O lago do medo (parte 1)

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O Ichneumon soltou um prolongado suspiro enquanto mexia no galho, torcendo para que o fogo da fogueira de seu temporário acampamento continuasse aquecendo o seu corpo com as chamas.


— Estou com tédio — reclamou o homem. — Quando vamos continuar a andar?

— Primeiramente, você nem deveria estar aqui — lembrou Aaron. — Ninguém te convidou.

— Não estou aqui por você, e sim pela criaturinha que te segue. Eu já disse que estou protegendo ele de você.

— Seus cuidados não são necessários. Já pode ir.

— Vocês vão discutir o dia todo? — reclamou Azaias. — Parecem duas crianças birrentas.

— Pode levar ele para longe, e aproveite e fique por lá — disse Aaron. — Já disse que a presença de vocês não é necessária.


Mael rodeou as írises pelas órbitas e voltou a observar a rotineira discussão do seu grupo. Ainda que as palavras não fossem as das melhores, duvidava que Aaron realmente correspondesse a elas. O rapaz não sabia dizer exatamente o que, mas havia algo diferente nos olhos de âmbar que lhe diziam para não se preocupar com tais ilusões, e nesse momento, preferia acreditar em sua intuição.

Ryder mostrou a língua para o príncipe e se jogou na terra, sem se importar com a sujeira em suas costas. De repente, um grito de choramingo foi produzido por sua boca, seguindo uma reclamação:


— Precisamos de água! Ou eu vou morrer de sede.


Que drama, pensava Mael.


Mael se levantou do chão e retirou o excesso de terra em seu corpo, falando:


— Eu pego.

— Não, eu pego — disse Aaron de imediato. — Melhor não se aproximar da água, Mael.

— Por que não? Tem outro monstro lá por acaso? — o príncipe assentiu. — Já enfrentamos Ninfas e o Vodnik. Eu vou dar conta desse também, não se preocupe.

— Não é necessário — Mael tentou intervir, mas sua fala foi cortada. — Você não está precisando se banhar e muito menos está sendo atacado.

— Que bom, né? Então qual é o problema?

— Você não vai na água. — Aaron fitou os meninos e ordenou: — Cuidem dele por mim.


O rapaz observou o príncipe se afastar e voltou a se sentar no chão arenoso, bufando pela ordem que foi obrigado a acatar. Não estava feliz de fazer isso, mas o que poderia fazer? Aaron era príncipe e estava em suas terras, provavelmente havia uma razão. No fundo, Mael esperava já estar preparado para um novo ataque. Havia passado por tantas coisas nesse reino que achava que a regra estava fixa em sua mente, mas aparentemente o príncipe não estava certo disso. Mael até conseguia entendê-lo. Sempre fora salvo pelo guerreiro por sua alienação, mas isso lhe machucava.


— Parece que alguém não gostou nada de ser negado — murmurou Ryder.

— Eu não entendo ele. Nas primeiras vezes que vim aqui fui atacado pelas criaturas do rio, mas agora sei onde eles moram e que devo tomar cuidado. Por que ele não me deixa ir?

A Pedra dos SonhosWhere stories live. Discover now