Infância IV

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O céu acima dos três é limpo e sem estrelas; é início da noite e Osamu estima que deve ser por volta das sete horas da noite quando eles se sentam para saborear os sorvetes que Yasu havia lhes oferecido. O sabor gelado em sua língua é bem vindo e espanta o clima quente que ronda seu corpo. Há uma brisa no ar que faz com que o sorvete fique ainda mais saboroso e fresco.

A visão do jardim cheio de flores de Natsumi faz com que o silêncio entre os três pareça confortável, sendo o único som no recinto os dos sorvetes lentamente derretendo na boca das três crianças.

Atsumu não fez nenhum comentário quando Osamu chegou com mais sorvetes, depositando dois de morango ao lado de Suna e um do mesmo sabor ao lado de Atsumu; deixando o último, de chocolate, para si mesmo.

"Então, o que acha?" Atsumu começa depois de um longo silêncio, se dirigindo para Suna.

Suna apenas olha para ele.

"Nosso jardim." Ele aponta para as flores claras escurecidas pela noite. "Foi nossa tia que plantou todas do zero."

"Oh." Suna olha para as flores sem interesse. "São legais."

"Só isso?" Atsumu faz uma careta. "Você é difícil de chamar a atenção, hein? Parece até alguém que eu conheço." Ele continua sua fala ao olhar para Osamu.

Osamu joga o palito de seu primeiro sorvete finalizado em Atsumu, mas o pequeno pedaço não chega a atingir seu objetivo.

"Saia daqui." Osamu reclama. "Você está incomodando Suna."

"Não estou fazendo nada." Ele responde inocentemente.

Osamu apenas suspira e Suna não diz nada, mas seu olhar afiado lhe diz que ele provavelmente não está pensando coisas boas relacionadas à interação dos gêmeos. O sentimento de calmaria do jantar se dissipando com a atenção dos irmãos um no outro ao invés da comida.

O silêncio volta a se instalar novamente e Osamu se vê perdido em pensamentos novamente. Seu segundo sorvete quase chegando ao fim.

Ele pensa em Suna, mesmo que o mesmo esteja ao seu lado ainda saboreando seu primeiro sorvete de morango; sua degustação é tão lenta quanto foi no jantar, sem pressa para terminar mesmo sabendo que há outros dois esperando por ele. Olhando para o antigo bloqueador do meio pelo canto do olho, Osamu consegue ver que o inchaço em seu rosto havia diminuído consideravelmente, se tornando mais suave e menos feio de se olhar.

Mas ainda está lá. E Osamu ainda não sabia a origem daquela coisa horrível no rosto pálido e misterioso do outro.

Ou eu talvez eu saiba.

A roupa de Suna ainda estava suja, mesmo com a rápida limpeza com água que o antigo bloqueador do meio havia feito para amenizar a sujeira; ele não parecia se importar, no entanto. Suna também não havia feito nenhum movimento para mudar as roupas quentes para mais frescas, mesmo com a insistência de sua mãe para que ele colocasse uma das roupas dos gêmeos.

Suna nem mesmo havia gostado da sugestão de Nagisa, parecendo mais recluso e agarrando o pano de seu moletom conforme recusava com um balançar de cabeça.

Osamu sempre odiou pensar demais ou tomar conclusões precipitadas. Mas ultimamente a única coisa que ele sabia fazer era pensar demais e tomar conclusões envolvidas por uma escuridão que ele não conseguia dissipar. Osamu não sabia de nada e não conseguia respostas para mudar essa situação.

Notando sua inquietação e seu olhar de soslaio intenso em Suna, Atsumu se levanta e limpa uma poeira inexistente em seu shorts de verão, seu olhar se concentra primeiro em Suna e depois em Osamu. Em sua mão há palitos de sorvete e embalagens.

Wherever You Will GoWhere stories live. Discover now