A luta final (parte dois)

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O rapaz sentiu algo duro perfurar suas costas e abriu os olhos, notando o movimento do céu. Sem compreender o que estava acontecendo, virou-se com dificuldade e percebeu que se encontrava sobre um grande lagarto preto.

— Aaron, você veio — Mael abraçou o corpo escamoso, entristecido por lembrar o real motivo daquela forma. — Você não pode matar o Lestrígone. Seu pai sabia o que iria acontecer. Ele fez isso por você. Pelo reino. Não culpe a criatura.

O dragão rugiu, lançando a bola de fogo em direção ao gigante. Seu movimento fora brusco o suficiente para que Mael o segurasse com mais força, temendo cair no chão. O vendo batia com força contra o rosto do rapaz, refletindo a potência da raiva do bater de asas refletida nas írises vermelhas. A sede de vingança era incalculável.

— Pare com isso! Você não é assim! Ele também é uma criatura do reino, lembra? Como todas as outras. É da natureza dele, você sabe disso! O Aaron que conheço protegeria todos desse reino! — apertou levemente as escamas. — Por favor... não faça isso. Não se machuque mais.

Gotas transbordaram dos olhos de Mael, deslizando pelas escamas negras do réptil. O garoto não reconhecia mais a alma daquele dragão. Não era o Aaron que conhecia. Sabia que se aquele homem despertasse após o momento de raiva e visse isso, se decepcionaria consigo mesmo por não ter se controlado - e o rapaz não queria isso. Não suportaria vê-lo se culpando.

Mael apenas queria vê-lo feliz e orgulhoso assim como ele próprio tinha do guerreiro. Queria livrar a dor do peito do príncipe e ser o seu suporte como ele é consigo. Ser o motivo de arrancar risadas e segredos pelo laço de confiança que tinham. Queria ser o seu escudo e a sua espada. Estar ali por ele e com ele. Ser a razão do seu relaxar e dos seus temores. Alguém importante dentro do seu coração intocável tal como o seu amado. Uma pessoa especial.

— Faça o que puder pra voltar pra mim, Aaron.

As escamas negras desgrudaram do corpo da fera como pequenos fragmentos de luzes, brotando escamas brancas com detalhes azuis. Surpreso com a transformação, os olhos topázio vagaram pelo corpo até chegar nas garras negras destacadas pela pele de cristal, reconhecendo a pata conselheira que lhe perseguia em seu subconsciente.

— Era você... esse tempo todo.

O dragão grunhiu, fazendo o jovem rir baixo. Parecia um animal indefeso, apesar de seu tamanho. Esse era o Aaron que conhecia.

— Vamos levar esse grandão pra casa.

Aaron balançou as asas com força e ganhou impulso, aumentando a velocidade.

Mael sentiu algo vibrar em sua cintura e segurou o livro, vendo-o aumentar até o tamanho original. Uma luz intensa surgiu das joias do objeto, criando uma onda de energia pelas escamas até alcançar a corrente da cauda, produzindo um lume dourado no metal semelhante ao anel que antes ocupava as mãos do guerreiro.

Com os poderes unidos, o caminho trilhado pelo dragão era marcado por pequenas partículas brilhantes que saiam do gigante anel duplo pendurado em sua cauda, acalmando o irritante gigante que lhes seguiam lentamente.

Atravessaram o mar, guiando o Lestrígone que mergulhava nas profundas águas para os acompanhar até alcançarem na ilha destinada.

— Descanse bem, senhor Lestrígone. — disse Mael.

As esferas de Mael observaram a grande criatura sonolenta deitar no mar de pequenos frutos que deram a forma de uma atraente flor, descansando na paz em desistir da comida humana até que outro ser - talvez - o desperte para iniciar uma outra guerra faminta.

A Pedra dos SonhosWhere stories live. Discover now