Vitória

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Todos os dias são iguais.
Eu acordo, trabalho fora, trabalho em casa, sou mal tratada mais mesmo assim eu não consigo mudar minha realidade. Sinto que minha vida é um grande ciclo de merdas que parece que só acontecem comigo.

Trabalho como faxineira em uma lanchonete que fica a 10 minutos de casa a Grandão burguer e quando chego em casa trabalho mais pouco pra deixar tudo em ordem. O que me leva a acreditar que minha vida é uma sucessão de merdas não é o trabalho em si, é o tanto que eu me esforço e ainda assim, não consigo ser boa o suficiente pro meu marido.

Moro a quatro anos com Augusto, meu marido, Vera, sua mãe e Alicia sua irmãzinha de 13 anos.
Augusto sempre foi muito sério e ciumento. Com 28 anos e eu 21 eu achava que tinha encontrado o amor da minha vida quando decidi que queria ficar com ele, mais me arrependo até hoje.
Augusto nunca teve paciência com nenhum de nós na casa, além de serio e ciumento, ele bebe e ainda é violento.

Viver com Augusto não é fácil. Meu marido tem sérios problemas com álcool então quando não é uma coisa é outra e isso faz com que eu não tenha um dia de paz. Chega em casa todos os dias alterado e desconta em mim, na mãe e na irmã dele.

De onde ele chega?
Do trabalho?
Não sabemos!
Faz algum tempo que ele perdeu o trabalho numa metalúrgica e está nesse novo trabalho que ele nunca se deu o trabalho de contar pra sua família sobre o que é.

O dinheiro que entra é muito pouco, sua irmã é uma criança que está entrando na fase de adolescente, sua mãe não conseguiu se aposentar e tem sérios problemas na coluna, varizes pelas pernas e diabetes o que a impede de fazer tarefas domésticas e trabalhar fora.

Então somos quatro pessoas numa casa, uma que trabalha como faxineira e ganha pouco no caso eu e uma que trabalha e ganha bem menos e ninguem sabe o que faz, nem da vida e nem com o dinheiro, no caso Gusto, como eu o chamo.

Trabalhar como faxineira três vezes na semana me rende muito pouco por mês e eu queria trabalhar mais vezes na semana como antigamente, mais eu perdi os outros dois lugares que eu trabalhava por causa de Augusto que em um dos lugares atacou meu patrão de 62 anos de idade por ciúmes e no outro quebrou uma moto chutando ela por achar que quando estava bebendo no bar me viu passando em cima de uma moto.
Óbvio que não era eu, mais como explicar pra alguém bêbado e violento que ele está errado sem apanhar por isso?

Não tenho família.
Eu fui criada com Izilda minha avó que faleceu a 4 anos atrás quando eu tinha 17 anos e logo me casei pra não viver sozinha porque era menor de idade, era isso ou ir pra algum orfanato da região porque aqui em Cantaí não tinha. A ideia de não ter pra onde correr me fez aceitar o primeiro homem que me ofereceu algum tipo de afeto.

A cidade de Cantaí que tem cerca de cinco mil habitantes é bem simples e pequena e ela toda conhece a nossa família.
Quando saio para trabalhar percebo vários olhos curiosos pelo meu corpo, como se quisessem saber porquê de fato cada dia ele tem uma marca diferente.

Sobre Gusto ser violento, no começo eu achava que era stress por causa do trabalho mais depois eu percebi que ele era violento mesmo, era da sua natureza. Sua mãe dizia que quando pequeno ele teve vários problemas de saúde, tomou muitos remédios e isso de alguma forma interferiu na mente dele, porque ele tem vários surtos do nada.

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