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Abro os olhos desnorteada e um pouco tonta, erguendo o tronco enquanto tento me situar e lembrar onde estou. O som metálico das chaves que viaja do fim do corredor até mim em um eco serve como um lembrete sutil de que estou presa. Já são três dias ao todo, desde que chegamos ao tal distrito de Trost. Meu peito revira assim que me lembro de que Lina também não está ali, embora eu fique aliviada por isso quando os gritos provenientes da sala de tortura quase ao lado enche as celas, causando um arrepio desagradável em minha espinha.

Começo a pensar se fugir de Zeke havia sido de fato a escolha mais inteligente que havia feito, assim como ter ficado para ajudar o tal Comandante Erwin. O homem tem uma aura de liderança emanando de si a todo tempo, que dispensa o uso de sua patente quando qualquer um vai se referir a ele. Ele havia impedido mais de uma vez que seu Capitão me agredisse desde que cheguei aqui. O baixinho está crente de que estou mentindo e nada parece mudar sua mente, o que faz com que eu tenha ainda mais medo dele, embora o ache ligeiramente engraçado.

Me levanto com certa dificuldade, endireitando as roupas e penteando os fios longos do meu cabelo com os dedos, desfazendo os nós frouxos que se formaram durante o sono, caminhando até a pequena pia do outro lado do cubículo, onde uma jarra com água jaz ao lado de um copo de metal.

- Estou horrível. - Murmuro para mim mesma, evitando meu próprio reflexo no espelho enquanto levo o copo até a boca. Penso que Olivia acharia aquelas olheiras inadmissíveis, assim como a cicatriz à mostra em meu rosto.

Balanço a cabeça, evitando voltar a pensar nela ou em Robert e me ocupando em questionar se a garota, Sasha, está cumprindo sua promessa de manter Lina a salvo.

- Não vou ficar longe dela. - Insisto outra vez, segurando a mão de Lina com firmeza. A menina se agarra mais ao meu braço, como se temesse ser levada embora outra vez.

- Não vamos prender uma criança. - A mulher mais velha ao lado de Erwin, Hange, esfrega as têmporas impaciente. - Ela vai ficar bem.

- Como podem me garantir? Não sabem nem o que vai acontecer comigo! - Retruco.

- Eu garanto. - Sasha sai de trás de seus superiores, encarando Lina com um sorriso no rosto e esticando uma mão para ela. - Afinal nós duas já somos amigas, não é mesmo?

A garotinha se recolhe um pouco mais ao meu lado, mas logo em seguida olha para cima buscando a aprovação para ir com a outra. Cerro o maxilar e apenas assento devagar, sabendo que não ganharia muito argumentando com eles por mais tempo. Sinto meu peito se contrair quando deixo de sentir a mão pequena entre meus dedos e Sasha começa a levar para longe, antes de se virar para mim novamente:

- Prometo que ela vai ficar segura.

Sinto uma ponta de remorso pela confiança que reverbera pelo meu corpo em relação àquela garota. Não é prudente da minha parte, entretanto, não posso fazer muito além disso no momento. Sou tirada dos meus pensamentos pelos passos que parecem vir em minha direção, a luz fraca de uma lamparina iluminando melhor o lado de fora, revelando as duas figuras que me encaram do outro lado das grades.

- Bom dia, Amarie. - A voz de Erwin ecoa pelo cubículo. - Precisamos conversar.

- Onde a minha irmã está? - A pergunta dispara de meus lábios antes que eu a contenha.

- Ela está bem, aqui no quartel. - Ele responde. Em seguida, as chaves são giradas e o portão da cela é aberto, mas ele permanece parado. - Posso?

Apenas concordo com um aceno de cabeça, recuando novamente até a pequena cama e me sentando sobre o colchão fino, o observando com atenção enquanto puxa a cadeira de madeira do corredor e se senta de frente para mim. Ter outra pessoa aqui dentro faz com que a cela pareça ainda menor. Engulo a seco ignorando o breve desconforto e permaneço em silêncio enquanto Erwin tira algo parecido com um pedaço de papel do bolso da jaqueta. Não posso ver o conteúdo, mas há algumas palavras rabiscadas na parte de trás.

Lionheart I Erwin SmithOnde as histórias ganham vida. Descobre agora