Capítulo 48: Acordo de Sangue.

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—O que você está falando? Eu vi ele morrer. —Ela se afastou das minhas mãos e me encarou assustada, como se eu tivesse contando a pior das mentiras. Meu peito se apertou por um segundo.

—Halley, era uma ilusão. As bruxas fizeram você acreditar que ele estava morto. Mas ele não está. —Afirmei e tentei me aproximar dela, o suficiente para segurar suas mãos, enquanto ela arregalava os olhos. —Atlas está vivo. Ele... —Eu abri a boca e fiquei em silêncio, sem saber o que dizer. Olhei para Aaron, tentando pedir uma ajuda silenciosa.

—Halley? —Ele se colocou de pé e ela o encarou, confusa e receosa. —Vamos contar a você. —Aaron olhou pra mim. —Desde o início.

E quando Halley se sentou na cama, encolhida contra a cabeceira e embaixo das cobertas, Aaron começou a contar a sua parte da história. Cada detalhe triste e cruel que nos fez chegar até ali. E então chegou a minha vez. A parte de contar meu lado assassino e de certa forma, tive receio do que ela acharia da pessoa que eu me tornei. Halley ouviu tudo, sem perguntar ou comentar nada. E mesmo ela ficando em silêncio, eu sabia que ela estava prestando atenção em cada detalhe que falávamos. Aaron, eu, Atlas, as bruxas, Andalor e até mesmo a parte da história que a envolvia.

—Vocês vão atrás dele agora? —Ela indagou por fim, depois de alguns segundos em silêncio, me deixando completamente ansiosa.

—Ainda não discutimos os próximos passos, Halley. Mas nós pretendemos ajudá-lo, sim. —Afirmei e ela assentiu e então olhou pelo quarto, como se Atlas fosse algum fantasma pairando por ali.

—Ele não queria que o ajudássemos antes de você. Atlas se tornou algo poderoso demais, temido pelas bruxas. Se o soltássemos primeiro, por mais tentador que fosse, poderíamos nunca mais encontrá-la, já que as bruxas se sentiriam ameaçadas. —Aaron comentou, fazendo com que os olhos de Halley se voltassem para ele.

—Acham que ele está aqui? —Eu olhei de relance para Aaron.

—Talvez. Atlas costuma xeretar na minha mente para ver o que está acontecendo envolta. —Dei um sorriso sem graça o que a fez erguer as sobrancelhas.

Halley não disse nada, mas parecia estar pensando no fato. Ela abaixou o rosto e suas bochechas ficaram vermelhas, o que me fez pensar que Atlas estava falando com ela, ou talvez ela apenas estivesse pensando no fato de ele poder entrar na cabeça dela quando quisesse

[...]

Abri os olhos quando senti alguém acariciar meus cabelos. Aaron estava sentado do meu lado da cama, deslizando os dedos pelos meus cabelos até minha bochecha. Halley estava deitada ao meu lado, dormindo tranquilamente. Ela não quis sair do quarto aquela noite. Não quis conhecer os outros. Ela ainda parecia hesitante sobre o fato de estar dividindo uma casa com vários estranhos.

—Bom dia. —Falei, abrindo um sorriso para Aaron e ele se abaixou para deixar um beijo nos meus lábios.

—Tem uma visita pra você. —Aaron se colocou de pé, estendendo a mão pra mim. Fiquei confusa por alguns segundos, mas me levantei com cuidado para não acordar Halley. Aaron me ajudou a trocar de roupa e me acompanhou até o início da escada, onde eu já pude ouvir a voz de Isaac.

—Ícaro, querido, você está muito estressado. Talvez Oli devesse preparar um chazinho de maracujá pra você. Dizem que acalma. —Cantarolou, com uma provocação evidente.

—Você não consegue responder uma simples pergunta sem contar a história da minha família toda? —Mackenzie resmungou, se sentando no sofá de forma emburrada. Olhei envolta, vendo que Olívia estava sentada ao lado dele, com uma expressão de quem queria rir.

—Porque facilitar as coisas, se irritar você é tão agradável? —Isaac perguntou retoricamente e Mackenzie bufou em resposta.

Eris e Lorck não estavam a vista, mas Amaris e Nico estavam do outro lado da sala, olhando para o jardim pela janela parcialmente aberta. Mas na verdade, eu sabia que a atenção dos dois estava na criatura no meio da sala. Ele se virou para mim, a aparência de Halley não me surpreendendo mais.

