18 - Eda

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— Achei que iria te encontrar aqui — Serkan diz, fazendo eu me virar para trás em um pulo — mas imaginei que estaria com mais roupas no corpo, Estrelinha.

Coloco a mão no peito, como se isso fosse suavizar as batidas do meu coração.

Parece que o órgão vai sair de dentro de mim, penso. Não esperava que alguém viesse até esse lugar, por isso a surpresa foi tão grande. Mal escutei o carro dele se aproximando da fazenda, entretida em meu trabalho. Também não posso ignorar que boa parte do susto deve ser porque sinto que estou fazendo algo errado.

E isso não faz sentido, digo para mim mesma. Estou em minha fazenda, trabalhando.

Não importa que evitei informar esse detalhe para Serkan, importa? Ele foi para o Cosmos trabalhar; eu, para casa. Não preciso dizer todos os meus passos para esse homem só porque tecnicamente sou sua hóspede. Estou ficando louca sem fazer nada nos últimos dias. Estou trabalhando em uma ideia que tive para a confeitaria de Melo, mas preciso me concentrar em minha própria casa.

— Achei que você não me imaginasse vestida — digo a ele, um pouco incerta.

A verdade é que estou fazendo um grande negócio sobre termos dormido na mesma cama alguns dias atrás. Não somente isso, me lembro. Contei coisas sobre mim para ele que evito até pensar.

Por que fiz uma coisa dessas? Ele quer tomar minha casa! Estou aqui hoje, não só porque preciso urgentemente cuidar do lugar e tenho negligenciado minhas coisas, mas também porque preciso focar no que realmente importa. Essa fazenda é tudo o que me sobrou e estou atrasada demais em minha reforma.

Serkan me lança um sorriso, antes de se aproximar e retirar a foice de minhas mãos — nunca pensei que iria segurar uma dessas, mas também nunca pensei que iria ter que capinar.

O sol bate em seu rosto, iluminando as linhas em sua testa e cada detalhe de seus olhos.

— Quando te imagino sem roupas, você está na minha cama... geralmente, na verdade — Serkan replica lentamente com aquele sorrisinho no canto da boca, e um arrepio passa por minha espinha — às vezes gosto de pensar em lugares mais exóticos.

Não sei como responder.

Dormimos juntos, minha mente ruge. E acordei assim, com um de seus braços ao meu redor e seu rosto em meu pescoço. Estávamos abraçados, minha mão em suas costas.

— Serkan... — Será que dá para notar como a minha respiração está instável?

— Mas roupas apropriadas são necessárias quando as pessoas vão roçar, Estrelinha — ele continua, seu tom ficando desaprovador. — Acessórios de proteção, também. E você não está usando nem um deles.

Abafo um suspiro.

Estou de calça, com uma blusa fina que não faz muito para me cobrir e com um tênis. Posso não estar usando acessórios de proteção, mas estou sendo cuidadosa. Deveria estar brava por ele se meter em meus assuntos, mas só consigo pensar... por que ele não parece tão afetado por aquela noite como eu?

Balanço a cabeça e foco no presente:

— Estou aparando o mato, com muito cuidado. — Tento recuperar minha foice, mas não vou muito longe.

Serkan afasta o negócio, se atentando para a foice. Vou para o lado e tropeço ao sentir minha perna fraquejar. Talvez seja pelo esforço do dia, penso. Limpei o galinheiro e estou há mais de duas horas no sol, capinando. Tive algumas pausas, mas quis ser rápida e me forcei demais. Estava com a esperança de que voltaria para a casa de Serkan sem ele perceber que saí.

Sem Honra | EdserWhere stories live. Discover now