8 - Eda

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No primeiro dia, tentei esquecer.

No segundo, dei uma leve fraquejada e... liguei para o número que Serkan me deixou, por pura e completa curiosidade.

A raiva que sentia por ele foi esquecida em um minuto de fraqueza e fiz o que qualquer pessoa curiosa faria em casos como esse.

Liguei.

A espera foi estranha e cheia de rancor, afinal, o patife me abandonou com sua família - que, atualmente, ainda acredita que eu me casarei com ele - sem explicações. Sem instruções!

O restante daquele dia foi tão, tão constrangedor. Tive que manter as aparências com a ajuda de uma Piril possessa.

Aparentemente, o cretino saiu cedo sem avisar nem mesmo para a irmã.

Simplesmente desapareceu.

Bem, pelo menos ela recebeu uma mensagem dele pela manhã, informando que estava bem e que teve que lidar com assuntos urgentes. Piril não ficou nada contente, as desculpas dele não foram recebidas com compreensão. Agora, nós duas formamos o clubezinho de ódio ao Serkan.

Fiquei de coração partido ao ver os familiares dele recebendo a notícia de sua fuga. Foi chato e... estranho. Todos ficaram tristes, o que eu já esperava. O que me deixou com uma pulga atrás da orelha foi a resignação que preencheu o ar. É como se eles sentissem que mereceram essa desfeita.

Apesar de toda a confusão e raiva, terminei meu trabalho e fui para casa. Os hóspedes foram embora primeiro e, na nossa despedida, quase chorei quando muitos deles pediram meu contato e insistiram em outros encontros.

Agora, recebo mensagens diárias. As duas senhoras mais velhas da família me mandam figurinhas de bom dia sempre e eu não sei o que fazer. Não quero continuar mentindo.

Essa foi uma das desculpas que decidi usar para ligar para o número desconhecido. Uma parte de mim esperava que fosse o contato dele. Precisava tanto gritar com alguém e é mil vezes mais fácil falar com Serkan sem estar vergonhosamente distraída por seu corpo.

Enquanto a ligação não completava, eu fervilhava por dentro com curiosidade, raiva e uma dose de excitação.

Foi um choque ser atendida por uma voz feminina e doce quando estava pronta para xingar Serkan de nomes muito feios. Quando percebi o que estava acontecendo, no entanto, os insultos sumiram:

O canalha me deu o número de Derya - uma senhora no fim dos seus sessenta anos, dona de uma pequena casa perto da fazenda de Serkan e minha mais nova empregadora.

Sim, ele arrumou um trabalho para mim.

E não qualquer um.

Para começar, não é temporário. Isso já significa muito para alguém que tem se humilhado para conseguir apenas trabalhos ruins. É uma segurança que não posso me dar ao luxo de perder. Como só serei paga no fim do mês, já estou correndo atrás desses bicos de qualquer forma. Entretanto, vou me permitir um pouquinho de felicidade.

Outro grande fator para esse emprego ser perfeito é que minha única tarefa é cozinhar para Derya Hanim e realizar alguma coisinha aqui e ali dentro da casa enquanto a limpeza semanal não acontece.

Posso seguir minha verdadeira vocação e nada é mais gratificante do que isso. Faço o café da manhã e o almoço em horários específicos. O jantar é diferente, já deixo a comida pronta para a noite e vou embora às duas da tarde. Derya Hanim é um amor e... extremamente imprevisível. É justamente por isso que, agora, estamos na porta da padaria mais famosa da cidade e a senhora está ao meu lado, dizendo:

Sem Honra | EdserWhere stories live. Discover now