o seu corpo até ao quarto sem nunca o largar, não queria desligar-se daquela energia, daquele calor.

Francisca trancou a porta do quarto e correu para Raquel que se encontrava deitada na cama, com o coração a palpitar,  esta elevou o peito para se aproximar de Francisca e sentiu o amargo e doce dos seus lábios, Francisca despiu a amante de toda a roupa que tinha no corpo como se desfolhasse a mais delicada e fragrante flor, deixou que os seus lábios percorressem toda a pele quente deixando apenas a roupa interior por retirar, despiu a sua própria roupa num ápice e encostou o seu corpo ardente ao de Raquel onde os sexos pulsantes imploravam pelo toque por baixo da fina camada da roupa interior.

 E durante aqueles minutos que para elas foram eternos e infinitos tiveram a esperada oportunidade de se amarem e de sentirem um simples toque elevado a outra dimensão, Francisca levou Raquel a conhecer o êxtase, o seu primeiro orgasmo.

 Depois do amor deixaram-se dormir por algum tempo e quando acordaram revelavam os mais brilhantes sorrisos no rosto, os sorrisos dos amantes.

"Francisca, vamos vestir-nos porque a Rosa deve estar quase aqui!" sussurrou-lhe numa voz íntima.

"Minha doce Raquel." beijou os seus lábios e ajudou-a a levantar-se e a procurar a roupa.

Depois de se vestirem foram até à sala onde se deslocavam com toda a leveza e felicidade, ligaram o rádio e devoraram uns biscoitos de canela que se desfaziam na boca.

"Pode vir a tempestade, a violência dos dias e tudo aquilo que tememos, este momento será sempre eterno, eterno como o cheiro da minha flor favorita, como correr livre no campo pela primeira vez." disse Raquel contemplando o entardecer pela janela da sala.

Francisca beijou a sua boca e parou para olhar para a sua figura, guardou cada traço, cada expressão e a imensidão da sua alma, fê-lo em silêncio.

"A minha tia nunca mais vem, deve estar a comprar coisas para o Natal!" disse ao acender um cigarro.

Raquel receou.

"Só espero que não lhe aconteça nada." 

Francisca conduziu Raquel até ao sofá.

"A Rosa Paula é muito inteligente, somos nós e tantas outras que ela já ajudou, nesta casa somos três mulheres, umas pelas outras sempre, com toda a força, ninguém derruba um muro destes com tanta facilidade, nenhuma de nós está sozinha, não pensemos no bicho papão, assim ele ganha força, vamos ouvir música e dançar, o papão não existe!" pegou nuns discos vinil que a tia tinha trazido de França.

Um disco de Serge Gainsbourg, tocava Le Poinconneur des Lilas, Francisca agarrou a mão de Raquel e puxou-a para dançar, tinha o cigarro entre os lábios de maneira a ter as mão livres para dançar, deixavam-se despentear, fazer todo o tipo de saltos de gestos descuidados, sentiam o prazer daquele pedaço de liberdade e guardavam-no na coleção de pedacinhos de liberdade, como se cada um deles fosse um degrau para uma liberdade maior.



A Liberdade de amarWhere stories live. Discover now