Maioridade

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Há barulho em algum lugar.

Um barulho alto e extremamente estridente, fazendo os ouvidos de Osamu doerem com a intensidade que eles penetram no fundo de seus tímpanos. Ele não consegue identificar com clareza a origem ou o que são exatamente aqueles ruídos. É como ouvir uma mistura bizarra de pessoas falando, gritando, suspirando e assobiando ao mesmo tempo; todas em diversos tons de voz que se juntam e formam um ruído alto.

Não é apenas o barulho que chama a atenção de Osamu, mas o cheiro também. Tendo um nariz apurado para qualquer coisa que envolvesse comida, Osamu consegue sentir uma mistura de cheiros que, embora enjoativas, conseguem chamar a atenção de seu estômago. O cheiro de óleo, sal e coisas doces impregnam o ar e se misturam com os ruídos. Há um cheiro mais predominante, um cheiro que Osamu conhece extremamente bem.

Cheiro de arroz, carnes e peixes. Um cheiro familiar que o remete uma sensação calorosa de finalmente estar em casa, de finalmente pertencer a algo que ele não sabia que pertencia até conhecer a sensação.

Osamu sente que, embora com todos aqueles ruídos e cheiros todos misturados, lhe dá um estranho pressentimento de familiaridade. Como se tudo aquilo de repente desaparecesse, Osamu sentiria um vazio difícil de explicar. É como se tudo aquilo fizesse parte de quem ele era como um ser humano.

Ele não conseguia ver nada, sua visão estava obstruída por uma grande escuridão, não lhe dando espaço para descobrir a origem daqueles barulhos ou cheiros. A única coisa que Osamu conseguia fazer era sentir seu corpo imovel enquanto era sugado por uma espiral de sensações familiares.

"Osamu-san?"

Uma voz nítida no meio de todo aquele barulho fala com ele. Também é familiar, embora nenhum nome ou rosto venha à mente de Osamu enquanto as sílabas são finalizadas em sua fala. É uma voz feminina, tão alta quanto as outras vozes, mas menos distantes do que elas também. O tom utilizado é de dúvida, mas ainda sim, respeitoso.

Quem o chamaria daquela maneira? Algum professor? Algum colega de classe ou time que não tinha um vínculo com ele, mas ainda sim o respeitavam? Algum colega da faculdade que não gostava de se envolver com outra pessoa? Não poderia ser. Nenhuma dessas pessoas lhe causavam a sensação familiar que Osamu sentia naquele momento apenas por ouvir seu nome.

Era como se Osamu tivesse ouvido várias e várias vezes aquela mesma pessoa o chamando, fazendo-o se acostumar com o tom de voz a ponto de distingui-lo de pessoas comuns.

"Osamu-san!" A voz continua a repetir o seu nome. O tom agora é bem mais alto e bem menos duvidoso, soa quase irritado por ter sido ignorado. Ouvir aquele tom de voz daquela maneira o faz ter vontade de rir. "Osamu-san. O que você está fazendo?"

"Osamu-san!" Mais uma vez. Osamu ainda tenta se lembrar a quem pertence aquela voz; sua mente continua em um completo branco, se misturando com sua visão completamente escura. As duas cores juntas formam um vórtice cinza que começa a formar pequenos redemoinhos. Os barulhos começam a ficar cada vez mais altos e os cheiros, mais fortes.

Que lugar é esse? Osamu pensa enquanto sente tudo girar, embora ele não possa ver nada. Eu sei que lugar é esse. Osamu sabe, então por que ele não consegue se lembrar? Eu conheço essa voz. Então quem é ela? Se ele sabe de tudo isso, por que ele simplesmente não consegue dizer as palavras? Está na ponta da língua.

Esse lugar é...

"Osamu-san!"

Um grito ainda mais agudo o puxa de volta para a sua realidade. Osamu sente como se fosse puxado com força para fora de uma banheira após mergulhar todo o seu corpo. Como naquela vez que Atsumu o puxou para fora da piscina após ele levar o desafio da respiração muito a sério. Osamu se sente perdido e confuso, com seus sentidos ainda adormecidos a ponto dele ter dificuldade para reconhecer o que estava acontecendo.

Wherever You Will GoWhere stories live. Discover now