Infância V

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Quando Osamu abre os olhos novamente, a única coisa que ele vê é a imagem turva de um teto branco e a sensação quente de dois cobertores em cima de si. O gêmeo pisca algumas vezes para espantar a imagem embaçada de seus olhos.

Se movendo um pouco, Osamu percebe que há outra presença ao seu lado. Ao virar-se, ele vê que Atsumu está compartilhando o pequeno espaço da cama do quarto dos dois. Se Osamu não estivesse com uma sensação exaustiva e pesada que parecia afundar seu corpo ainda mais na cama, ele teria chutado seu irmão gêmeo para longe.

Suas memórias anteriores são tão confusas que Osamu passa os próximos cinco minutos tentando se recordar do que aconteceu. Imagens de Suna e sua família dançam por sua mente; colocando-o a par de tudo que aconteceu nas últimas horas.

Certo. Eu provavelmente desmaiei de tanto chorar.

Osamu havia feito o que estava evitando desde que acordou em uma linha temporal diferente. A cena que ele havia feito era impossível de se passar despercebida. Ele provavelmente direcionou toda a atenção desnecessária que estava lutando para não receber. Provavelmente seus familiares estavam assustados com o que tiveram de presenciar.

A situação de Suna havia o chocado mais do que deveria. Esconder seus sentimentos não foi uma boa ideia. Osamu sempre foi bom em fingir que estava tudo bem, suas experiências anteriores lhe mostraram com clareza esse fato. Mas a violência que ele teve de presenciar agora era bem diferente do que ele presenciou anteriormente.

Seu corpo está rígido e todos os seus membros doem, mas Osamu se endireita com um gemido. Ele consegue sentir a garganta e o nariz completamente secos, implorando pela salvação de alguma umidade.

"Samu?" A voz grogue de Atsumu preenche o espaço silencioso, seu corpo se move ligeiramente na cama. Provavelmente tirando a rigidez do corpo ao dormir em um espaço inadequado. "Samu!"

Os olhos de seu irmão dobram de tamanho quando vê o gêmeo mais novo o encarando com olhos cansados. Atsumu não perde tempo em se levantar em uma velocidade impressionante e se enroscar em Osamu, o puxando para um abraço apertado.

Porra. Osamu pensa. Se Atsumu o estava tocando dessa maneira provavelmente seu surto o havia assustado mais do que ele pensava. A coisa toda deveria ter sido realmente feia. Foram poucas vezes em que Atsumu o havia agarrado desse jeito; tão raras que Osamu podia contar nos dedos todas as vezes.

"Tsumu." Um resmungo cansado sai de seus lábios e ele tenta se afastar do abraço do irmão. Osamu não quer mais fazer parte de um show de pena onde ele é o ator principal. "Me solta, idiota. Pare de ser estranho."

"Estranho?" Atsumu se solta apenas para o encarar. Seu olhar se torna raivoso e Osamu se encolhe nos braços do irmão. "O que diabos foi aquilo, 'Samu? Você quase matou a gente de susto gritando daquele jeito. O que aconteceu? Suna fez alguma coisa com você? Eu juro..."

"Suna não fez nada." Osamu está extremamente exausto e seu corpo implora para que ele volte para debaixo das cobertas e se perca novamente em um sono sem sonhos. "Suna não tem culpa de nada. Ele não... ele não fez nada. Deixe-o fora disso."

Suna não fez nada. A culpa é toda minha.

"Então o que foi aquilo, 'Samu?" Atsumu está tão nervoso quanto Osamu. Esse era um dos motivos que Osamu sempre o mantinha de fora quando se tratava de seus problemas mais sérios. Era impossível medir as atitudes de seu gêmeo para tentar ajudá-lo. Talvez acabassem piorando a situação. É por isso que Osamu manteve Atsumu fora de tantas coisas em sua linha do tempo original.

Osamu não quer falar a razão. Ele não quer contar tudo aquilo que Suna havia lhe confidenciado; a sensação que tinha ao somente pensar em dizer alguma coisa o fazia pensar que estava traindo Suna de alguma maneira. O antigo bloqueador do meio provavelmente não queria que Osamu contasse a mais ninguém, visto que esperou que Atsumu saísse para finalmente falar com ele.

Wherever You Will GoWhere stories live. Discover now