"Querida Raquel, espero que esta carta te encontre bem, refleti muitas vezes, tenho passado autênticas noites de confusão, não apareces na faculdade há quase um mês e isso deixa-me desarmada, esperei e desesperei no jardim da Estrela, apanhei frio mas não conseguia desistir, nem um sinal de ti desde aquela noite no ateneu em que permitiste que os outros vissem a tua luz, e que luz!
Comecei a frequentar algumas reuniões do PCP com a Rosa Paula, conheci outras mulheres e outros homens da resistência e tenho aprendido muito, nada me tira a esperança de que o meu pai ainda vai ser livre. Este mês temos o Natal mas eu e a minha tia não festejamos muito, o Natal tem um sabor amargo, o amargor da ausência, o amargor de saber que o pai está a ser torturado por eles.
Eu vejo-te, és para mim transparente desde que te conheci, não há maior intimidade do que aquela que tenho quanto te olho nos olhos, sei que alguma coisa está errada, sei que estás enclausurada, a Isa e a Júlia também perguntam por ti e olha que temem o pior, se leres esta carta, escreve-me, estou profundamente inquieta.
Um beijo,
Francisca "
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A Liberdade de amar
ChickLit"A liberdade de amar" Lisboa, 1973, Maria Raquel tem 22 anos e prossegue os estudos na Faculdade de Letras, era uma privilegiada, nunca sentira na pele a miséria da ditadura. Vivia no Lumiar com a família, um ambiente bastante tradicional, bastante...