—Olá, Holly, querida. —Isaac exibiu um sorriso repleto de dentes afiados. —Ainda com raiva de mim? Ah, não precisa responder, eu sei que está. —Ele gesticulou com a mão, mostrando que não estava preocupado com o fato, enquanto eu parava no último degrau. —Mas não vamos querer estragar nossa amizade de anos, certo?

—Vocês dois se conhecem a meses. —Mackenzie retrucou.

—O que são meses para alguém que tem a eternidade pela frente? —Isaac deu de ombros. —Afinal, quem está contando, não é mesmo?

—O que você quer? —Questionei, ignorando o assunto sem sentindo que ele discutia com Mackenzie.

—Eu achei que deveria vir em um horário que sua irmã estivesse dormindo. Não queria assusta-la afinal. —Isaac flutuou pela casa, evitando o sol que entrava pelas janelas abertas. —Vim aqui ajudar vocês. Achei que iam querer algumas informações.

—Vai falar sem precisarmos perguntar? Essa é nova. —Olívia soltou uma risada e balançou a cabeça negativamente.

—Ora, eu sou tão ruim assim? —Isaac fingiu estar ofendido e se voltou para mim de novo. —Acho incrível o fato de vocês simplesmente ignorem o Acordo de Sangue.

—Não estamos ignorando. Ele que nos certifica que as bruxas não vai pisar em Castelly. —Foi Amaris que respondeu, como se Isaac tivesse falado alguma coisa muito idiota.

—É só isso? —Isaac indagou e olhou para todos nós. —O acordo de sangue é só isso?

—Aonde você quer chegar? —Aaron questionou, parando atrás de mim.

—Ora, crianças, vamos ligar os pontos. —Isaac voltou a flutuar pela casa. —O acordo de sangue foi feito a muitos anos, para acabar com a guerra. As bruxas deixariam Castelly para sempre e não poderiam mais pisar naquele mundo, já os feéricos perderiam seus poderes.

—Nos conhecemos o acordo. Eu por exemplo, estava lá quando foi criado. —Nico declarou, ignorando a fala de Isaac.

—Você tinha poderes? —Olivia perguntou curiosa e todos nós olhamos para Nico, vendo aqueles longos cabelos ruivos caindo em ondas sobre os ombros dele. —Tinha?

—Sim, eu tinha. —Nico voltou a olhar para a janela, e para os jardins do lado de fora. —Mas isso não vem ao caso agora. A maioria dos feéricos tinha e perdeu.

—Na verdade vem ao caso, sim. —Isaac rebateu. —Porque as bruxas estavam tão interessadas em matar o rei e não simplesmente quebrar o acordo? Porque matar o rei, colocaria fim ao acordo e tudo ligado a ele. Elas poderiam pisar em Castelly, mas os feéricos não retornariam com os seus poderes, porque o acordo estava ligado a linhagem dos Carter.

—Então... —Olhei para Isaac, entendo o ponto que ele queria chegar. —Quebrando o acordo de sangue traríamos as bruxas para o nosso território. Mas também, devolveríamos os poderes dos feéricos.

—Exato! A visão do futuro da bruxa não mostrava vocês quebrando o acordo diretamente. Mas mostrava você renascendo como uma feérica com poderes. A primeira depois de séculos. —Isaac prosseguiu. —Se quebrar o acordo agora, terá uma vantagem muito maior na guerra que se aproxima.

—Onde está o acordo? —Amaris questionou, olhando para Aaron ansiosa.

—Depois do festival da lua, com o ataque do rei dos superiores, eu mandei encantar o acordo. Ele ainda está nos meus aposentos. Mas só os ligados a ele podem encontrá-lo. —Aaron explicou e então olhou pra mim. —A rainha bruxa não pode entrar lá, então apenas nos dois podemos encontrá-lo.

—Então temos outro reino a invadir? —Mackenzie soltou uma risada. —Porque isso não me surpreende?

—Mais alguma coisa? —Indaguei Isaac e ele olhou para escada acima de mim. —Alguma coisa com Halley?

—Ah, não. —Isaac se afastou, exibindo um sorriso travesso. —Esta tudo mais do que certo. E, Ícaro, querido? —Isaac se aproximou do sofá aonde Mackenzie estava. O mesmo apenas ergueu os olhos sérios para a criatura de sorriso fácil. —Sobre a sua pergunta, confie nas sombras. Ela não costumam mentir, não é?



Continua...

Reino de Sombras e Ascensão / Vol. 2Onde histórias criam vida. Descubra agora