Vitória

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Como é difícil ter que voltar pra cá.
Como é difícil achar que tudo que eu fiz até agora foi em vão.
Como é difícil a incerteza do amanhã.

Como vou saber se Jean vai me ajudar depois do que eu fiz a ele?
Eu vi no fundo dos seus olhos a decepção, eu vi a tristeza e vi o amor.

A carta.
Eu sei que ele vai ler, e se ele não ler a  Amélia vai.
Um dia antes de ir embora eu escrevi aquela carta. Parecia que eu estava sentindo que o dia de voltar pra esse inferno chegaria.
Mais a culpa foi minha.
Eu fiz aquela ligação.
Eu tive a ação que gerou uma reação.
Agora cabia a mim fazer os esforços necessários pra sair daqui de novo.
É como uma cadeia.
É como um sanatório.
Quando você se vê preso a essas coisas você vive pra tentar sair. E quando você encontra saída uma vez, mesmo que nunca de certo, você sempre vai tentar de novo e de novo.

Eu divagava em pensamentos enquanto almoçava, a pouca comida que eu tinha na marmita.
No dia seguinte em que voltei procurei emprego de novo na lanchonete em que eu trabalhei, por ser boa no que fazia e por saber o que eu passava, foi me dado o emprego de novo. Eu não estava aqui pela necessidade de trabalhar, eu queria que o Augusto se fudesse, e sua mãe também, eu queria trabalhar pra não ficar em casa convivendo mais tempo do que eu gostaria com aqueles dois.
Eu criei um vínculo com alicia nesses dias, não que a gente já não tivesse, mais eu fortaleci, ela me contou que augusto apanhou de um pessoal não faz muito tempo, segundo ela, ele pegou o que não devia de quem não devia.

Em um dia em que eu não tinha trabalho eu o segui com o celular velho que eu tinha, celular que ele tirou o chip porque segundo ele eu não precisaria ligar pra ninguém, porque eu só tinha a ele.
Não mesmo.
Eu só precisava da câmera, filho da puta.

Levei Alicia comigo, disse a Vera que iríamos andar um pouco pra espairecer.
Vera não desconfiava de nada.
E Alicia se divertia. Com 13 anos ela já sabia a diferença entre certo e errado, e eu não pouparia esforços pra continuar mostrando isso a ela.

Chegamos em um lugar cheio de árvores e uma estrada em que dois carros faziam uma troca de caixas.
Estávamos a pé, augusto tinha saído com a maldita moto, e seguimos o caminho que provavelmente ele teria tomado, graças a Deus, chegamos beirando o matagal, não ouvimos a conversa que teve a respeito daquelas caixas, mais  chegamos a tempo de tirar algumas fotos.
Fomos embora depois de poucas fotos porque não podíamos demorar e nem ficar ali por muito tempo.

Na volta Alicia me perguntou:

- você sente saudades do moço que te ajudou não é?

Eu não mentiria.

- sinto saudades de todos, mais principalmente dele.

- você gosta dele? Como um namorado?

- não. Eu o amo, como o homem da minha vida.

- ele te trata bem? Melhor do que o meu irmão?

- ele me trata como todo homem deveria tratar uma mulher, com amor.

- um dia quero conhecer ele. - isso era novo, eu estava ganhando a confiança dela e pelo visto sem ao menos o conhecer, Jean também estava.

- nós vamos, assim que resolvermos essa situação.

Eu precisava continuar o assunto.

- se um dia eu fosse embora de novo, você viria me visitar? Ou ficaria comigo?.

- eu tenho que ficar pra cuidar da minha mãe se ela não for presa também.

Como assim?
O que eu não estava sabendo?

- porque você acha que sua mãe poderia ser presa também?

- porque ela sabe mais do que aparenta.

- você quer falar sobre isso comigo?

Abrigo SeguroOnde as histórias ganham vida. Descobre agora