Capítulo 19: Correntes.

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A. Ingram

Andalor, Terras humanas.
13 anos antes...

Eu estava assustado. Estava confuso. Minha mãe estava correndo e me puxando junto a ela pelas ruas lamacentas das terras humanas. Eu não olhei para trás quando os gritos começaram. Continue acompanhado ela até o início da floresta.

—Vamos, filho. Precisamos ir rápido. —Em um ato repentino ela me pegou no colo e começou a correr mais rápido. Olhei para a cidade atrás de nós e vi os inúmeros seres de orelhas pontudas que estavam invadindo e prendendo as pessoas.

—O que eles estão fazendo, mãe? Porque estão pretendendo as pessoas? —Questionei, mas não recebi nenhuma resposta dela. Ela continuou correndo pela floresta até eu não poder ver mais a cidade, apenas ouvir os gritos.

—Rápido! Ele já está esperando. —Ouvi a voz do meu pai e olhei para frente, vendo ele vir em nossa direção. Havia um rio passando pelo meio da floresta e um homem em um barco esperando ali. Minha mãe me colocou no chão e se abaixou, segurando meu rosto entre as mãos.

—Nos vamos precisar nos separar agora, está bem? —Seus olhos se encheram de lágrimas e eu senti o medo tomar conta de mim.

—Porque? É por causa daqueles feéricos? —Indaguei e ela assentiu com a cabeça. —Mas eu não quero me separar de vocês. Quero ficar aqui.

—Mas você não pode, amor. Precisa ir. Prometo a você que vamos nos ver de novo. —Ela me abraçou, beijando meu rosto várias vezes e o deixando molhado com suas lágrimas. —Eu amo você. Muito, muito, muito!

—Ei, filho. —Ela se afastou e eu ergui os olhos para o meu pai, antes de ele me pegar no colo e me abraçar também.

—Porque precisamos nos separar? Eu quero ficar com vocês. —Afirmei e ele beijou minha bochecha.

—Eu sei. Mas eu e sua mãe fizemos uma cosia muito, muito ruim. Estamos arrependidos agora, mas não tem mais volta. Agora precisamos arcar com o que fizemos. —Ele tentou explicar. —Mas vai ficar tudo bem. Você vai para um lugar legal cheio de outras crianças.

—E depois a gente vai buscar você, amor. —Minha mãe completou. Meu pai deixou outro beijo na minha bochecha e me colocou no chão. —A gente te ama. Nunca esqueça disso, está bem? Só queríamos um lugar melhor para você viver.

Minha mãe deixou outro beijo molhado na minha testa e se afastou, segurando a mão do meu pai. Observei os dois pararem no início da floresta, até o homem me pegar no colo e me levar para o barco. Os dois sorriram para mim e minha mãe murmurou uma última coisa.

Quando o homem me soltou dentro do barco, percebi que haviam mais duas crianças ali. Elas estavam encolhidas, chorando em um dos cantos. Me sentei e abracei meus próprios joelhos, vendo o homem empurrar o barco pela correnteza do rio.

Olhei para trás com a intenção de ver meus pais uma última vez, antes de o barco se afastar e eu os perder de vista. Mas meus olhos encontraram apenas duas figuras penduradas por cordas em um dos galhos de uma árvore.

Eu pisquei algumas vezes, com o horror que me invadiu. Eles nunca voltariam para me buscar. Era apenas uma mentira para me confortar. Eles não voltariam por mim porque escolheram morrer.

Localização desconhecida.
8 anos depois...

—Me soltem! —Grunhi. Me debati, tentando me soltar daquelas mãos que me arrastavam por aqueles corredores de pedra. —Parem!

—Fique de boca fechada, garoto. Isso vai ser rápido. —A bruxa resmungou, puxando meu braço com certa força. Gemi de dor ao sentir meus joelhos se chocarem contra o chão, quando elas me soltaram de forma brusca. —Humanos são frágeis demais.

Reino de Sombras e Ascensão / Vol. 2Onde histórias criam vida. Descubra agora