taças

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Ruby

— Traz a taça para mim.

A voz de Jasmin ressoa sobre o apartamento, que eu estava prestes a entrar. Me sentindo sem um grande peso nas costas depois de conversar com Sofia. Algo nela me dizia que não adiantava eu sofrer por sua espera, ou ficar irritada por sua troca. Ela precisava encontrar ela mesma antes de me dar uma resposta. Precisava responder suas próprias perguntas antes das minhas, seria egoísta exigir dela que voltasse ao trabalho e me esquecesse completamente. Me pego prestando atenção no que se passava dentro do lugar. Assisto pelo vão da porta as mulheres que se alfinetavam em guerra.

— Eu não sou sua subordinada, e aliás o que estava quebrado era seu braço não suas pernas.

—Depois eu que sou a ranzinza, não é ? O médico disse claramente para eu não forçar o osso. Então seja boazinha e me traga a taça.

Consigo escutar passos, e um bufar irritado de Marina.

— O que eu fiz para merecer isso?! —Ela solta ao entregar a louça a outra mulher que sorri vitoriosa.

— Boa menina. —Jasmin provoca e a outra a fuzila com os olhos.

— Você devia estar bebendo enquanto faz fisioterapia?

— Que tocante, está preocupada comigo ? — Ela faz um biquinho e pisca os grandes olhos.

— Só estou fazendo meu trabalho, não se iluda — Marina responde como se estivesse brava, mas algo em seu tom de voz é quase divertido. Ela passa a mão pelos cabelos crescendo e fita Jasmin beber o líquido com satisfação nos lábios.

— O vinho era usado como prática medicinal no século xix. É como um remédio. — Minha sócia fala enquanto rodava o líquido avermelhado dentro da taça.

— Seríamos perseguidas antes de ter a chance de beber vinho.

— Por sermos mulheres birraciais, é claro ..

— E por gostarmos de outras mulheres também — Marina completa e vejo a troca de olhares das duas. Dura por uma fração de segundo, mas é mais do que suficiente para o clima ficar silencioso e pesado, algo estava acontecendo ali. Resolvo fazer a boa ação do dia e entro no cômodo quebrando o gelo.

— Ruby ! —Marina sorri sem graça, me cumprimentando com alívio.

— Como foi a consulta ? — Pergunto e Jasmin levanta o braço, me mostrando que estava livre do gesso.

— Se ela parar de ter hábitos horríveis quem sabe não melhora até o evento — Minha amiga cospe novamente contra a outra que estala a língua pronta para revidar mas intervenho.

— Certo, certo. Estou exausta então vou subir —Falo por fim, pronta para sair e deixar que elas briguem em paz. Mas a antiga hospede se volta para mim.

— Você estava com ela ? — Quase me sobressalto, como exatamente ela sabia disso, estava tão óbvio assim? Ou apenas me conhece tão bem que consegue enxergar o descontentamento por tras da fachada.

— Como sabe ?

— Não está cheirando a álcool o suficiente para ter vindo do bar e seus olhos... Parecem tristes.

Pisco em dúvida do que responder para a mulher que me encarava sem piedade. Jasmin não parecia falar mal, não. Seu tom era sério, não pegajoso. Mas isso me deixa em um nível um pouco pior. Saber que Sofia ainda mexe comigo de uma forma devastadora é uma coisa, agora os outros também perceberam isso, agora que não estamos mais juntas, afundava um pouco meu ego.

— Talvez seja a última vez.

— Por que ? Já desistiu, Rose — dessa vez seus olhos escuros me espetam. Mas sorrio sem querer uma discussão.

Sofia (Romance Lésbico)Where stories live. Discover now