A terra do Ichneumon

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O homem de cabelos bagunçados pulou do galho e desamarrou o cipó em volta de seu calcanhar, dando um salto de costas para por fim tocar os pés nus no solo úmido. Entre o seu braço, um ser trêmulo pela possível queda retirou a mão do rosto, revelando as surpresas írises topázio por ter sobrevivido a tal altura.

O homem porco-espinho então soltou o corpo do homem, assistindo o impacto do jovem com certa graça.


— Por que fez isso?! — reclamou Mael, então notando onde se encontrava. — Uou! Você é um gato!

— Não sou isso aí. Sou um Ichneumon — disse o homem. — Você não é deste reino, é? Não me lembro de ter visto uma criatura como você.

— Dizem que me pareço com um elfo.

— Você não é um elfo. Aaron odeia elfos.


Mael vibrou um lado da mandíbula, sem saber como responder a aquele comentário. Ouvir isso era apenas uma comprovação do ódio que o príncipe tinha quando se encontraram, e honestamente, não desejava que aquela lâmina realmente o perfurasse.


— Em que lugar estamos? — perguntou o jovem. — Não parece com a floresta.

— Isso é porque essa é uma floresta feita apenas para nós, os Ichneumon. Aaron nunca te explicou a magia de cada lugar?

— Ele disse para eu nunca me aproximar do território dos outros.

— Típico dele. — o estranho Ichneumon riu baixo. — Mas agora você está no meu território. O que será que faço com você?


O rapaz recuou um passo, receoso pelo olhar analisador do homem. As esferas castanhas divertiam-se ao mirar a face assustada do menino, porém se distraíram ao ver o pequeno objeto retangular na lateral da cintura da criança.


— Como conseguiu isso de volta? Desapareceu de repente.

 — E-Eu não sei. Apenas estava conversando e... apareceu.

— Do nada? Por acaso você usa magia?

— Eu sou apenas uma pessoa normal. Não tenho magia nenhuma.

— Pessoa normal? — o homem gargalhou, movendo o corpo conforme o riso intensificava. — Se está com o Aaron, não pode ser uma pessoa normal.

— Por que diz isso?

— Aaron não gosta de estar acompanhado. Se você está com ele, deve ter algum motivo.

— Nós... somos amigos.

— Amigos? Aquele homem não tem amigos. Ele apenas faz tudo do jeito dele sem dizer a ninguém, e quando você finalmente pensa que o entende, ele te arranca tudo.


Mael ficou em silêncio. Estava ciente que essa conversa era muito mais profunda do que ouvia e que com certeza não era relacionado na própria relação que tinham. A relação entre o homem e o guerreiro era antiga o suficiente para deixar lacunas que sequer pensara se era correto descobrir, deixando o jovem incerto se a sua curiosidade deveria ser ouvida.


— Mas como você disse que é apenas um garoto normal... — o Ichneumon ergueu a mão para o menino. — Me dê esse livro e saia desse lugar. Não vai conseguir sobreviver aqui, ainda mais estando do lado dele.

A Pedra dos SonhosOnde as histórias ganham vida. Descobre agora