03 - vitória

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Sinto um frio na barriga, parece que vou desmaiar, nesses quatro anos que estamos juntos eu ainda sinto o mesmo pânico todas as vezes que o vejo.

- o que foi Vitória parece que não gostou da surpresa?

- você comprou uma moto. - digo constatando o fato.

- você é cega? Claro que comprei, quer dizer nós compramos.

- como assim nós compramos Gusto? Não posso gastar com isso, esqueceu que temos uma família?

Ele vem bem perto de mim me olha nos olhos de um jeito bem ameaçador. Sinto seu hálito de cachaça e isso me embrulha mais ainda o estômago.

- você não tem família, você não tem nada, nunca esqueça disso. Tudo o que você acha que tem é meu e voce só vive comigo porque eu tenho pena de você, então trabalhe, mas trabalhe muito porque você tem muito o que me recompensar por ter aceitado cuidar de você.

Eu abaixo a minha cabeca e apenas concordo. É a melhor maneira de não me machucar física ou psicologicamente.

- o que você trouxe de bom hoje pra comer?

-arroz feijão e carne de panela. - abro a marmita pra que ele veja, porque se eu não abro ele mesmo o faz.

- tudo isso de mistura? Por isso mesmo que você tem que trabalhar bastante, come igual um pedreiro.

Minha marmita não era grande e eu sempre pegava bem pouco pra não deixar ninguém sem mistura em casa.
Por conta disso eu estava muito magra.

Estava pensando sobre isso. Sempre fui muito responsavel, sempre tentei cuidar de todos, principalmente da minha sogra e da minha cunhadinha, amava muito elas e me esforçava por elas. Por várias vezes em que Gusto me humilhava ou batia, dona Vera tentava me defender, mais não dava certo. O medo que tinha do próprio filho era maior do que a coragem de me defender.

- eu chamaria você pra dar uma volta na moto mais você vai trabalhar já né?

Na verdade não ia, eu tinha uma hora e 15 de almoço e tinha acabado de sair, mas eu não estava afim de sair de moto pra passear como se fossemos um casal feliz

- tenho sim, mais tarde quem sabe.

- beleza Vi, vai trabalhar vai, e fala pro seu chefe que ele precisa melhorar a aparência dos lanches, parece que pegaram todos os ingredientes e jogaram no saquinho do lanche, uma bagunça.

Ele não era cliente, não era nem amigo do seu Maurício mais toda vez que vinha aqui ele fazia isso, criticava, e isso já estava irritando meu chefe, e eu ainda precisava falar com ele sobre isso antes que eu perdesse mais esse emprego por causa dele.

Nos despedimos sem beijo, sem abraço, sem desejar um bom dia de trabalho, sem nenhum tipo de cortesia.

Entrei pra dentro da lanchonete, estava começando o horário de pico que geralmente era de meio dia até às duas da tarde, e então fui comer e descansar um pouco até dar o meu horário e eu voltar limpando o restante do lugar.

As 17 eu saí e fui pra casa.
Quando estava a poucos metros da minha casa ouvia um choro de criança e barulho de coisas sendo quebradas. Me dei conta de que era em casa e sai correndo na direção da mesma.

Os barulhos foram ficando mais altos e me deparei com Gusto batendo porta de armário e fuçando em todos os lugares como se procurasse alguma coisa. Tinha louças quebradas no chão, sofá arrastado, nosso quarto estava cheio de roupas espalhadas por todo lado.

- o que está acontecendo aqui vera?

- Gusto está procurando um dinheiro que ele disse que estava aqui. - disse apontando pra uma caixinha no guarda roupa do nosso quarto.

Abrigo SeguroWhere stories live. Discover now