Closed eyes

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Ruby

Olhos fechados

Eu repetia enquanto sentia os flashes sobre mim. Cada passo um deles aparecia, me tocavam empurrando suas câmeras pesadas sobre mim enquanto eu tentava apenas continuar em pé, sem me deixar desabar ali mesmo. Andando sempre em frente sem nunca chegar até onde seus corpos gelados repousavam.

Olhos fechados.

E os cliques batiam cada vez mais fortes na minha cabeça. Suas vozes interrompendo meus pensamentos, com perguntas que eu não tinha respostas. Até finalmente a capela chegar. Silêncio. Me obrigo a entrar no lugar que eu mais odiava, mas o alívio me consome, o oposto do que era. Ali estava longe daqueles parasitas que me perseguiam por todos os cantos. Mantenho os olhos fechados, ainda conseguindo os enxergar na escuridão.

Mas não começou assim.

Na verdade eu a conheci antes de tudo isso. Durante o colegial. Ruby Rose, a filha única, herdeira de uma herança que ela não sabia nem o que significava. Ser uma adolescente diferente das outras era torturante o suficiente para ela entender qualquer outra coisa, já que mal conseguia compreender a si mesma. Odiava tudo que representava e principalmente, odiava aquele colégio, aquelas pessoas.

Brigas a perseguiam o tempo todo. Todos os dias socava, empurrava ou chutava algum garoto que a tirasse do sério, e todos eles amavam fazer isso.

— Mais uma vez senhorita Rosé? — A secretaria empurra os óculos redondos para cima. Enquanto eu apenas suspiro.
— Seus pais estão a caminho.

A velha se volta para dentro da sala me deixando apodrecer naquela cadeira que meu corpo já conhecia bem.

Provavelmente eles olhariam com os mesmos olhos decepcionados, eu pediria desculpas, talvez até chorasse um pouco e tudo se repetiria de novo.

— Foi um belo soco. — Uma voz corta o silêncio dos meus pensamentos. Me viro. Vejo uma garota que não tinha visto antes.

Ela te encara tão profundamente que você sente vergonha.

— Mas isso aqui está bem feio. — Ela estende a mão comprida tocando meu rosto.

Você se assusta e ela sorri, gostando da sua reação.

— Desculpa te deixei sem jeito.

— Não gosto que me toquem.

— Ah, sendo assim sinto muito. — Mais uma vez seus olhos a perfuram. — Eu sou Jasmin.

— Eu sei. — Todo mundo sabia quem era Jasmin, a representante do Grêmio, aluna número um, porta voz da escola. Popular e boa em tudo que se pode imaginar. Seu corpo se afunda mais na cadeira.

— O seu também não parece nada mal. — Aponto para o corte no seu lábio inferior.

— É.. também recebi um belo soco. — Seu sorriso é alegre demais para seus olhos em confusão. — Então até a próxima senhorita Rose— Ela diz ao ser chamada pela secretaria.

Como explicar que depois disso, tudo mudou. Tudo nela mudou. Jasmin parecia se instalar na sua vida com a facilidade de um quebra cabeça se encaixando em outro. Ela não se odiava quando estava com ela, na verdade em sua presença ela sentia que nunca seria capaz de odiar nada novamente. Ficaram tão próximas que era impossível negar o sentimento que ia se formando. Lentamente crescendo dentro do seu corpo, tirando seu sono e consumindo seus pensamentos.

— Para de se mexer — Ela reclama com a tesoura entre os dedos.

— Eu estou parada é sua mão que está tremendo.

Sofia (Romance Lésbico)Where stories live. Discover now