5 - Eda

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— Devagar, Estrelinha — Serkan murmura — não quero que você engasgue. 

Coloco outro pedaço de carne na boca, ignorando-o. 

Meu noivo falso, esse canalha, comprime os lábios para não rir, ele sabe que estou me entupindo de comida para fugir das perguntas de seus familiares. Após mastigar, gesticulo com o garfo em minhas mãos e, encarando as pessoas na mesa, minto mais uma vez: 

— Como eu ia dizendo... — digo. — Serkan é muito romântico. 

Um dos tios ri e a esposa dele o cutuca. Com força. 

— Não posso acreditar que ele propôs desse jeito! Não sabia que você era tão doce e sensível, Serkan! — a mulher exclama, deliciada. 

Reparo que a maior parte dos parentes do meu noivo está olhando para ele como se nunca tivesse o visto antes. Noto também que Serkan parece querer me esganar. Faço careta, um pouco desconfortável. Talvez eu tenha exagerado um pouco nessa proposta que inventei, mas... Afinal, o que mais eu poderia fazer? Aparentemente, quando o viúvo da família com menor chance de casar novamente (segundo sua irmã) diz que uma mulher que ninguém conhece é sua noiva, a curiosidade toma conta das pessoas. 

Só estou dando o que o povo quer! 

Assim que a família dele viu que eu me recuperei do desmaio, todos perderam o controle. Fizeram fila para me abraçar e, em um determinado momento, senti que ia ser ovacionada. Eles foram mais do que amigáveis e estão genuinamente felizes por esse noivado... retraio-me em minha cadeira, remorso rastejando em minhas veias. 

Eles vão esquecer de você, Eda. Faça sua parte, pegue o dinheiro e vá embora!

Respiro fundo, empurrando a culpa para longe. 

— Ele é doce, sim — digo, meu lábio entortando com a mentira. 

— Meu irmão só não costuma demonstrar essa doçura toda — Piril, irmã de Serkan, diz rindo.

Todos começam a conversar sobre as demonstrações de amor do homem tenso ao meu lado, dando-me um tempinho de paz. Piril se esforça para não rir com tudo isso. Imediatamente, gosto dela. O problema nessa farsa é que gosto de todos. Eles são muito simpáticos e bem animados: estão celebrando o noivado com um churrasco no quintal, felizes demais. Deve ser por isso que me sinto tão culpada. Aproveitando que a família está distraída, inclino-me para perto do mentiroso que acarretou tudo isso e respondo-o por fim: 

— "Não quero que você engasgue"? 

— Só estou sendo atencioso com a minha noiva. — Ele abre um sorriso apertado. Ele está tão irritado, noto. Gosto disso. 

— Você já tentou me deixar sozinha com seus parentes várias vezes desde que sentamos aqui. Isso é ser atencioso, também? — indago em um tom sarcástico. Sua respiração bate em meu ouvido: 

— Achei que estivesse gostando da minha família. 

Pauso, sentindo-me culpada. E um pouco intrigada com a sua proximidade. Uma coisa que aprendemos é que quanto mais próximos ficamos, menos somos abordados pelas pessoas. É estranho saber que, para ter paz, preciso ficar colada em Serkan. 

No corpo perfeito, trincado e cheiroso de Serkan, especificamente. 

Foco, Eda!

— Gosto deles — falo baixinho. — Só que a desonestidade não vem tão facilmente para mim quanto para você... 

É difícil conversar com todo mundo quando só digo mentiras. Olho em volta, para os casais dançando no quintal e para os velhinhos comendo em nossa mesa. Eles são adoráveis. 

Sem Honra | EdserWhere stories live. Discover now