Infância III

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Está quente, mas Osamu sente sua pele ondular com choques frios. O suor acumulado durante a brincadeira com a bola de vôlei está começando a esfriar e a grudar em sua pele levemente pegajosa.

Mesmo com todos esses detalhes relacionados ao clima e reações corporais, Osamu sabe que não é o suor causando a sensação de frio que insiste em rastejar por toda a sua pele.

É o que ele viu. É o que sua mente ainda está tentando processar.

A mão de Atsumu ainda está em seu ombro, um aperto forte e inseguro; um aperto que não combina com seu irmão gêmeo. A perturbação de duas almas dança pelas linhas invisíveis do ar.

Osamu ainda não consegue processar a cena de Suna sendo levado para onde quer que seja. Osamu ainda não consegue processar a visão do rosto infantil de Suna se contorcendo para diversas expressões que se assemelham ao puro terror.

Aqui, Suna é apenas uma criança. Uma criança sendo tirada de um ambiente calmo e tranquilo e puxada por mãos vindas diretamente de uma escuridão que Osamu sabe que será consumido se deixar seus olhos a verem por muito tempo.

O padrasto de Suna não era uma boa pessoa. Nem em sua linha do tempo original e nem mesmo na atual linha do tempo em que Osamu se encontra. A primeira vez que Osamu tinha o visto, nada de bom saía daquele homem; o desprezo que ele parecia sentir por Suna emanava por todo o ambiente. Suas palavras duras e cheias de veneno ainda estavam vivas em sua memória.

Mesmo com a versão infantilizada de Suna em sua frente, o homem não parecia diferente daquela primeira versão que Osamu conheceu. Suas palavras continuavam com o mesmo tom cruel e desprezível que ele havia oferecido aos ouvidos de Osamu alguns dias atrás.

Não apenas suas palavras, mas suas ações também.

Osamu sabia que a força que o padrasto estava colocando no braço de Suna deveria ser além do normal. A maior prova era como Suna havia se encolhido contra o toque e a mudança rápida de sua expressão.

Dor e medo.

Parte de Osamu quer se mexer e correr atrás de Suna. Quer que seus pés se movam em direção a rota que os dois usaram para irem embora; Osamu quer puxar Suna de volta para onde ele estava. Para onde ele havia esboçado um pequeno sorriso.

Um pequeno sorriso que Osamu, desta vez, poderia tentar captar com mais clareza.

Mas a outra parte de Osamu está com medo. Medo que se ele se mover pelo menos um centímetro, aquela mão se estenda em sua direção e o puxe direto para a escuridão.

Osamu é um adulto com medo de outro adulto. Com medo de salvar uma criança que em um futuro próximo não irá mais existir.

Isso faz seu peito afundar ainda mais em uma agonia silenciosa.

Há pensamentos horríveis em sua mente. Osamu não consegue encontrar algo que possa acalmar seu coração; Osamu não quer pensar nisso, ele não deveria pensar nisso. Era uma das poucas horas que o gêmeo havia conseguido relaxar com tudo que estava acontecendo.

Tudo o leva para o sofrimento de Suna e as feridas escondidas por trás daquele rosto assustado. Tudo o leva para a mancha esquisita em sua cintura.

Pode ou não pode ser?

"Samu." A mão de Atsumu de algum jeito se aperta ainda mais na carne de seu ombro. Talvez os dedos de Atsumu estejam brancos com a força que ele coloca em seus dígitos. O chamado de seu irmão o faz virar levemente em sua direção.

Atsumu não tem uma boa expressão em seu rosto rejuvenescido. Osamu não tem memórias de ver seu irmão gêmeo com uma expressão tão contorcida de pânico.

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