O encontro em família

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Um forte odor de fumaça se espalhou, adentrando as suas narinas. O calor alcançou o interior do seu corpo, rasgando a sua garganta. Incomodado, Mael abriu a boca e tossiu com intensidade, sendo obrigado a abrir os olhos.

Sem energia, as írises azuis vagaram lentamente pelo local, visualizando a tinta descascada da parede.

Não reconhecia esse lugar.

— Finalmente acordou — escutou, logo vendo um homem jogar o celular na cama. — Ligue pros seus pais. Eles devem estar preocupados com você.

O rapaz concordou automaticamente e mirou o celular por alguns segundos, tentando processar o que estava acontecendo. O aparelho era o seu, mas para a sua infelicidade havia diversas chamadas perdidas, fazendo-o por fim perceber a gravidade do problema.

Ele pegou o telefone com as mãos fracas e telefonou para casa, logo escutando vozes conhecidas do outro lado da linha em puro desespero. Como desculpa, falou a única coisa que podia: que estava na casa de um amigo - mas como já esperava, levara uma bronca.

Ao terminar, Mael jogou a tecnologia no colchão com prazer, agradecendo mentalmente pelos gritos não estarem lhe perseguindo.

— O que aconteceu? — perguntou.

— Você foi drogado. — Azaias sugou o cigarro entre os dedos e exalou a fumaça. - Eles iam vender o seu corpo pra outra gangue.

Vender? Não...

Mael se sentou de imediato, mas murmurou de dor e tocou a têmpora, massageando-a para que a palpitação terminasse.

— Como pôde ser tão ingênuo? — novamente foi repreendido. — Ninguém agarra pessoas pra vender coisas na rua. Deveria ter ao menos suspeitado.

— Desculpa.

— Isso não basta.

O professor jogou o cigarrete no chão e pisou, girando o pé com vontade como se quisesse fazer a mesma coisa com o menino a sua frente.

— Você é praticamente um adulto, deveria saber se virar sozinho. Por que não pediu ajuda?

— Eu achei eles normais depois... da correria.

— Só por causa da roupa?

Mael segurou o lençol que o cobria, escondendo o pescoço com sutileza.

Azaias contraiu o cenho e pegou a garrafa de vidro sobre a escrivaninha, compreendendo claramente a resposta. Andou para fora do quarto e foi para a simples varanda, apoiando os cotovelos na grade gélida. Ele girou a garrafa e deixou com que o ácido corroesse a garganta, tratando de ignorar a criatura silenciosa atrás de si.

Mael fitou tristonho para baixo e acariciou a coberta de pelos sobre o seu corpo, tentando se distrair da culpa que carregava. Sabia que o professor estava irritado - e com razão. Não era a primeira vez que passava por algo semelhante, e ainda assim, deixou-se enganar pelas aparências.

Sem conseguir suportar, os seus dedos apertaram o tecido macio, fazendo-o dizer:

— Desculpe por isso. Sei que não é o suficiente, mas ainda assim... sinto muito.

O mais velho virou, tomando outro gole da cerveja.

— A sua vida é tão insignificante assim? — Azaias fechou os olhos ao perceber o que dissera, arrependido. — Esquece. Durma por enquanto.

— E você?

— Vou estar na sala caso precise. Amanhã teremos um longo dia.

Mael suspirou e se jogou no colchão novamente, sem querer dar outro motivo para discutirem. Apoiou a mão na testa e assistiu as rachaduras no teto, caminhando o olhar entre as linhas até descansarem em um sono profundo.

A Pedra dos SonhosWhere stories live. Discover now