O adolescente desamparado

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Os cílios negros se abriram, deparando-se com as largas costas nuas com uma grande cicatriz, como se algo afiado tivesse provocado aquilo. Ver isso despertou no jovem uma certa curiosidade para saber sobre o passado do homem a sua frente e a história daquela eterna marca, mas estava cansado demais para pensar a respeito.


Azaias vestiu a blusa em mãos e virou-se, percebendo as esferas azuis o encarando.


— Vá tomar banho antes de irmos pra escola.


O rapaz assentiu e olhou ao redor, sendo indicado pelo mais velho onde era o banheiro. No pequeno cômodo, banhou-se rapidamente por estar ciente que o tempo era escasso. Era a primeira vez que tomava uma ducha em outra casa que não fosse a sua, e não gostaria de piorar mais ainda a situação que se encontrava.

Após se aprontar, andou até a sala e avistou o mais velho ajeitando a papelada que separaria para levar para a escola. As esferas amarronzadas por fim perceberam a segunda presença na sala e viraram-se para o garoto, então perguntando:


— Por que essa cara? Parece até que foi pro cemitério.

— Bom, quase isso — o jovem deu um duradouro suspiro. — Só estava pensando.

— Eu fico feliz quando vejo que os jovens estão pensando na vida, mas se tratando de você, isso é preocupante.

— Isso não faz o menor sentido.

— Diga isso pra quem escuta os seus pensamentos negativos.

— É só não me ouvir mais. Sei que sou um problema.

— Viu só? — Azaias espreitou os olhos pelo aluno, notando a imóvel face melancólica. — O que houve? Teve outro pesadelo?

— Bom... digamos que sim. Dormi muito mal essa noite.

— Não me diga que é por causa do Luca de novo — os olhos castanhos viram o menino mirar um canto qualquer, despertando suas ideias sem freio. — Mael, sei que vocês dois tiveram uma história, mas o mundo gira. Isso tem que acabar. Ei.


Azaias colocou a mão no ombro do garoto esperando trazê-lo de volta para razão e o assistiu gritar de dor ao se contorcer para longe dos seus braços. Mergulhado no susto, o adulto permaneceu congelado enquanto as írises azuis o fitavam com certo receio, não conseguindo suportar meros segundos o encarando. 


— Mael, vem aqui.

— Na-Não ligue pra isso.

— Mael.

— Não está na hora de irmos pra escola?

— Venha cá Mael. Agora.

— Não!

— Mael!


O jovem correu pela casa enquanto o professor o seguia pelas paredes descascadas. A cada cavalgada, parte da tintura ia de encontro ao chão, marcando o caminho que a dupla percorria pela minúscula casa. Nessas horas o jovem reclamava por novamente ter feito uma atitude impensada, preocupando o professor. Como explicaria isso para ele? No fim, apenas era um estorvo para todos.

O adulto rangeu os dentes e viu o menino se afastar ainda mais, entendo que ele não queria que a verdade fosse descoberta, dando-o ainda mais perseverança para continuar essa batalha. Com uma ideia em mente, Azaias estacionou o espaço e desviou o caminho, escondendo-se atrás da pequena cômoda que separava ambos os corpos. Ao ver que o menino estava lhe procurando, o professor saltou sobre a mesa e agarrou os braços do menino, vendo-o se contorcer para se livrar de sua presença.

A Pedra dos SonhosDove le storie prendono vita. Scoprilo ora