4. Assuntos engasgados

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Era por volta das nove e meia da noite, quando Santana terminou seu árduo turno de sábado e foi esperar pela carona do ex-namorado nos fundos do Breadstix, como de costume. Passara boa parte de seu dia pensando na "boa samaritana" que havia aparecido de manhã por ali, e, pela primeira vez em semanas, deixou as ponderações sobre a gravidez um pouquinho de lado em razão disso. Bom, digamos que é meio difícil ignorar uma fulana brotando na sua frente para se desculpar por outra pessoa e ainda por cima entregando à você certo envelope com mais dinheiro do que a quantia que tinha perdido um dia antes para, sabe, o reembolso da conhecida dela. Parecia uma piada. Afinal, qual era a daquela mulher? Até agora a latina não conseguia entender.

De qualquer forma, Santana não pararia de pensar nisso tão cedo. O que, por sinal, a gerava um misto de dúvidas, irritação e estresse, porque querendo ou não, continuava a lembrando da ocorrência nada agradável do dia anterior. Mas, agora sua cabeça já estava em outro lugar outra vez... Só mais duas provas para o fim daquele semestre da faculdade. Só mais duas provas para as férias de verão. Só mais duas provas até o trancamento de seu curso... Detalhe o qual é importante lembrar que ela ainda não falara para ninguém, porque a partir do momento em que abrisse a boca para contar: seria real, e o tanto que isso a deixava triste era inenarrável. Mesmo assim, tinha fé que daria tudo certo. Tinha que dar. Não existia um plano B.

Sebastian chegou aos fundos do restaurante e Santana foi de encontro ao carro dele, apressada. Entrou na lata-velha sem qualquer cerimônia, e simplesmente ligou o rádio na primeira estação que achou. Qualquer coisa que encontrasse para se distrair estava valendo, mesmo que fosse um jingle sobre cereais matinais, coisa que claramente não tinha sua atenção. Nada exterior tinha... Por enquanto. O Smythe riu, dando partida no carro, e resolveu se manifestar perante à quietude da morena. O jingle ecoando de fundo.

— Bom te ver também, San... Como foi o dia?

— O mesmo de sempre. — Ela respondeu mecanicamente, com os olhos perdidos além da janela. — E o seu?

— Também. Então, eu tava pensando aqui... Quer jantar lá em casa hoje?

— Não, obrigada.

Sebastian olhou para o banco passageiro, curioso com o pouco caso na voz da morena. Estava distante. Mais pensativa que o normal, o cenho levemente franzido. Algo a incomodava, visivelmente. Logo, a atenção dele retornou ao trânsito adiante, e o rapaz se arriscou a descobrir o motivo. Porventura, conseguisse melhorar o humor da garota.

— Aconteceu alguma coisa de novo?

— Não... É só que eu... Decidi trancar o próximo semestre da faculdade.

— Sério?

Santana assentiu e mordeu o lábio inferior, ponderando sobre o assunto. Os olhos sempre na janela, sentia-a mais confortável para falar desse jeito. Pelo menos sobre aquilo.

— Eu não queria, mas é a única opção. Não vou conseguir conciliar tudo isso. Meus pais tinham razão em certo ponto... — Ela sentiu uma lágrima escorrer bochecha abaixo e limpou-a, se contendo. Não iria chorar de novo. Não iria. — Enfim, não importa. Depois das últimas provas pretendo resolver essa parte e pegar mais horas no Breadstix.

— Sinto muito, San. Se tivesse algum jeito de te ajudar...

— Tá tudo bem, Sebastian. Você já faz o possível. Vai passar... O importante agora é o bem estar do bebê. A faculdade eu continuo quando der, não estou desistindo.

— Eu sei que não. — Ele alcançou uma mão de Santana, apertando-a de leve. Sorriu. — Você é a mulher mais forte que eu conheço, nosso bebê tem muita sorte de te ter como mãe.

Nós - BrittanaWhere stories live. Discover now