Capítulo 38: Estrelas.

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Halley

Forcei a ponta da pedra contra a parece da cela, tentando formar algumas estrelas. Ou algo que se parecesse com algumas delas. Mas a pedra de esfarelava toda vez que eu a apertava contra a parede. Suspirei, deixando ela se desfazer por completo na minha mão. O farelo caiu no chão da cela e se juntou com o restante da sujeita daquele lugar.

—Estrelas. —Sussurrei, tocando com a ponta dos dedos os desenhos que consegui fazer. Me encolhi contra o chão frio e fiquei ouvindo o barulho das goteiras que caiam na torre. Havia uma chuva fraca lá fora, umedecendo tudo que tocava.

Ergui os olhos para a pequena janela quadricular na parede, que revelava o céu nublado. O vento causava um assobio pelos corredores e paredes de pedra. Me virei para a janela e fiquei encolhida no chão, quando ouvi passos apressados pelo corredor.

—Ratinha! —A rainha grunhiu e eu afundei o rosto nos meus joelhos. —O que está fazendo aí no chão? Se levante e olhe pra mim! —Comecei a pensar no céu estrelado. Depois pensei em Holly e como ela era uma irmã destemida e protetora. —Sua humana imunda! Nem sua irmã se dignou a vir atrás de você. Ela já sabe que está aqui e não veio atrás de você. —Fechei os olhos com força. Ela estava apenas tentando me provocar para que eu olhasse e falasse com ela. Só isso. —Ninguém quer você, ratinha. Seus pais não te quiseram. Aquele moleque também não quis e sua irmã muito menos.

Ergui a cabeça e olhei para o céu nublado por entre as grades da janela. Eu sabia que nenhum deles havia me abandonado. Meus pais tentaram me proteger quando fizeram aquilo. Holly sempre cuidou de mim e Atlas... Atlas não teve escolha. Talvez se ele estivesse vivo as coisas poderiam ser diferentes. Uma lágrima solitária deslizou pela minha bochecha quando eu me lembrei de Atlas e todas as vezes que ele tentou me confortar nesse lugar. Eu nunca disse a ele o quanto o amava, mas tenho quase certeza que ele sabia.

Meu peito se encheu de um sentimento diferente e eu soltei um suspiro de surpresa. Havia uma sensação diferente envolta de mim, como se Atlas estivesse ali, olhando pra mim e me tocando. Sorri por um segundo e escondi meu rosto nos meus joelhos de novo, deixando as lágrimas caírem.

—Ah, está chorando, típico! —A rainha resmungou e eu balancei a cabeça negativamente. —Humanos são frágeis demais. Emotivos demais. Nojentos demais!

Soltei um soluço e espalmei minhas mãos no chão, sentindo a torre tremer e um rugido preencher o ar. Arregalei os olhos e olhei para a janela, vendo a sombra de grandes asas batendo contra o vento.

—Majestade, ela está aqui! —Me virei, vendo um bruxo parar ao lado da rainha, enquanto ela olhava pra mim com um sorriso radiante que me dava até calafrios. —Senhora... —Me coloquei de pé, me escorando na parede e vendo a expressão de medo do bruxo. —Ela possui um dragão também.

—Como é? —O sorriso da rainha morreu e o rugido deu lugar a um barulho de sinos tocando. Eu comecei ouvir gritos e ordens sendo dadas pelos corredores do castelo.

—Holly Orion está aqui, vossa majestade. —Meu peito deu um salto ao ouvir aquilo. —E está voando em um dragão.

A rainha bruxa sumiu da frente da cela como uma sombra, que eu mal vi se afastar. Peguei o banquinho e coloquei embaixo da janela, subindo nele e agarrando as grades para poder ver lá fora. O ar foi preenchido por mais rugidos e eu vi uma língua de fogo que saia de um dragão e ia em direção a outro.

Holly estava ali por mim. A verdade me fez voltar a chorar, só que agora, de alegria.



Continua...

Reino de Sombras e Ascensão / Vol. 2Kde žijí příběhy. Začni objevovat