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Shiganshina não se parecia em nada com a bagunça que era da primeira vez que a vi. Não haviam prédios em chamas nem entulho espalhado pela cidade, que agora era reerguida das próprias ruínas pelas pessoas que decidiram voltar quando a muralha Maria foi totalmente recuperada. Os dias haviam passado depressa e conseguimos convencer o Comandante responsável pela Divisão de Guarnição, Pixis, a nos apoiar. Ele estaria do nosso lado essa tarde, quando fosse feito um pedido oficial à Rainha em pessoa para colocar em prática o plano de restaurar o Império Eldiano com os poderes do Titã Fundador.

A viagem até a cidade havia sido agradável, apenas na companhia de Erwin e Hange. Entretanto, todo o sossego e o precioso silêncio havia acabado quando Zeke, transferido de seu exílio no interior para Shiganshina por questões de segurança, e o Capitão Levi se juntaram a nós. O loiro parece acabado e cansado apesar de não calar a boca nem por um instante. O Capitão e Erwin parecem não se incomodar com o falatório, mas a voz de Zeke parece perfurar meus ouvidos como agulhas, fazendo que minha irritação seja crescente. Ainda é difícil para mim estar no mesmo ambiente que ele, ainda mais um cubículo tão restrito como o interior daquela carruagem.

Desnecessária, na minha opinião. Hange nos acompanhava com Mike e Mikasa do lado de fora e por um instante, desejei estar lá com elas, cavalgando em paz apenas observando o movimento da cidade. Cerro meus dentes perdendo a paciência para ficar escutando Zeke tagarelar e aperto a mão de Erwin com força, o que o faz desviar o olhar da pequena janela para mim.

- Será que você não consegue ficar quieto? - Pergunto brava a Zeke, que para de súbito e me encara espantado quando me dirijo a ele.

O vejo cerrar os punhos e os dentes, e penso que ele está com raiva por ser repreendido até que veja o canto esquerdo de seus lábios tremerem por um instante, assim como a sua voz, que sai em um fio em seguida:

- Você parece com ela.

- O quê? Do que está falando? - O questiono, franzindo o cenho. Levi e Erwin agora prestam atenção na conversa também.

- Nossa mãe, Amarie. Ela...

- Cale a boca. - Chispo para ele antes que possa continuar e agradeço internamente por ele ter obedecido.

Com um movimento brusco, a carruagem para e posso ver do lado de fora o pátio extenso do quartel general, assim como os policiais postados nas entradas aos montes. Não precisava pensar muito para saber que tem pessoas importantes lá dentro nos esperando. Respiro fundo tento acalmar meus pensamentos. Não faço ideia de como posso os convencer de comprar uma guerra daquele tamanho, mas ao menos eu deveria tentar.

- Nós vamos primeiro, precisamos falar com Nile também. - Erwin diz para mim e se despede com um beijo sutil em meu rosto. - Talvez por algum milagre a Polícia fique do nosso lado também.

- Está bem, vejo você depois. - O respondo tímida e me viro para Levi quando ele aponta para Zeke antes de sair.

- Ele não vai tentar nada acorrentado assim, mas fique de olho nele.

Apenas assento e os observo atravessar o pátio acompanhados de Hange e Mike. Os outros haviam ficado próximos. Há vários sobretudos verde musgo espalhados por ali e entre alguns deles posso reconhecer meus companheiros, me sentindo aliviada quase de imediato. Um silêncio desconfortável cai sobre mim e Zeke e o encaro de soslaio, percebendo que ele tem os olhos fixos a mim.

Nunca foi um grande interesse saber de onde haviam vindo meus pais biológicos, afinal, eles me abandonaram. Entretanto só estou viva por ter o mesmo sangue que eles e penso comigo mesma que em breve Zeke não estaria vivo para que eu pudesse lhe perguntar sobre qualquer coisa acerca de nossos pais. É um estorvo saber que sou sua irmã e ter de ficar ali com ele, mas ao mesmo tempo que nunca tive interesse, pelo menos uma pergunta eu precisava fazer, aquela que me assombrou desde quando eu era só mais uma criança assustada no orfanato.

Lionheart I Erwin SmithWhere stories live. Discover now