04- vitória

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Todos já tinham ido dormir e eu estava deitada no chão da sala em um colchão improvisado que dona vera ajeitou pra mim antes de ir tentar dormir como ela mesma disse.

Minha cabeça não parava, eu pensava em todas as maneiras possíveis de ir embora dali e na medida que meu corpo todo doía eu sentia mais vontade de ir.

Eu nunca pude fazer uma denuncia. Gusto ameaçava que se eu contasse pra alguém eu morreria, sua mãe me aconselhava a não fazer também e sempre quando eu apanhava e ficava alguma marca eu tentava esconder de alguma forma pra ninguém perceber.

Na rua os vizinhos ouviam o que acontecia em casa e quando eu saia era observada por todos mais ninguém nunca me perguntou nada ou tentou me ajudar.
Mas dessa vez Gusto foi longe demais.
Como eu esconderia na quarta quando fosse pro trabalho um par de olhos roxos, um supercílio cortado e marcas por todo o meu corpo. Fora que tudo doía e eu não conseguia nem andar direito como iria trabalhar?
Sentia muitas dores abdominais por causa dos chutes na barriga, doía e parecia estar inchada.

Eu precisava fazer algo.
Eu precisava sair daqui.

Mais pra onde eu iria?
O que eu poderia fazer?
Aqui na cidade todo mundo sabe o que acontece aqui e ninguém nunca ajudou, onde eu buscaria ajuda?

Morávamos em um bairro simples e bem perto da saída da cidade.
Os pontos comerciais perto da minha casa eram uma padaria, uma borracharia e uma casa de ração. Os fornecedores da casa de ração e da padaria eram da região.
Mas perai.
Eu estava vendo uma luz no fim do túnel afinal de contas.

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Eram 23:15 quando deitada e com muito sono por causa dos remédios eu ouvi um barulho e constatei a hora no relógio da sala.
Ouvi resmungos e percebi que era Gusto.
Fingi estar dormindo e o senti perto de mim.

- eu sei que está acordada vitória.

Abri os olhos porque ele era esperto e eu sei que não poderia fingir ou mentir pra ele.
Ele se agachou perto do colchão, pegou meu pescoço e apertou.

- eu sabia que era você quem estava roubando meu dinheiro, porque de repente depois que eu te bati, ele apareceu em outro lugar.

- eu estava inconsciente Gusto eu não coloquei ou peguei dinheiro seu de lugar nenhum.

Ele apertou com mais força o meu pescoço e começou ficar difícil respirar.

- não tente nunca mais mentir pra mim, ou bancar a esperta, você é tão estúpida que não consegue fazer isso. Se eu te pegar mentindo de novo eu te mato.

O pânico nos meus olhos o fez rir.

- isso vitória é esse olhar que eu quero ver, de medo, de respeito, de submissão.

Gusto soltou meu pescoço e saiu de perto de mim com seu bafo de cachaça.
Eu voltei a respirar, passava a mão no meu pescoço e mesmo respirando normalmente eu sentia que deus dedos ainda estavam ali me sufocando.

Chega.
Era hora de por meu plano em prática.

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Eu via as horas passando no relógio e tentava lutar pra não dormir.
Eram 2:45 da manhã quando eu comecei a tentar levantar. Com muito custo eu consegui e comecei a me guiar pela casa mesmo sem acender as luzes. Estava calor em Cantaí então as janelas gradeadas ficavam abertas pra ventilar a casa e por isso a luz da lua clareava a casa.

Tudo doia.
Estou tirando forças de onde não tenho pra poder me locomover.
Não queria sair pela porta da frente de casa que era a porta da sala onde eu estava, então fui para a cozinha.
A porta estava trancada mais a chave ficava em cima da geladeira. Peguei a chave e com calma abri a porta, com todo cuidado para não fazer barulho.

Minha casa não tinha muros ou portão então eu fui andando normalmente até a esquina, com tudo doendo. Quando cheguei na esquina vi um conhecido de Gusto saindo bêbado de uma casa, ele me  viu, não sei se me reconheceu mais aquilo me apavorou. Quando virei a esquina inspirei fundo juntando forças e comecei a correr como conseguia.

A poucos metros de mim eu via a borracharia que ficava na beira da estrada e um caminhão sem carga fazia a troca de um pneu, por sorte minha essa borracharia era 24 horas, meu plano daria certo.
Era esse caminhão que me levaria pra longe daqui.
Dei a volta por trás pra não ser vista pelo borracheiro e comecei tentar subir na cacamba do caminhão. Eu tinha que fazer força e estava difícil e quando consegui pegar impulso pra subir meu abdômen foi apoiado na caçamba e eu gemi de dor.
O borracheiro parou o que estava fazendo, mais continuou alguns segundos depois quando percebeu que ali perto o dono do caminhão fazia sexo com uma mulher no pé de uma árvore no escuro. Aos fundos da borracharia tinha uma casa de mulheres da vida e por isso aqui além de virem para concertar pneus aproveitavam para transar também.

E ainda sentindo dores pelo meu corpo todo eu fiquei de cócoras e esperei a conversa acabar e a movimentação do caminhão começar, e quando percebi que ele já estava em movimento, enfim adormeci. Não sei se por causa dos remédios, por causa da dor, ou porque me senti aliviada e podia enfim descansar.

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Ela conseguiu amores, ela fugiu 👏👏👏👏
Vai Vitória, vai buscar sua liberdade
Estamos torcendo por você.

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