A máscara

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Mael estava sentado no colchão à espera do homem que o atendeu. O cheiro forte de álcool rondava pelas paredes brancas, atravessando as máquinas de longos cabos de borracha que ocupavam o canto do cômodo fechado. Havia uma mesa no meio da sala coberta por diversas folhas e potes com canetas dispostas ao lado do computador quente, esperando que o corpo de jaleco terminasse de digitar o teclado.


— Os exames estão aqui — o homem se aproximou do jovem, entregando-o. — Tem certeza que não sentiu nada diferente nesses últimos dias?

— Não senhor. A minha saúde está perfeita.

— E das pessoas ao seu redor? Percebeu... algo estranho?

— A que se refere?

— Um sintoma incomum como-


O médico tossiu, virando-se e colocando a mão na boca. Recuperado, mirou o jovem com certo nervosismo e disse:


— Venha comigo, por favor.


Mael revirou os olhos e se levantou da maca, saindo do consultório. Do lado de fora, o médico fez um gesto para que ele se sentasse no banco de espera e assim fez, assistindo-o ir para longe.

As írises azuis observaram o profissional da saúde andar até o faxineiro e conversar com ele brevemente em cochichos, seguindo depois em direção ao banheiro. O faxineiro, no entanto, apressou-se para entrar no consultório do médico, sendo acompanhado pelo olhar do jovem.


— Você poderia me dar licença do meu banco? — escutou.


Mael olhou para cima, arregalando os olhos ao ver o rosto conhecido.


— Professor, o que está fazendo aqui?

— Bom dia pra você também, Mael. Apenas uma consulta rotineira — olhou ao redor, à procura de alguém que não se encontrava mais. — Onde está o homem da faxina?

— No consultório, limpando.

— Já? Nem terminou de limpar o chão daqui.


As esferas castanhas viram o estudante cabisbaixo, entendendo a situação.


— Eles ainda estão pensando nisso?

— Acho que só vão parar quando descobrir que tipo de doença eu tenho.

— Você não tem uma doença.

— Como você sabe? Pode ser assintomático.

— Você fica em uma sala lotada o dia todo e ninguém sentiu nada. Não escute eles.


O jovem segurou o riso baixo.


— Um professor não deveria ensinar isso aos seus alunos.

— Não me lembro de estar na sala de aula agora — Azaias apoiou as costas na parede e olhou pelos corredores. — Onde estão os seus pais?

— Me esperando na rua atrás. Minha mãe queria olhar as lojas.

— Está tudo bem pra você ir sozinho?

— Claro. Não sou uma criança.


A Pedra dos SonhosWhere stories live. Discover now