35. O festival de Lumos, parte 2

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Derick

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Derick

Deveria ter impedido meus pensamentos depois daquilo, mas após virem a tona não consegui colocá-los no lugar onde estavam escondidos de novo, mesmo que estejamos de frente para um ancião que conta a história de como os lobisomens surgiram.

— Um pai desesperado vendo os seus filhos prestes a ser devorado por uma fera faminta, violenta e incontrolável rogou aos céus que a sua arma improvisada fosse o bastante para matá-la, contudo, com o sangue de um de seus filhos sendo derramado sob o solo percebeu que pedia demais — Luna se recosta em mim trazendo a tona todos os meus pensamentos que estava lentamente encaminhando para uma salinha onde pudesse trancá-los.

Controle-se Derick, você não é um animal.

— O lobo rosnava, uivava ao chamar sua alcateia e o homem sabia que a sua morte se aproximava, que se não tomasse uma decisão perderia todos, não poderia proteger nem mesmo a esposa que escapou com um bebê choroso em seu colo. Atacou sem misericórdia, brigou com o animal. Foi mordido, arranhado, mas fazia quantos ferimentos podia — é como se o ar fosse sendo tomado junto com as palavras que vai soltando, com a noite se tornando mais sombria, mais fria. Todos parecem estar guardando suas respirações.

Eu já ouvi essa história alguma vez?

Tenho a impressão de a forma como eu a ouvi não foi assim.

— Desesperado, com a sua vida por um fio conseguiu cortar o animal de cima abaixo tendo as suas vísceras banhando o seu corpo enquanto a lua iluminava a noite prateada, entretanto, as nuvens passaram a ficar rubras, avermelhando-se a cada gota do sangue do lobo que caia sobre o corpo do sujeito desesperado.

O que vai acontecer agora? Dirá que ouve um eclipse?

— A lua tomava a cor do sangue do animal morto, perdia o seu brilho ao dar vida a um novo ser animalesco que rugia ao implorar por comida, com a fome o enlouquecendo e comeria qualquer coisa em seu caminho, pois era a única coisa que estava em sua cabeça. Então correu, buscou por aquilo que poderia encher seu estômago até que ouviu o som do choro de um bebê cheirando a medo, encolhido nos braços da pequena mulher que tinha corrido de um animal para acabar nas mãos de um monstro.

As histórias não eram para dar um ar mais humano aos lobisomens? A intenção não é tirar o terror que sentem? Pois tenho a impressão de que isso apenas vai fazer com que tenham mais medo.

— Ele tinha perdido a cabeça, esquecendo-se do que fazia quando o animal tomou suas ações, mas ao escutar o choro do seu filho tão medroso teve de volta a sua consciência. Pode correr para longe, distante o bastante para que não os ferisse. Desse modo entendeu o lobo que tinha matado, que apenas buscava pelo que comer, e foram eles a estar na sua frente, por ser irracional se comparado a ele não podia fazer escolhas que os deixariam livres.

Essa é uma forma de dizer que o homem pode resistir ao animal dentro de si? Que deixá-lo tomar conta é uma coisa que acontece somente se permitir? É desse jeito que ensinam seus filhotes?

Lua sangrenta - Série Lobos de Ayvalle | Livro 1Where stories live. Discover now